Resumo de A CEIA DO SENHOR
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CURSO: BACHAREL EM TEOLOGIA LIVRE.
NOME: KURT VIEHMAYER RODRIGUES.
RESUMO DA DISCIPLINA O CULTO BÍBLICO.
A Bíblia nos mostra que existimos para o louvor e glória de Deus!
Sendo este um fato espiritual, é natural concluirmos que o culto está vinculado à nossa natureza. Nascemos com um "instinto cultual". Tal afirmativa é endossada pelos historiadores, antropólogos e arqueólogos.
Em todas as civilizações de todos os tempos, encontra-se presente o fenômeno chamado "culto". O culto é a expressão da fé.
É o tributo de honra, louvor e serviço àquele que se venera. Quem é "aquele"? Nesse ponto as civilizações não se entendem.
Os alvos do culto humano têm sido os mais diversos possíveis. Há quem adore o sol, a lua, as estrelas, os rios, os animais. Outros veneram o seu semelhante, vivo ou morto, ou imagens de sua própria criação. Mais longe vão os que espiritualizam o culto: adoram espíritos que são identificados por centenas ou milhares de nomes.
Em muitos povos foi constatada também a adoração a um "ser supremo", criador de todas as coisas. Provavelmente, tais pessoas tiveram algum tipo de experiência espiritual genuína.
Entretanto, é através do povo de Israel que o criador se apresentou à humanidade. Jesus disse: "Vós adorais o que não sabeis”.
“Nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus". (João 4:22). Aí está aquele que deve ser o alvo de culto de todo ser humano: o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó!
Os judeus são o nosso ponto de referência religiosa na história.
O culto a Deus está fundamentado no conhecimento que se tem dele. Na medida em que o conhecemos, o adoramos.
O verdadeiro culto é um relacionamento purificador e transformador com o Pai, o Filho e o Espírito Santo!
Jesus reafirmou o que Moisés, no Antigo Testamento, deixou claro: o primeiro mandamento exige um amor a Deus, sem limites (Dt.6:4,5). Séculos depois que Deuteronômio foi escrito, um intérprete da lei levantou esta pergunta para Jesus:
Qual é o grande mandamento da lei? Respondeu o Mestre: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento"(Mt. 22:36-37)!
No texto original de Deuteronômio, encontramos a palavra "força" em lugar de "entendimento". O texto de Marcos (12:30) transcreve ambos, "entendimento" e "força", na resposta de Jesus. O cristão, cuja mente e coração estão voltados para o Criador e Pai Eterno, percebe nestas palavras de Jesus um verdadeiro desafio, pois nelas estão a raiz, o tronco e o fruto da adoração.
Sem o incentivo do amor por Deus, o culto não passa de palha, pura "casca", isento de qualquer valor. Pode até se tornar em culto a Satanás. Uma adoração que se realiza sem o objetivo de expressar e aumentar nosso amor por aquele "de quem, e por meio de quem e para quem, são todas as coisas" (Rm.11:36), falha completamente. Deixa de ser culto a Deus, pois carece da essência, que é o amor.
O culto verdadeiro requer amor de todo o coração!
Para o hebreu, o coração, no sentido metafórico, representava o centro da vida intelectual e espiritual. Associando-se de perto com a alma, o leitor original de Deuteronômio teria pensado em seus sentimentos, suas avaliações, sua vontade, todos emanando do coração.
Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, o amor que há no coração é o alvo da busca de Deus. Ele se dirige ao coração porque ali está a sede do amor. Prof. Bruce Waltke, do Regent College, no Canadá, lembra-nos que antes de o Senhor mandar seu povo buscá-lo unicamente no lugar onde Ele estabeleceria seu nome (Dt.12), Deus, em seis capítulos antecedentes (Dt. 6-11), exorta os israelitas a darem-se a si mesmos inteiramente ao Senhor. "Circuncidai, pois, o vosso coração" (Dt. 10:16). Pois é no coração que o Todo-poderoso toca, ao fazer contato conosco, "... aquela parte do homem ... onde, em primeira instância, se decide a questão pró ou contra Deus" (Gutbrod).
Por ser o coração essencialmente espiritual, mantendo o que resta da imagem de Deus no homem caído, é possível amar àquele que não tem corpo físico e nem existe ao alcance dos nossos cinco sentidos? Evidentemente, para amarmos a Deus, precisamos crer que Ele se revelou através de palavras por Ele inspiradas (II Tim. 3:16), e uma vez recebidas pelos profetas, homens por Ele escolhidos, estes fizeram seus devidos registros.
Contudo, sua revelação não se limita à transmissão de conceitos comunicáveis por linguagem humana. Inclui atos que claramente evidenciam seu amor e paciência para com seres que têm negligenciado e ignorado as evidências do seu profundo interesse por eles. Inclui convicção criada por Deus no coração que ele decide abrir (At.16:14), para fazer brilhar a luz de sua personalidade (II Cor. 4:4,6). Resulta no reconhecimento do testemunho do Espírito Santo de Deus "com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm.8:16).
Enquanto Deus revela a si mesmo no íntimo do coração pela Palavra lida e recebida, pelo reconhecimento de sua ação no mundo e pela comunicação pessoal do Espírito residente, nós devemos responder em adoração a ele que declara e aprofunda nosso amor.
Assim Deus procura uma comunhão por meio da experiência verdadeira com cada pessoa que experimentou passar da morte para a vida (Jo.5:24), pelo sacrifício de Jesus Cristo. O novo adorador começa com um sentimento de obrigação de servir a Deus no culto; vai aprendendo a amá-lo e progride até que todo o seu coração se concentre na beleza da pessoa do Senhor: "Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico... vós com alegria tirareis água das fontes da salvação" (Is.12:2,3). Davi, no deserto de Judá, disse: "Ó Deus, tu és meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti" (Sl. 63:1). Desse modo se expressaram os que, na Antiga aliança, amavam a Deus.
O evangelho é deveras uma posição doutrinária, mas antes é um relacionamento do cristão com Deus. "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada" (Jo. 14:23). "E nós o amamos porque ele nos amou primeiro" (I Jo.4:19). Porque na realidade, "cada indivíduo dá seu coração àquilo que considera de máxima importância, e esta lealdade determina a direção e o conteúdo da sua vida".
Assim, a adoração da igreja cumprirá seu objetivo se :
-O louvor focalizar sua dignidade, a beleza da sua pessoa e a perfeição do seus caráter. Deve, ainda, convidar todo homem a atribuir glória ao Pai maravilhoso (Sl. 46:10);
-A confissão do pecado que cometemos externar o reconhecimento da nossa indignidade e declarar nosso arrependimento pela rebelião contra a expressa vontade de Deus. Também, não deixa de ser um estímulo forte de amor, confiar no seu imediato e imerecido perdão (I Jo.1:9);
-Nossa oração procurar assimilar seus pensamentos; expressar petições de acordo com seus conhecidos desejos. Amor genuíno funde os desejos dos que buscam o Reino e a vontade única de Deus;
-A mensagem, ouvido ou lida, suscitar pensamentos de gratidão e encorajamento. Serão veículos de transformação de inimigos em amigos que a ele buscarão agradar (Jo.15:14,15); e
-A música atrair o coração para a beleza de Deus revelada na criação, na redenção e na regeneração, refletindo assim a harmonia do universo, por ele criado.
O CULTO NO VELHO TESTAMENTO:
A lei judaica determinava que os israelitas servissem a Deus na vida de cada dia, observando os preceitos e as instruções; ou então, mediante o culto celebrado em lugar sagrado e em hora regulamentada. Esta segunda forma, na Bíblia e em muitos idiomas, é denominada "serviço divino".
O serviço divino foi introduzido como fruto maduro da teofania sinaítica; ao pé do monte sagrado, o grupo, transfuga do Egito e em caminho pelo deserto, experimentava pela primeira vez a sacralidade de um lugar a par com a palavra de Javé precedente da aparição de Deus, funcionando Moisés como medianeiro (Êx.19).
O CULTO PRÉ-MOSAICO:
O culto é patrimônio comum do gênero humano. Conclui-se daí com direito ser o culto fenômeno essencialmente humano de acordo também com as pesquisas da História das Religiões. Os sacrifícios descritos em Gênesis 1 a 11 representam dois tipos diferentes quanto à sua motivação. Caim e Abel ofereceram as primícias da lavoura e do rebanho, em ação de graças e para impetrar a bênção para o futuro.
Já o sacrifício de Noé teve como fundo a salvação de perigo mortal. Os sobreviventes recomeçam sua vida olhando para o Salvador a quem pertence a vida recém doada.
Os patriarcas celebraram o seu culto no seio da família nômade, em lugares improvisados, no alto de um monte, debaixo de uma árvore frondosa, junto a fonte de água. Alude-se apenas a um santuário a ser fundado futuramente (Gn.28), marcando então a transição para outra forma de vida.
Na inexistência de tempos sagrados festejavam-se certas ocasiões importantes, como a mudança das pastagens (antecipações da páscoa), o nascimento de filhos, imposição do nome à criança. O pai funcionava como intermediário, ele ou a mãe recebiam as palavras orientadoras e promissoras de Deus; o pai administrava a bênção. O sacrifício é motivado por objetivo fortuito, não por instituição regulamentada. A prece, igualmente, nasce da situação concreta (Gn.12:15,32).
O CULTO E O TEMPO. O SÁBADO E AS FESTAS:
A adoração, quando expressa em ritual, exige tempo. Sob o antigo pacto, Deus fez provisão para períodos de tempo diários, semanais, anuais e mesmo de gerações, para o cumprimento da obrigação de culto em Israel. O sacrifício diário, o descanso do sábado ou do sétimo dia, os primeiros dias do mês e as cinco festas anuais do período pré-exílico foram divinamente determinados.
O sábado, dia semanal de descanso e adoração, é um exemplo fundamental do tempo consagrado a Deus. Embora alguém tenha se referido ao sábado como uma criação singular do gênio religioso hebraico e uma das contribuições hebraicas mais valiosas à civilização da humanidade, a Bíblia simplesmente atribui a santidade do sétimo dia à lei de Deus.
Ele foi fundamentado no descanso de Deus após a criação (Gn.1:1-2,3). O quarto mandamento impõe rigidamente a sua observância. Ele foi tanto abençoado como santificado por Deus (Ex.20:11).
Apesar da cessação de toda obra, os sacerdotes continuavam o seu serviço (Lv.24:8); a circuncisão era executada; o sábado, embora sendo apenas uma observância semanal, foi incluído nas "festas fixas do Senhor" (Lv.23:1-3), "uma convocação santa", não devendo ser profanada. Quer visitando um profeta, quer participando da adoração no templo, os hebreus encarregados de tal serviço o consideravam coincidente com a santidade do sábado. Isaías desafiou os seus leitores a se desviarem dos seus próprios prazeres e "se deleitarem no Senhor" (58:13).
Durante e após o exílio, a proeminência do sábado aumentou. O surgimento da sinagoga aumentou ainda mais a centralidade da adoração no sábado (Lc.4:16).
Por ocasião das festas anuais, em Israel e em muitas outras religiões, as famílias visitavam o templo. Os vários elencos das festas, com ligeiras modificações, são os seguintes : Êx.23:14-19, 34:18-26. Originariamente festas cananéias, os israelitas as assumiram depois da sua imigração para Canaã. De acordo com o ritmo anual celebravam-se as bênçãos divinas da sementeira e da colheita. Somente a festa da Páscoa regride até a época do nomadismo, refletindo as mudanças periódicas das pastagens, embora recebendo novo conteúdo no tempo da saída do Egito (Êx.12).
As festas agrícolas de Canaã receberam uma dose de historicidade em combinação com os eventos ocorridos entre Javé e o povo.
O caso mais eloqüente de um historicização é a festa da Páscoa que se transformou em memória das origens de Israel. A páscoa lembra ainda outra evolução significativa do culto divino em Israel.
Na sua qualidade de festa pastoril, ela foi celebrada na intimidade da família; crescendo, porém, a importância do templo em Jerusalém, todos os festejos foram transferidos para lá, entre eles também a páscoa. Destruído o templo, ou talvez já um pouco antes, a celebração desta festa voltou para a família. Vê-se daí que as festas não dependiam exclusivamente do santuário.
LUGAR SAGRADO - O TEMPLO:
Na adoração do antigo Israel, o espaço sagrado era comparável em importância, aos tempos divinamente designados. Deus escolheu locais especiais para se revelar no decorrer da história vétero-testamentária. Especialmente após o êxodo e a instituição da lei, o levantamento do tabernáculo significava localizar a glória de Deus no Lugar Santo. Deus proibiu Israel de erigir altares sacrificiais em qualquer lugar onde seu nome residisse (Dt.12:5). Ali, o sangue da expiação pelos pecados da nação era aspergido, no mais solene rito anual de adoração (Lv.16). A adoração é o protocolo pelo qual se pode entrar na presença divina.
O Santo dos Santos representa o monte Sinai, onde Deus se encontrou com Moisés, dando-lhe sua palavra e mostrando-lhe a sua glória. O templo era o único local de sacrifícios, consagrações e entrega de dízimos agradável a Deus. Jesus mostrou grande respeito pelo templo, purificando-o para realçar sua santidade. Contudo, apesar da identificação do templo com a "casa do Pai", assim mesmo ele foi destinado à destruição.
Jesus declarou que um templo "não feito por mãos" estava destinado a tomar o lugar da temível grandiosidade da arquitetura herodiana (Mc.14:58). O término do templo ocorreria na associação da sua morte com a invasão romana. A ressurreição do corpo de Jesus, então , criaria um templo de uma ordem distinta para o substituir, um conceito compreensível aos discípulos depois da ressurreição apenas com a ajuda do Espírito Santo.
O caráter sagrado do templo não era absoluto, isto é, não se impunha a separação do ambiente considerado "profano", fora do lugar santo; ele era entes funcional, na sua qualidade de fonte de bênçãos para o país, retribuindo o país estas bênçãos em forma de ofertas para o culto do templo.
A santidade do templo teve a sua concretização quando os habitantes do país a ele se dirigiram, retornando às suas casas repletos do que lá haviam recebido. Este vaivém das casas para o templo e do templo para as casas perfaz um elemento essencial do culto e da sacralidade. Nas procissões e nas peregrinações, igualmente, revelava-se a consciência da santidade funcional da casa de Deus.
O SACRIFÍCIO:
Considerando que o homem é pecador, ele precisa de um sacrifício propiciatório para remover qualquer ofensa que o separe de Deus, de modo que possa ter comunhão com seu Criador.
Quatro tipos distintos de sacrifício eram prescritos:
-A oferta queimada, significando literalmente "aquilo que ascende" (Lv.1:6,8-13). Ela produzia um "sabor de satisfação" de modo que do altar, no tribunal da casa de Deus, um fogo perpétuo e o sacrifício pudessem, duas vezes por dia, "simbolizar a resposta do homem à promessa de Deus. Apenas o melhor animal, um macho sem mácula, podia ser oferecido, o que sugere a máxima devoção. A imposição de mãos retratava a identificação completa.
-A oferta de manjares era literalmente chamada uma "dádiva". Oferecida junto com a oferta queimada e a oferta pacífica, ela exigia "o sal da aliança do teu Deus" (2:13). A "porção memorial", queimada com incenso ao Senhor, tinha como objetivo trazer a aliança à lembrança de Deus. O simbolismo sugeria que Deus era o convidado de honra.
-A oferta pacífica (Lv.3:7,11-14). Seguindo um ritual preparatório idêntico àquele de quem apresentou a oferta queimada, o ofertante comia o sacrifício com alegria diante do Senhor. Não era permitido que a festa resultante durasse mais que um dia, para garantir que um número de amigos fosse incluído. Ela expressava a plenitude e o bem-estar denotados pela paz de Deus, compartilhada com sacerdotes e amigos.
-As ofertas pelo pecado e pela culpa (Lv.4:1-6,7). Distintas das três festas anteriores que eram voluntárias, estas eram exigidas quando um pecador quebrava a lei de Deus e tinha o seu relacionamento interrompido com o Criador. Os objetivos desse sacrifício eram a restauração da comunhão e o acesso à presença de Deus.
O CULTO CRISTÃO NA IGREJA PRIMITIVA:
Com efeito, quando estudamos o modo como a igreja antiga adorava, nós nos apercebemos do impacto que sua fé deve ter tido para as massas despojadas, que constituíam a maioria dos fiéis.
Desde o princípio, a igreja cristã costumava se reunir no primeiro dia da semana para "partir o pão". A razão pela qual o culto tinha lugar no primeiro dia da semana era que nesse dia se comemorava a ressurreição do Senhor.
Logo, o propósito principal do culto não era chamar os fiéis à penitência, nem fazê-los sentir o peso de seus pecados, mas celebrar a ressurreição do Senhor e as promessas das quais essa ressurreição era a garantia.
A partir de então e através de quase toda a história da igreja, a comunhão tem sido o centro do culto cristão.
E somente em época relativamente recente que algumas igrejas estabeleceram a prática de se reunir para adorar aos domingos sem celebrar a comunhão.
Além dos indícios que nos oferece o Novo Testamento e que são de todos conhecidos, sabemos acerca do modo em que os antigos cristãos celebravam a ceia do Senhor graças a uma série de documentos que perduraram até nossos dias.
A primeira delas é que a ceia do Senhor era uma celebração. O tom característico do culto era o gozo e a gratidão, e não a dor ou a compunção.
No princípio, a comunhão era celebrada em meio de uma refeição. Cada qual trazia o que podia, e depois da comida em comum, celebravam orações sobre o pão e o vinho. Já em princípios do século segundo, entretanto, e possivelmente devido, em parte, às perseguições e às calúnias que circulavam acerca das "festas de amor" dos cristãos, começou a se celebrar a comunhão sem a refeição em comum. Mas sempre se manteve o espírito de celebração dos primeiros anos.
A partir do século segundo, o culto de comunhão constava de duas partes. Na primeira liam-se e comentavam-se as Escrituras, faziam-se orações e cantavam-se hinos. A segunda parte do culto começava geralmente com o ósculo da paz.
Logo alguém trazia o pão e o vinho para frente e os apresentava a quem presidia. Em seguida, o presidente pronunciava uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam os atos salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão e o vinho.
Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a benção.
Outra característica comum do culto nesta época é que só podia participar dele quem tivesse sido batizado.
Os que vinham de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando estivessem batizados.
Outro dos costumes que aparece desde muito cedo era celebrar a ceia do Senhor nos lugares onde estavam sepultados os fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. Alguns autores dramatizaram a "igreja das catacumbas", dando a entender que estas eram lugares secretos em que os cristãos se reuniam para celebrar seus cultos escondidos das autoridades.
OS BATISMOS:
No livro de Atos, vemos que tão logo alguém se convertia era batizado. Isto era possível na primitiva comunidade cristão, onde a maioria dos conversos vinha do judaísmo, e tinha, portanto, certo preparo para compreender o alcance do Evangelho. Em geral, o batismo era ministrado uma vez ao ano, no domingo da ressurreição, ainda que logo e por diversas razões se começou a ser ministrado em outras ocasiões.
A PRÁTICA DA ADORAÇÃO:
O temor de Deus arraigado no coração do piedoso israelita, não permitia que ele desobedecesse conscientemente qualquer regrinha que regulamentava o ritual dos cultos (Dt.6:1,2). Foi Deus quem planejou a participação dos sacerdotes e levitas no culto que Ele mandou que oferecessem (Nm. 8:1 I Cr. 9:33 23:5 II Cr. 29:25, etc.) .
Numerosas pesquisas, feitas com o intuito de descobrir as diretrizes que devem reger a forma de adoração realmente neo-testamentária, criam pouca convicção além daquela formada na cabeça do estudioso. Ele descobre, geralmente, o que procura.
Tudo isto poderia levar-nos a desvalorizar a prática nos cultos da igreja primitiva. Mesmo assim, cremos que é válido examinar as indicações sobre as formas de adoração nos escritos dos apóstolos.
Após o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, a igreja de Jerusalém "perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At.2:42).
A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS:
Quando igrejas do século XX dão uma ênfase exagerada à transmissão da informação e não à sua expressão, elas promovem depressão espiritual.
Jesus convocou os seus discípulos a "discipularem todas as nações" (Mt. 28:19).
O primeiro passo foi o batismo. que representava um compromisso público, total, com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito.
Em seguida, Jesus ordenou aos apóstolos que ensinassem aos futuros discípulos da segunda geração a "guardar todas as coisas" que Ele ensinara a seus seguidores. Esses ensinos foram exemplos práticos em torno de uma nova compreensão do relacionamento com Deus.
A adoração, na prática, deve dar lugar central à palavra de Deus porque ele assim ordena. "Pregue a Palavra" (II Tm.4:2) representa a preocupação de Paulo com a igreja de Éfeso. Um homem que almeja o pastorado precisa ter uma qualidade que lhe recomende a conduzir os cristãos num culto verdadeiro. Ele deve ser apto para ensinar. Ensino requer entendimento, explicação, relacionamento entre o ouvinte e o Pai.
COMUNHÃO - A CEIA DO SENHOR:
Os crentes ficavam juntos indica que estavam juntos como família de Deus, isto é, regularmente, e tinham tudo em comum. Marshall sugere que "não seria surpreendente que pelo menos um outro grupo contemporâneo judaico, a seita de Cunrã, adotasse este modo de vida."
A adoração genuína conduz-nos à lembrança de que não somos de nós mesmos. Fomos comprados por preço infinitamente alto. Conseqüentemente, somos escravos de Deus e dos membros do Seu Corpo. Ações de graça pelo sacrifício do Filho de Deus incitam os filhos beneficiados a indagar como se desincumbir da obrigação imposta.
O pano de fundo da eucaristia cristã descobre-se na refeição da Páscoa. Esta celebração consistia de duas partes: primeira, "enquanto comiam", e segunda, "depois de cear" (I Cor.11:24).
O que Jesus insistiu originalmente era repetido como duas partes de uma refeição maior - ágape ou "festa de amor", com a intenção de beneficiar os cristão mais carentes da igreja. Esta refeição, que substituiu a Páscoa dos judeus, era tomada diária ou semanalmente.
Percebe-se pela leitura de I Cor. 11:17-22, que esta refeição era a " Ceia do Senhor", que reunia todos os membros da família de Deus, além de relembrar a morte de Jesus e a inauguração da Nova aliança, a Ceia confirmava, de maneira inconfundível, que todos os participantes tinham uma vida em comum. Ricos e pobres, livres e escravos, todos se comprometiam diante de Deus a ter e manter uma responsabilidade mútua, uns pêlos outros.
AS ORAÇÕES:
Um dos elementos que têm destaque no culto da igreja primitiva é a oração. O judeu do primeiro século dificilmente podia imaginar um culto sem orações, pelo menos na sinagoga. A importância básica das orações é notada no nome "lugar de oração" (At.16:13). Em Filipos, uma colônia romana, não havia os dez homens necessários para formar uma sinagoga, mas havia um lugar de orações, onde mulheres se reuniam.
Paulo e Silas não sentiram nenhum embaraço ao participarem desse primeiro culto "ecumênico", transformando o que antes era especificamente judaico em culto cristão. Daquele local foi feito um palco para anunciar o evangelho.
Jesus ensinou que a oração deve ser particular (Mat.6:6) e pessoal. Ele pouco falou sobre oração em comunhão com outros irmãos, com exceção da famosa afirmativa:
"Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus"(Mat.18:19), relacionada com o contexto de disciplina na igreja. Sua própria prática foi de orar sozinho, num monte ou lugar afastado (Lc.6:12).
Ainda que pensando num sentido mais geral, a oração se distingue da adoração pela preocupação do suplicante com suas necessidades, enquanto a adoração conceitua a alma sobre seu Deus. Um comentário puritano sobre o Salmo 107 dizia: "A miséria instrui maravilhosamente a pessoa na arte de orar".
Mas as orações bíblicas valorizam a comunhão com Deus. Como aparelhos complicados, projetados para uma função particular, deixamos de alcançar o objetivo de nossa existência fora da comunhão que a oração cria. Egoísmo, soberba e murmuração aniquilam a comunhão. Somos, então, como quem tenta martelar um prego com sabonete.
Orar de verdade quer dizer abandonar a rebelião e aceitar a reconciliação. Jesus quis ensinar, acerca da oração, a verdade incomparavelmente preciosa de que Deus deseja nossa comunhão. Ele nos ama mais do que um pai humano é capaz (Lc.11:11-13). Ele deseja ouvir as nossas necessidades e supri-las (Mat.7:7-11).
Amar a Deus acima de todo objeto por ele criado só pode significar que ele quer ser conhecido e desejado pelas suas criaturas.
As orações dos santos são qualificadas como o incenso que enche os vasos de ouro nas mãos dos 24 anciãos que rodeiam o trono do Senhor do universo (Apc.5:8). O altar de incenso do propiciatório simbolizava o prazer com que Deus recebia os louvores e petições do seu povo.
O CÂNTICO NO NOVO TESTAMENTO:
Encontramos poucas referências ao cântico no Novo Testamento!
Os evangelistas relatam que Jesus cantou um hino (Mat.26:30, Mac.14:26) após a celebração da Páscoa.
Paulo e Silas "cantavam louvores a Deus" na prisão em Filipos, na contundente ocasião após seu espancamento e antes do terremoto que abriu as portas da prisão.
O autor de Hebreus cita Salmo 22:22 : "Cantar-te-ei louvores no meio da congregação" (2:12).
Paulo cita o Salmo 18:49: "... cantarei louvores ao teu nome"(Rm.15:9).
O soar de vozes em louvor a Deus teve muito destaque nos cultos dos primórdios da igreja.
"Cânticos espirituais" (Cl.3:16), surgiram, provavelmente, por inspiração imediata do Espírito Santo.
W.Lock identifica tais composições como semelhantes a alguns cânticos preservados no Novo Testamento.
No Apocalipse, várias referências aos cânticos dos adoradores celestiais revelam características de exultação e júbilo na contemplação da vitória retumbante de Deus e Seu Filho sobre todas as forças do maligno.
Os "salmos" (Cl.3:16) provavelmente são os mesmos do Antigo Testamento, amados por nós e lidos em nossos cultos. Ocasionalmente cantamos porções de alguns salmos.
Nas igrejas que se reuniam nas casas, no primeiro século, o entoar de salmos deve ter sido comum, "formando parte do culto religiosos e da fraternidade cristã". Nas sinagogas, os judeus cantavam salmos, como também os essênios do Mar Morto.
Os "hinos" também, provavelmente, referem-se aos hinos de louvor a Deus e a Cristo, compostos espontaneamente por cristãos no momento do culto, ou em outras horas.
É de se esperar a priori, que um movimento que suscitou tanta emoção, lealdade e entusiasmo, encontre expressão em cântico.
Avivamentos religiosos, com o passar dos séculos, estimularam o louvor por meio da música.
As três palavras, "salmos, hinos e cânticos"(Cl.3:16), tomadas juntas, descrevem de modo global o âmbito da adoração expressa pela música e estimulada pelo Espírito.
O termo "espirituais" refere-se a todas as formas de expressão de louvor contidas nos três termos, ainda que não possamos precisar as formas exatas da expressão musical.
O CULTO E OS DONS ESPIRITUAIS:
A significação dos cultos nos quais a congregação se reunia, alcançou relevância particular na concentração de vozes, louvando e ensinando juntas, com corações sedentos, aprendendo e aplicando a palavra. Era uma ocasião apropriada para o treinamento dos santos para servirem a Deus dentro e fora das reuniões.
Os dons de apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre cooperam e fecundam no centro do culto para encorajar o bom ajustamento, o auxílio de toda junta e a cooperação de cada parte, o que "efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor"(Ef.4:16).
O CULTO NA IGREJA COMPARADO AO CULTO JUDAICO:
O cristianismo é bipolar pela sua própria natureza.
Esses dois pólos são o conteúdo da fé, fundamentado na sua mensagem revelada, e a adoração prática, através da qual o cristão e Deus mantêm comunhão.
Ambos os pólos não são fortalecidos repelindo-se ou ignorando-se, mas são vitalizados por apoio mútuo. De um modo geral, os cristãos não estão conscientes de que sua adoração reflete a teologia prática da comunidade onde estão inseridos. O cunho puritano no dito "a finalidade principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" é inequívoco.
Os puritanos focalizaram o significado da existência inteira do homem em glorificar a Deus e deleitar-se em sua comunhão, porque este era o único resultado prático de suas crenças.
A adoração centralizada no homem tende a negar a realidade do coração que confessamos.
Em resumo, a liturgia é teologia representada, a resposta humana a Deus e ao seu favor. As formas persistem enquanto o conteúdo evapora ou muda o seu centro de Deus para o homem.
Os evangélicos têm tendência de separar a centralidade do senhorio de Cristo, biblicamente fundamentada, do viver cotidiano, de modo que a adoração se torna, com efeito, compartimentada em cápsulas de uma hora de duração, não sendo levado em consideração quão importante pode ser o ato de se "invocar o nome do Senhor juntos".
O Novo Testamento projeta uma visão de adoração que invade toda a vida com a presença e a glória de Deus. Através de um exame dos conceitos de tempo, templo, sacrifício e sacerdócio, o Novo Testamento refundiu as formas vétero-testamentárias da adoração, sem anular a importância da reunião da igreja.
A Bíblia apresenta a questão do culto de Gênesis a Apocalipse, das ofertas de Caim e Abel até a adoração dos seres celestiais.
No transcorrer da história bíblica, Deus vem ensinando o seu povo a cultuá-lo. No Velho Testamento, as formas exteriores do culto eram as mais enfatizadas. Percebemos que elas tinham um objetivo didático a fim de trazer à percepção humana realidades espirituais.
No Novo Testamento, a utilização de tais recursos fica reduzida a um número bem pequeno. Na Nova Aliança, o culto é, antes de tudo, uma forma de vida. Seja o comer, o beber, o falar, tudo deve ser feito para a glória de Deus.
As reuniões da igreja, que chamamos de cultos, têm grande importância nesse contexto, constituindo-se o culto coletivo, numa grande oportunidade de comunhão e ensino. Sua ênfase é espiritual e não tanto ritual. Assim sendo, dependemos do Espírito Santo para realizarmos um culto aceitável diante de Deus. O culto verdadeiro é aquele cuja essência provém do próprio Deus e a ele retorna.