Resumo de A DOUTRINA DA JUSTIFICACAO
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Estes doze livros se tornaram conhecidos como Profetas Menores no final do quarto século d.C., não porque foram considerados menos importantes ou menos inspirados, mas porque são geralmente menores do que os cinco Profetas Maiores, especialmente os livros de Isaías e Jeremias. Suas mensagens são mais sucintas do que as dos Profetas Maiores, mas igualmente poderosas.
Antes do tempo de Cristo, estes doze livros foram reunidos em um só rolo, coletivamente conhecidos como “Os Doze”. Sua extensão combinada é aproximadamente igual à de Isaías. A única importância cronológica da ordem dos Profetas Menores na Bíblia portuguesa é que os seis primeiros foram escritos antes dos seis últimos.
Os Profetas Menores, de Obadias a Malaquias, cobrem quatro séculos de história através dos Impérios Assírio, Babilônico e Persa. Três foram profetas do reino do norte (Jonas, Amós, Oséias). Seis foram profetas do Reino do Sul (Obadias, Joel, Miquéias, Naum, Sofonias e Habacuque).
Embora todos os profetas menores sejam nomeados, muito pouco se conhece da maioria deles. Seus antecedentes e personalidades são completamente diversos, mas os quatro temas proféticos básicos se encontram em todos eles.
O LIVRO DE OSÉIAS
Oséias, cujo livro se encontra no início do rolo dos doze profetas, marca um novo estágio na profecia hebraica, pois ele é o primeiro ou um dos primeiros profetas a pôr em forma escrita as suas profecias. E a profecia escrita não poderia desejar para seu início um livro mais nobre.
Parece que o profeta era nativo do reino do norte. De qualquer modo, parece que ele era bem versado com sua geografia e os detalhes de sua vida política, religiosa e social. A parte principal e mais volumosa do livro é notável por seu interesse no reino de Israel; as referências à nação irmã do sul são escassas. Seu ministério como profeta foi prolongado; e sobre isso, a lista de reis que aparece no começo do livro é evidência suficiente.
Com toda a probabilidade seu ministério principal se estendeu desde os últimos dias do reinado de Jeroboão II (782-741 a.C.) até à queda de Samaria (722 a.C.).
O conteúdo do livro serve de espelho para as condições políticas, sociais e religiosas que prevaleciam em Israel. As últimas décadas da vida do reino do norte foram marcadas por uma frenética e insensata alteração na orientação -agora cortejando o favor da Assíria, em seguida tentando subornar o Egito. Em lugar de depositarem sua confiança em seu Deus, os líderes da nação tentaram salvar o país por meio de esquemas políticos que, pela própria natureza das coisas, estavam destinados a conduzir ao desastre.
Os líderes religiosos do povo mostraram ser igualmente indignos. A forma de religião que prevalecia nos dias de Oséias era um amálgama de adoração a Jeová com a religião idólatra de Canaã. Nessa mistura, de Jeová era retido apenas o nome; o ritual era tirado inteiramente das práticas corruptas da adoração a Baal. Essa adoração exercia um efeito corruptor sobre o povo, visto que estava intimamente ligado a atos de grosseira imoralidade. A situação se agravava ainda mais pelos sacerdotes, cuja única preocupação era promover seus próprios interesses materiais, o que não hesitavam em fazer encorajando o povo a permitir-se cair em seus pecados, assim aumentando as rendas dos sacerdotes mediante as ofertas pelo pecado.
Oséias com sua teologia de amor prepara o pano de fundo para a idéia do Novo Testamento de que a existência só é percebida num relacionamento com Deus, e a vida mais completa é percebida na koinonia (comunhão de amor). O ápice é atingido nos escritos de João e, sobretudo, em 1Jo 4.16,17: "Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor" (ARA).
A ordem que Oséias, o profeta, recebeu do Senhor para casar-se com uma prostituta é chocante e cria um dilema (1.2). De conformidade com a Lei de Moisés, Gômer deveria ser apedrejada como prostituta. Não se sabe se ela já era prostituta ao casar-se ou tornou-se depois. Qualquer que seja o caso, os tempos de Oséias não eram normais, pois a terra estava cheia de prostituição e os sacerdotes tinham-se tornado um bando de assassinos. O adultério de Gômer, entretanto, alcançara tamanho grau de baixeza que ela se tornara uma prostituta escrava. Todavia, a atitude de Oséias ao reivindicá-Ia e comprá-Ia tirando-a do mercado da prostituição não violou a Lei, pois foi ordenada por Deus e realizada sob a dispensação especial da graça divina.
O que Jeremias foi para Judá, Oséias foi para Israel 140 anos antes. Ambos instaram com o seu povo, implorando o amor de Deus, enquanto o povo lançava-se à destruição. Ambos ministraram depois de uma época de prosperidade em toda a nação, seguida de indiferença espiritual e corrupção moral. Ambos expressaram a tristeza de Deus por ser forçado a divorciar-se do seu povo por adultério e a permitir sua destruição por um império do oriente. Ambos também falaram de uma renovada aliança entre o Senhor e o seu povo na futura era messiânica.
O LIVRO JOEL
O livro de Joel é uma das gemas literárias do Antigo Testamento. O estilo de Joel é preeminentemente puro. Caracteriza-se pela fluência e regularidade nos ritmos, nas sentenças completas e na simetria dos paralelismos.
Pelo simples fato que menção nenhuma é feita sobre a Assíria ou a Babilônia, é admitido que Joel tenha exercido seu ministério antes do levantamento da primeira ou depois do declínio da última. Por conseguinte, há concordância quase universal que o livro deva ser posto ou entre os primeiros livros dos profetas ou entre os últimos. muitos eruditos modernos favorecem a data mais recente, mas isso de forma alguma é universalmente reconhecido e diversos fatores parecem sugerir que a data mais antiga está bem dentro dos limites da possibilidade.
No tocante ao próprio Joel, pouco se sabe além do fato que ele era filho do Petuel e que, com toda a probabilidade, ele vivia em Jerusalém. As muitas referências à cidade revelam um grande amor a ela e íntimo conhecimento de sua história e adoração.
Pelas passagens de 1.13-14 e 2.17 pode-se deduzir que ele não era sacerdote. Ele viveu e profetizou numa época quando o povo de Judá ainda não havia caído naquela extrema depravação que, em tempos posteriores, atraiu contra eles tão pesados castigos. Isso parece situá-lo ou no início do reino de Joás ou entre o reino de Joás e o de Uzias.
Provavelmente ele também era contemporâneo de Oséias e Amós e, assim eles se dirigiam a Israel, ele se dirigia a Judá.
Aconteceu de tal modo que, na providência de Deus, a terra ficou literalmente desolada por uma praga de gafanhotos, havendo tal escassez de alimentos que provocou a descontinuação das ofertas de alimentos e das libações na casa de Deus.
Joel apareceu em Jerusalém para declarar que aquela invasão de gafanhotos era um quadro de uma visita de Deus, em ira e julgamento. Ele apelava em prol de um ato de arrependimento nacional, uma festa solene, e exortava os líderes religiosos a mostrar bom exemplo. Então profetizou o retorno do favor de Deus e da prosperidade da terra, bem como a remoção de seus inimigos.
Depois disso, de um modo que não tem significação fora da inspiração divina, ele passou a descrever o derramamento do Espírito Santo que se seguiria. No dia de Pentecoste, o veredicto de Pedro foi: "isto é o que foi dito pelo profeta Joel". Adiante, Joel é levado a profetizar sobre a destruição final de todos os inimigos de Deus e de Seu povo.
Vários versículos de Joel contribuem poderosamente à mensagem do Novo Testamento. A profecia a respeito da descida do Espírito Santo é citada especificamente por Pedro em seu sermão no dia de Pentecostes, depois de o Espírito Santo ter sido enviado do céu sobre os 120 membros fundadores da igreja primitiva, com as manifestações do falar noutras línguas, da profecia e do louvor a Deus.
Os sinais apocalípticos nos céus que, segundo Joel, ocorreria no final dos tempos, não somente foram lembrados por Pedro, mas também referidos por Jesus e por João em Patmos. Finalmente, a profecia de Joel a respeito do julgamento divino das nações, no vale de Josafá, é desenvolvida ainda mais no último livro da Bíblia.
Joel é conhecido como o profeta do dia do Senhor, por ter supostamente cunhado a frase para o grande dia do julgamento das nações pelo Senhor. Entretanto, ele pode ter tomado a expressão de Obadias que a usou vinte anos antes com referência ao futuro julgamento de Edom.
Joel dá uma ênfase especial aos benefícios físicos e materiais advindos do arrependimento e obediência. Tal arrependimento, disse ele, removeria as pragas dos gafanhotos e da estiagem e restauraria as bênçãos da chuva, boas colheitas e proteção contra os inimigos.
O versículo 17 é o ponto crucial do livro. Contém a oração de arrependimento recomendada pelo Senhor para o povo, oração que muda a perspectiva do livro da adversidade para a bênção. O versículo seguinte principia com "Então o Senhor..." e enumera as diversas bênçãos que ele poderá dar-Ihes após o arrependimento. Deixaria de ser adversário para tornar-se um aliado. Transformaria o seu infortúnio em prosperidade. O arrependimento verdadeiro faz de Deus um defensor do penitente e torna-o capaz de receber as bênçãos divinas.
O LIVRO DE AMÓS
Amós, um dos maiores dos chamados profetas "menores", profetizou durante os dias de Uzias, rei de Judá e de Jeroboão II, rei de Israel. É impossível determinar o ano exato de sua profecia, mas provavelmente foi cerca de 760 a.C.
Em 803 A. C., Adade-Nirari III, da Assíria, infligiu uma esmagadora derrota sobre a confederação síria. Esse enfraquecimento do vizinho nortista de Israel e subseqüente preocupação da Assíria com outros locais, deu a Jeoás e a seu filho, Jeroboão II, uma supremacia na parte norte da Palestina e na Síria provavelmente desconhecida por qualquer de seus predecessores.
Israel estava novamente livre para apropriar-se de novos territórios e isso fez com o maior zelo, particularmente, às expensas da Síria. Todas as principais estradas estavam em suas mãos e Samaria, a capital, se tornou ponto de encontro dos mercadores que viajavam entre a Mesopotâmia e o Egito.
Ali se juntavam as caravanas vindas de várias partes do mundo oriental e Samaria se tornou o empório de mercadorias de toda espécie. As crescentes atividades comerciais trouxeram a Israel enormes lucros e uma poderosa classe comerciante se desenvolveu.
O ditado que "o dinheiro corrompe" foi verdadeiramente exemplificado no reino do norte durante os dias de Jeroboão II. O desejo de riquezas teve resultados desastrosos, tanto para o comerciante como para o pobre aldeão. Os ricos príncipes-comerciantes se tornaram desmoralizados, corruptos e injustos; os pobres eram oprimidos, roubados e maltratados. Amós pertencia à classe pobre dos aldeões e provavelmente sabia, por amarga experiência própria, a que indignidades haviam sido sujeitados os pobres e oprimidos.
No que dizia respeito à religião, os santuários de Betel e de Gilgal, estavam apinhados de adoradores. A adoração a Baal certamente havia sido suprimida por Jeú, o sucessor de Acabe, mas o espírito, se não a forma, havia permanecido nos santuários autorizados, onde supostamente Jeová era adorado.
Israel tinha cessado de viver perante Deus, tal como havia acontecido no deserto, sob Moisés, e agora estava meramente existindo para Deus.
O reino de Jeroboão, portanto, era uma terra de extremos contrastantes: os ricos eram muito ricos e os pobres eram muito pobres. Sob tais condições era inevitável que crescessem a insatisfação e o desassossego. Conforme ficou demonstrado pelos acontecimentos subseqüentes, o país estava maduro para a guerra civil. Após a morte de Jeroboão houve três reis no espaço de um ano. Revolução seguia-se a revolução e no período de alguns poucos anos uma parte do reino de Israel havia desaparecido, enquanto que o restante se mantinha numa independência precária, dependendo da boa vontade da Assíria.
Amós era nativo de Tecoa, uma pequena cidade cerca de dez quilômetros de Belém. Não era cortesão como Isaías, nem sacerdote como Jeremias, mas pastor e cultivador de sicômoros.
Seu negócio o levava certamente a cidades e mercados importantes onde, sem dúvida, se encontrava com caravanas de muitas terras. Um homem de seu calibre sempre mantém os ouvidos abertos para as notícias sobre homens e seus feitos em outros lugares. Isso explica seu surpreendente conhecimento sobre outras terras e outros povos. Conforme mostram os capítulos iniciais de seu livro, ele sabia muita coisa sobre a história, as origens e feitos das nações circunvizinhas.
Embora não pertencesse à linha de profetas, nem à escola de profetas, foi chamado, à semelhança de Eliseu, das atividades diárias de seus deveres para a dignidade do ministério profético.
A mensagem de Amós era de julgamento e punição quase sem alívio. Embora nos últimos poucos versículos do livro relampejem algumas notas de otimismo, revelando a largueza da misericórdia de Deus através do trono davídico restaurado, a mensagem inteira, todavia, desse intrépido mensageiro de Deus, precisa ser incrustada no contexto de desastre iminente.
Em adição à corrupção moral que havia resultado em opressão social e em injustiça legal, havia a questão dos falsos santuários de Betel e Gilgal. Pois Deus abomina tão asquerosos rituais. Ele não tolerava suas festas, seus festivais e suas ricas ofertas. Pois tudo não passava de zombaria; tudo era estranho para Ele.
A mensagem de Amós se fundamenta na firme convicção que Jeová é Deus de justiça. Essa justiça está em conflito com a injustiça do homem e havia-lhe declarado guerra. O resultado desse conflito seria o juízo mais severo possível contra o homem. O ensino de Amós é de caráter ético, mas, tal como os outros profetas do oitavo século antes de Cristo, ele não baseava seu ensino sobre o que havia de bom e reto no homem, mas sobre o que sabia sobre a natureza de Deus.
Embora cidadão do reino do sul, a mensagem de Amós era dirigida para e contra o reino do norte. De fato, ele foi o último profeta enviado ao reino do norte. No todo, bem pouco ele diz sobre seu próprio povo. Esse silêncio, contudo, não deve ser entendido como a querer ensinar que o reino do sul estava livre daqueles pecados que o profeta via no norte e que tão veementemente denunciava. Ele fora chamado para falar a Israel, que estava maduro para o juízo e se confinou quase exclusivamente a essa parte da nação.
Mas Amós também tinha algo a dizer sobre as nações circunvizinhas. Se condenava Israel por pecar contra uma lei que Deus lhe tinha tornado conhecida, por outro lado aplicava um padrão bem diferente para as nações que não estavam em relação de aliança com Deus. O que Amós via nas nações circunvizinhas era o espetáculo, capaz de partir o coração, de uma crueldade que ignorava todos os direitos humanos, que negava toda compaixão e que tornava as relações entre as nações semelhantes às lutas entre as feras.
O senso de amizade do homem com o homem havia desaparecido. Tal mundo não podia continuar, pois a própria base de sua continuação já não existia.
Nenhum profeta clamou contra a injustiça com mais eloqüência do que Amós. O versículo-chave do livro tornou-se um clássico da justiça: "Corra porém o juízo como as águas e a justiça como o ribeiro impetuoso". Nos seus muitos julgamentos, o profeta enfatizou que qualquer nação, ao violar os conceitos morais e sociais divinos e entregar-se à exploração do pobre, está fadada à prematura destruição.
Amós foi o primeiro profeta a empregar visões simbólicas nas declarações proféticas. Muitos profetas posteriores falaram de revelações semelhantes, tais como os Profetas Maiores e Zacarias. Cada símbolo, apresentado de maneira notável, é suficiente para que qualquer pessoa entenda e fique atemorizada.
O LIVRO DE OBADIAS
O título desta breve profecia -o livro mais curto do Antigo Testamento -é: "Visão de Obadias".
No livro do profeta Obadias não é mencionada a sua genealogia, nem outro pormenor a seu respeito. Obadias é um nome bastante comum, e significa “servo do Senhor”.
Como nenhum rei é mencionado, não sabemos com certeza a data em que foi escrito. A única alusão histórica diz respeito a uma ocasião em que os edomitas regozijaram-se com a invasão de Jerusalém, e até mesmo tomaram parte na divisão dos despojos.
Houve cinco invasões de monta contra a cidade santa durante os tempos do Antigo Testamento: de Sisaque, rei do Egito, em 926 a.C., durante o reinado de Roboão; dos filisteus e árabes no reinado de Jorão, entre 848 e 841 a.C.; do rei Jeoás de Israel no reinado de Amazias, em 790 a.C.; de Senaqueribe, rei da Assíria, no reinado de Ezequias, em 701 a.C.; dos babilônios entre 605 e 586 a.C.
Acredita-se que Obadias tenha profetizado em conexão com a segunda. A destruição de Jerusalém por Nabucodonosor parece a menos provável, porque não há nenhum indício, no livro, da destruição completa de Jerusalém ou da deportação de seus habitantes.
Levando-se em conta que o período do reinado de Jorão vai de 848 a 841 a.C., e que a pilhagem de Jerusalém já era realidade, considera-se 840 a.C. uma data provável à composição da profecia.
Esaú e Edom ocupam um lugar de profunda significação na revelação divina da verdade. Essa significação é focalizada agudamente nesta breve profecia de Obadias. Podemo-nos regozijar que, no dia do Senhor, "o reino será do Senhor", mas não devemos deixar de acatar o exemplo de Esaú, pois, afinal de contas, "Não foi Esaú irmão de Jacó?" (Ml 1.2).
Embora o Novo Testamento não se refira diretamente a Obadias, a inimizade tradicional entre Esaú e Jacó, que subjaz a este livro, também é mencionada no Novo Testamento. Paulo refere-se à inimizade entre Esaú e Jacó em Rm 9.10-13, mas passa a lembrar da mensagem de esperança que Deus nos dá: todos os que se arrependerem de seus pecados, tanto judeus quanto gentios, e invocarem o nome do Senhor, serão salvos.
O livro refere-se ao destino final dos filhos gêmeos de Isaque e Rebeca, cujo casamento foi um dos mais célebres da Bíblia (Gn 24.) Todavia, a ênfase do livro está em Esaú, por intermédio de quem Isaque insistia que a bênção continuasse, apesar de Deus já ter selecionado Jacó. A preferência de Isaque por Esaú parecia ser a melhor escolha, de conformidade com as atividades de ambos em Gênesis. Mas a história decorrente de independência, vingança e violência dos descendentes de Esaú demonstram o perigo das escolhas humanas em oposição às divinas.
Apesar de descenderem de dois irmãos gêmeos, as nações de Edom e Israel tornaram-se inimigas rancorosas e implacáveis. Essa inimizade começou muito antes com uma "raiz de amargura" que se tornou uma inimizade mútua, nacional, jamais reconciliada.
O LIVRO DE JONAS
O livro de Jonas gira inteiramente em torno das relações pessoais entre Jeová e Seu servo, Jonas, filho de Amitai. Essas relações se originam numa comissão profética, da qual Jonas procurou evadir-se.
Jonas descobriu que os pensamentos de Deus não eram os seus pensamentos e que seus caminhos não eram os caminhos de Deus. Mas Deus não deixou Jonas sozinho.
Na primeira metade da história, Deus permite que Jonas chegue ao extremo de quase perder a própria vida, somente para em seguida restaurá¬-lo à posição onde ele se encontrava antes dele tentar, por meios físicos, evitar o mandado de Jeová. Na segunda metade da história o Senhor permite que Jonas chegue ao extremo da depressão mental e espiritual, somente para revelar a ele a correção essencial de Seus misericordiosos propósitos.
A revelação particular com a qual o livro de Jonas se ocupa pode ser expressa nas palavras que formam a conclusão da história de Pedro e dos gentios, em At 11.18: "Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida". Essa revelação, no livro de Jonas, foi transmitida de tal modo que salienta, por um lado, a soberana misericórdia e justiça de Deus, ao conceder a Nínive o "arrependimento para a vida", enquanto que, por outro lado, fica destacado o pecaminoso particularismo do servo de Deus, Jonas, ao resistir contra essa manifestação da vontade divina.
Qualquer avaliação do caráter histórico do livro de Jonas precisa levar em consideração os fatos seguintes: Primeiro, o próprio Jonas, sem dúvida alguma, foi um personagem histórico, um profeta de Jeová em Israel (2Rs 14.25). Segundo, o livro foi lavrado na forma de narrativa histórica direta, não havendo indicação positiva que o livro deva ser interpretado doutra forma que não a literal. Terceiro, se esse livro é uma parábola ou alegoria, então é único e sem analogia entre os livros do Antigo Testamento. Quarto, nem os judeus nem os cristãos, até recentemente, jamais consideraram que o livro de Jonas registra outra coisa além de fatos reais, quaisquer que sejam as interpretações que tenham emprestado à sua mensagem. Finalmente, nosso Senhor Jesus Cristo claramente acreditava e sabia que o arrependimento dos homens de Nínive foi uma ocorrência real e é muito natural considerar Sua alusão aos "três dias e três noites no ventre do grande peixe", da experiência de Jonas, do mesmo modo.
Jonas exerceu seu ministério no reinado de Jeroboão II (793-753 a.C.), e parece muito natural supor que a história tenha sido originalmente posta em forma escrita algum tempo antes da queda do reino do norte, em 721 a.C., embora facilmente possa ter havido circunstâncias que ocorreram entre 721 a.C. e 612 a.C., quando Israel era governada por Nínive, que tenham possibilitado uma publicação mais lata do livro naquele período.
Podemos notar que Jonas é o único profeta do Antigo Testamento com o qual Jesus se comparou diretamente, obviamente Jesus considerava a experiência e a missão de Jonas como de grande significação. É extremamente interessante, portanto, relembrar que tanto Jesus como Jonas foram "profetas da Galiléia". A cidade de Jonas, Gate-Hefer, ficava a apenas alguns poucos quilômetros ao norte de Nazaré, a cidade de Jesus. Era menos que uma viagem de uma hora a pé. Jesus deve ter ido lá freqüentemente. Talvez até em Seus dias o túmulo de Jonas fosse conhecido ali, como mais tarde, na época de Jerônimo.
Obadias descreve a ira de Deus sobre os inimigos de Israel. Por sua vez, o Livro de Jonas contrabalança tal atitude com uma ilustração clássica da mi¬sericórdia divina demonstrada a um dos antigos inimigos dos israelitas. Em Obadias, o julgamento divino é pronunciado contra os pagãos que rejeitam a oportunidade de arrependimento e persistem em sua arrogância vingativa. Em Jonas, a misericórdia divina é oferecida aos pagãos, que se arrependem e reagem favoravelmente ao Deus de Israel.
Enquanto outros Profetas Menores não registram milagres históricos, Jonas registra diversos, sobre os quais se apóia sua mensagem (aquietando o mar, preservação de Jonas dentro do peixe, arrependimento de Nínive, o rápido crescimento da planta e o aparecimento do verme). Jonas tem isso em comum com Isaías e Daniel, pois todos eles registraram diversos milagres históricos e são contestados pelos críticos quanto à sua autenticidade e autoria.
O Livro de Jonas contém o relato do maior reavivamento registrado na Bíblia: toda a cidade de Nínive abandonou os seus caminhos iníquos e voltou-se para Deus.
O livro registra o fato de que Deus também "se arrependeu" ou "compadeceu-¬se", conforme a maioria das versões (Heb. nacham). A mesma palavra é usada para o arrependimento humano (Jó 42.6).
Embora o livro registre o arrependimento inesperado de um dos maiores tiranos da história antiga, sua ênfase maior está no arrependimento ou mudança de Jonas.
Para os judeus ortodoxos, é tradição usar o Livro de Jonas como leitura obrigatória para o Culto Vespertino do Dia da Expiação. Nesse dia de jejum nacional, lamentação e perdão recíprocos dos pecados, eles relêem a história dos antigos habitantes de Nínive, que acharam misericórdia por convocarem arrependimento e perdão de pecados em toda a nação.
Nenhum outro livro do Antigo Testamento ensina de maneira tão enfática a extensão da misericórdia divina às nações gentias.
O LIVRO DE MIQUÉIAS
O versículo inicial fixa o período durante o qual Miquéias profetizou -entre os anos 751 e 687 a.C. O mesmo versículo deixa subentendido que Samaria continuava de pé mas que sua destruição iminente estava sendo declarada, portanto, pelo menos esta seção é anterior a 721 a.C.
Portanto, parece que Miquéias tenha sido contemporâneo mais jovem de Isaías: alguns chegam mesmo a considerá-lo como discípulo de Isaías.
O cumprimento da profecia de Miquéias, em Mq 3.12, foi relembrado mais de cem anos mais tarde. Em Jr 26.18 é dito que "Miquéias... profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá". Não resta dúvida que seu principal trabalho foi levado a efeito durante esse reinado (729-687 a.C.)
Em 1.1 o profeta é descrito como "morastita", isto é, habitante de Moresete-Gate que, segundo Jerônimo, até seus dias era "uma pequena aldeia próxima de Eleuterópolis". Eleuterópolis tem sido identificada como Beit-Jibrin, e fica em um dos vales que sobem da planície costeira para as terras altas da Judéia em redor de Jerusalém. Moresete, portanto, ficaria cerca de quarenta quilômetros ao sudoeste de Jerusalém.
Na qualidade de homem interiorano, o profeta via na capital de seu país a fonte e o centro da iniqüidade. Ele mesmo pode ter sido um fazendeiro e ter sido expulso de sua herdade por algum ganancioso dono de terras. "E cobiçam campos e os arrebatam e as casas e as tomam: assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à tua herança".
Embora Miquéias tenha vindo do interior, enquanto que Isaías pertencia à capital e à corte real, as mensagens principais de ambos são substancialmente as mesmas. As mensagens desafiadoras de ambos os profetas devem ter influenciado profundamente Ezequias em sua obra de reforma.
Miquéias principia apresentando uma das mais tremendas descrições do Senhor: sua descida à terra com terrível ira. Do mesmo modo que Jonas, Miquéias proclama o julgamento de Deus antes de declarar sua misericórdia perdoadora.
Miquéias é conhecido como o profeta do homem comum. Tendo ele mesmo vindo de berço humilde, conhecia as más condições dos pobres e tomou para si sua causa contra os vorazes líderes da nação que visavam a seus próprios interesses. Em todo o livro, Miquéias denuncia a opressão do fraco, o suborno entre os líderes, o ato de expulsar mulheres dos seus lares e prática de toda espécie de roubo, grande parte dele em nome da religião.
Ao descrever a esperança da restauração, Miquéias surpreende a nação com o anúncio de que o futuro "governador de Israel", o Messias, virá da pequena e insignificante cidade de Belém, ao invés da opulenta capital Jerusalém. Apresenta-o na condição de um "Pastor", como o era Davi. Todavia, será maior do que Davi, e "engrandecido até aos confins da terra". Miquéias foi o último profeta a mencionar Belém no Antigo Testamento.
No Antigo Testamento, não se encontra um resumo da Lei mais simples e mais profundo do que o de Miquéias 6.6-8. Suas exigências são simples e sem rodeios: praticar a justiça, amar a bondade demonstrando-a, e andar humildemente com Deus.
O LIVRO DE NAUM
A profecia de Naum antecipa a queda de Nínive. O profeta fala sobre a queda da cidade com uma clareza e uma intimidade possíveis somente se tal acontecimento estivesse quase imediato. Isso data a profecia de Naum como pouco antes da queda daquela cidade, em 612 a.C. O profeta também menciona o saque de Nó-Amom (3.8), como fato consumado. Essa cidade foi pilhada pelo rei Assurbanipal, da Assíria, cerca de 670 a.C. Esta profecia, por conseguinte, pode ser datada entre esses dois eventos.
O escritor é descrito como "Naum, o elcosita". O nome Naum quer dizer "consolação", "conforto" ou "alívio". Apesar de que a mensagem primária de Naum é a iminente destruição de Nínive, uma das conseqüências necessárias da queda do tirano assírio era o alívio da oprimida Judá. Nesse sentido, a mensagem de Naum justifica o nome do profeta. Ele não tinha palavra de julgamento ou condenação contra seu próprio povo, mas apenas de conforto..
"Elcosita", a designação suplementar do profeta, indica que Naum estava intimamente ligado com a localidade conhecida como Elcós. Quatro localizações são sugeridas para esse lugar.
A nota primária da mensagem de Naum é: "A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor". "O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança".
Naum destaca dois pecados em particular, para denunciá-los. Primeiramente temos o pecado de violento poder militar. Em resultado desse mal, o sangue se derrama em rios, nações são aniquiladas, instituições são destruídas e a guerra é feita com toda espécie de ferocidade. Quanto àqueles que assim violam as decências da existência humana, é declarado: "Eis que estou contra ti, diz o Senhor dos exércitos".
O outro pecado, que Naum denuncia, é o comércio sem escrúpulos. As nações vizinhas eram corrompidas para que eles pudessem ministrar aos luxos e vícios da cidade conquistadora.
A seu próprio povo Naum declara que os mensageiros trazendo boas novas já estavam a caminho. Como expressão de gratidão pela destruição do opressor, o povo de Judá deveria observar os períodos religiosos e desincumbir-se escrupulosamente das obrigações de sua fé.
A data em que a sua profecia foi composta pode talvez explicar sua aparente falta de preocupação pelos pecados de seu próprio povo, bem como suas omissões, não apontando suas obrigações morais e espirituais, e sua aparente falta de caridade para com a própria Nínive.
A profecia de Naum tem sido apropriadamente chamada de "o clamor de uma consciência ultrajada". É uma apaixonada assertiva que a justiça prevalecerá em sua inflexível retribuição. Essa verdade é por ele declarada com insistência. Ele proclama sua necessidade moral. Ele contempla sua realização com lucidez sem paralelo. Ele prevê seu cumprimento completo. No grande corpo de verdade, ensinado pelos doze profetas, essa verdade é particularmente propriedade de Naum e, se sua profecia é a profecia de uma idéia, pelo menos ele apresenta essa idéia com grande poder e completa eficácia.
A notável lição de Naum para as nações é que a "lei da selva" não é a Lei de Deus. Embora o pecado e a violência possam ficar sem punição por algum tempo dentro da longanimidade divina, todavia não serão esquecidos.
O Deus vingador descrito por Naum é um dos quadros mais aterradores da Bíblia. Enquanto o Livro de Jonas apresenta a misericórdia do Senhor estendida aos gentios desconhecedores da lei mosaica, Naum retrata a ira e o julgamento divino das nações, conheçam ou não a lei de Moisés.
O LIVRO DE HABACUQUE
Nada sabemos a respeito de Habacuque fora das informações prestadas neste livro, mas mesmo aqui ele não nos fornece sua genealogia nem nos diz quando profetizou. O próprio nome é aparentado de um vocábulo assírio, que significa uma planta ou vegetal. Na Septuaginta, seu nome aparece como Ambakoum. Jerônimo a derivou de uma raiz hebraica que significa “segurar”, e disse que: “ele é chamado ‘Abraço’ ou por causa de seu amor ao Senhor, ou porque lutava contra Deus”. Lutero, e muitos comentadores modernos, têm favorecido a mesma derivação. Certamente não é derivação inapropriada, pois neste pequeno livro vemos um homem, em ânsia mortal, em luta com o grande problema da teodicéia -a justiça divina -em um mundo desordenado. Encontramos a mesma espécie de conflito no mais volumoso livro de Jó.
Habacuque foi o primeiro profeta a impugnar não a Israel, porém a Deus. O livro contém um solilóquio entre ele mesmo e o Todo-Poderoso. O que o deixava perplexo era a aparente discrepância entre a revelação e a experiência. Ele procurava explicação para isso. Nenhuma resposta direta é dada à sua interrogação, mas é-lhe assegurado que a fé paciente terminará saindo vencedora (2.4). Ele expressa sua fé mui vividamente, em 3.17-19, onde o sentimento encontra um eco mais recente, no hino de William Cowper: “Deus é Seu próprio intérprete, e Ele deixará claro”.
Por causa do arranjo musical do capítulo 3, alguns têm pensado que Habacuque foi levita. É possível que ele tenha sido membro de um grupo profissional de profetas, associados ao templo (1Cr 25.1). Ele é o único dos profetas canônicos que a si mesmo chama de “profeta” (1.1), e julga-se que isso indica posição profissional.
Habacuque aparece na história apócrifa de Bel e o Dragão, como aquele que livrou Daniel da cova dos leões pela segunda vez; porém, tudo isso não passa da lenda.
8.2. Data e ocasião
Em 1.6 somos informados que Deus estava levantando os caldeus (isto é, os babilônios) como um instrumento de castigo. Sem dúvida isso se refere ao império babilônico revivificado, que derrubou o enfraquecido império assírio no fim do quinto século a.C. Nínive foi destruída em 612 a.C. e Nabucodonosor, rei da Babilônia, derrotou Faraó Neco, do Egito, em Carquemis, em 605 a.C.
Três anos antes dessa batalha, Faraó Neco matou Josias, rei de Judá, em Megido (2Rs 23.29-30; 2Cr 35.20 e segs.), e estabeleceu reis títeres sobre o trono de Judá, porém, nem Faraó Neco nem eles eram adversários para o crescente poder da Babilônia, e assim, durante os vinte anos seguintes, Judá ficou à mercê dos caldeus e foi finalmente levado em cativeiro, em 586 a.C.
As profecias de Habacuque se referem claramente a esse período e podem ter sido entregues a público, ou antes, ou depois da batalha de Carquemis. Em ambos os casos, Habacuque teria sido contemporâneo de Jeremias (627¬586 a.C.).
Em favor da data mais antiga temos a sugestão, em 1.5, que o levantamento dos caldeus ainda era acontecimento futuro e, no tempo em que o profeta falou, era ainda algo que fazia as pessoas se admirarem (E. B. Pusey, por exemplo, data a profecia tão cedo como o fim do reinado de Manassés, isto é, tão recuada como a frase em vossos dias, em 1.5, permite); em favor de uma data depois de 605 a.C. temos a descrição detalhada dos métodos de guerra dos caldeus, como algo já bem conhecido (1.7-11).
O reinado do mau rei, Manassés fora “uma época que provou a fé das almas piedosas” (Kirkpatrick). A reforma sob o rei Josias (637-608 a.C.) se tinha mostrado ineficaz, pelo que a iniqüidade e a perversidade (1.3) da desviada Judá deveriam ser castigadas. Por esse motivo Deus estava levantando os caldeus.
Esse o ponto de vista geral dos eruditos. Alguns, entretanto, referem 1.2-4 não à desviada Judá, mas a algum opressor pagão. Esse opressor poderia ser a própria Caldéia; nesse caso, o texto teria de ser rearranjado para que os versículos 5-11 precedessem os versículos 2-4 (Giesebrecht) ou deveriam ser eliminados (Wellhausen). Ou o opressor poderia ter sido a Assíria: assim pensa Budde, que coloca os versículos 6-11 após 2.2-4, e data a profecia logo depois de 625 a.C., quando Nabopolassar, o caldeu, se tornou independente da Assíria. Mas, nesse caso, por que a Assíria não é mencionada? Em terceiro lugar, há a possibilidade de referir-se ao Egito: assim pensa G. Adam Smith, que compara 1.2-4 com 2Rs 23.33-35.
Porém, a queixa de Habacuque, em 1.12-2.1 não é que Deus estava usando uma nação pagã para castigar outra, mas antes, que o Senhor estava usando uma nação pagã para punir Judá. A despeito de a lei haver sido redescoberta no templo, em 621 a.C. (2Rs 22.8; cf. Hc 1.4), o povo de Judá se inclinava para a violência e para a injustiça. O rearranjo do texto, para adaptar-se a uma teoria particular, é sempre um expediente duvidoso. Parece mais seguro aceitar o texto tal qual está e atribuir 1.2-4 ao povo de Judá.
Um crítico conservador, W. A. Wordsworth, situa a entrega da profecia um século antes, fazendo Habacuque ser contemporâneo de Isaías, com cujas profecias encontra ele muitas afinidades em Habacuque. A data fixadora é, então, a captura de Babilônia pelo caldeu Merodaque-Baladã, em 721 a.C. Outros, com certa base de apoio à sua posição da parte das versões gregas, omitem inteiramente a palavra “caldeus”, em 1.6, ou então, juntamente com Duhm, substituem-na pela palavra “Quitim”, isto é, gregos cipriotas, assim colocando o livro nos dias de Alexandre, o Grande, cerca de 330 a.C. Tais
pontos de vista exigem considerável manuseio no texto e não são muito plausíveis. Mas é interessante notar que os Papiros do Mar Morto, recentemente descobertos, que contêm o comentário de Habacuque embora lhe falte a primeira metade de 1.6 traz a seguinte nota a respeito: “interprete¬se (isso) como os Quitim, cujo temor está sobre todas as nações”. Isso, entretanto, pode ter sido apenas uma “aplicação moderna” de uma situação mais antiga.
Parece melhor, por conseguinte, situar a data do livro de Habacuque cerca de 600 a.C., ou um pouco antes.
8.3. Texto e Composição
O significado do texto hebraico nem sempre é claro e a Septuaginta apresenta algumas poucas, mas interessantes variações, como, por exemplo, a grande afirmativa em 2.4, que, em um texto da Septuaginta é “totalmente messiânica” (T. W. Manson). A incerteza quanto a quem se referem várias passagens tem levado muitos críticos a rearranjar o texto e, em alguns casos, até a dividir a autoria do livro. Para alguns, Habacuque seria o autor dos capítulos 1 e 2; para outros, seria ele o autor do capítulo 1 e da maior parte do capítulo 2, enquanto que o capítulo 3 seria um poema posterior, do período persa ou dos macabeus. Mas muitos, à semelhança de Kirkpatrick, de J. Peterson, e de outros, preferem considerar o livro como um todo artístico e relacionado.
Parece que a intenção da profecia era de ser lida e não de ser ouvida (ver 2.2). Tem mais a natureza de um poema especulatório e meditativo do que um sermão ou discurso público. O salmo, no capítulo 3, evidentemente tinha o propósito de encorajar o povo de Deus em período de adversidade.
8.4. Contribuições singulares
8.4.1. Julgamento Divino da Babilônia (3.12)
O Livro de Habacuque segue logicamente o de Naum no julgamento divino do segundo maior inimigo de Israel, o destruidor vindo do Oriente. Embora tanto Nínive quanto Babilônia tenham sido usadas pelo Senhor para destruir Israel no norte e Judá no sul (Is 7.18-20; Jr 27.6), ambas foram também julgadas pela violência. Esses dois livros registram o castigo dessas duas nações por sua conduta sanguinária e perversa, não tolerada nem aprovada por Deus. Ambos os livros revelam a grande ansiedade inspirada pelo Senhor e sua grande ira ao vir em julgamento para realizar pessoalmente a destruição.
8.4.2. Santidade de deus (1.12; 2.20; 3.3).
O maior interesse de Habacuque é pela santidade divina com respeito tanto à perversidade de Israel, quanto à soberba da Babilônia. Ele se afligiu por Deus permitir que o pecado continuasse em Judá sem punição, e depois preocupou-se por Deus usar a Babilônia como instrumento punitivo, nação ainda mais perversa. Esse problema e a respectiva resposta estão imortalizados em dois clássicos versículos: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal” (1.13). “Mas o Senhor está no seu santo templo: cale-se diante dele toda a terra” (2.20). Se o Senhor é longânimo com os pecadores e até escolhe “vasos de ira” (Rm 9.22) para executar os seus objetivos, não faz, todavia, concessões em assuntos onde está em jogo sua santidade. Permite, com freqüência, que o pecado siga o seu curso normal e se destrua a si próprio dentro do seu plano, demonstrando assim a soberania e a grandeza da sua santidade e justiça.
8.4.3. “O justo viverá pela sua fé” (2.4)
Habacuque tem sido denominado de “o livro que começou a Reforma”. Paulo citou Habacuque 2.4 ao desenvolver a doutrina da justificação pela fé em Romanos 1.17 e Gálatas 3.11, e esse foi o lema de Lutero e dos Reformadores. Essa frase é também citada em Hebreus 10.38, e as três citações do Novo Testamento têm uma progressão interessante, quanto à ênfase: Em Romanos 1.17, a ênfase está em “O justo”; em Gálatas 3.11, em “viverá”; e em Hebreus 10.38, em “pela fé”. Todos os três pontos estão enfatizados em Habacuque. Poucos versículos da Bíblia têm participado com tão profundo efeito no desenvolvimento da teologia e da proclamação da fé.
8.4.4. Frases citadas com freqüência
O pequeno livro de Habacuque é notável pelos seus muitos textos citados:
(a) “Vós não crereis, quando vos for contada” (1.5).
(b) “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal” (1.13).
(c) “Mas o justo viverá pela sua fé” (2.4).
(d) “Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (2.14).
(e) “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro” (2.15).
(f) “Mas o Senhor está no seu santo templo: cale-se diante dele toda a terra” (2.20).
(g) “Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos” (3.2).
(h) “Exultarei no Deus da minha salvação” (3.18).
8.4.5. Ousado diálogo de Habacuque com Deus
Ao contrário de outros livros proféticos, Habacuque é mais uma oração do que uma profecia. O preocupado profeta ousa dialogar com Deus, enfrentando-o com perguntas que parecem desafiar tanto a santidade quanto o amor do Senhor. Essa oração continua em todo o livro, enquanto o profeta faz a pergunta e espera a resposta de Deus. Constitui também um sistema de ensino muito eficiente, propondo perguntas difíceis e elaborando respostas com autoridade divina. Isso foi denominado posteriormente de método “ra-bínico” ou “socrático”, e também usado por Jesus com muita eficiência (Mt
24.42 e ss.). A fé divina de Habacuque é tão vigorosa e profunda, que ele pode expressar honestamente suas dúvidas e ficar satisfeito quando o Senhor responde com novos apelos à fé.
8.4.6. Cristologia em Habacuque (2.14,20)
Esse livro também não apresenta referências específicas ao Messias, apenas diversas inferências da era messiânica. Em 2.14, o profeta declara que o conhecimento da glória do Senhor será universal. É uma inegável citação e acréscimo de Isaías 11.9, onde o antigo profeta descreve certos aspectos dos tempos messiânicos. Habacuque especifica que o conhecimento universal será referente à glória do Senhor. O contraste é com os que labutam inutilmente, até ao derramamento de sangue, pela breve e passageira glória de reinados temporais. O conhecimento da glória do Senhor, a qual está atualmente quase escondida, cobrirá e encherá então a terra.
Uma segunda inferência messiânica é a exortação “Cale-se diante dele toda a terra”, bem como “O Senhor (...) está no seu santo templo” (2.20). Existem afirmações semelhantes em Sofonias 1.7 e Zacarias 2.13, quando anunciada a vinda do Senhor no Dia do Senhor. Do mesmo modo, Apocalipse 8.1 fala de um período de silêncio no céu antes do desencadeamento da ira de Deus na última metade do período de tribulação. Aqueles julgamentos do Apo¬calipse são vistos continuamente como procedentes do Senhor no seu santo templo, enfatizando a santidade de Deus e o despejar de sua justiça e ira (Apocalipse 8.4; 14.15,17; 15.8; 16.1,17). Parece que essa é também a idéia de Habacuque quando ele apresenta o salmo da ira de Deus contra as nações, em sua descrição da teofania militante e majestosa (3.3-16).
O LIVRO DE SOFONIAS
Sofonias foi o primeiro profeta no período de duas gerações. Provavelmente já se tinham passado setenta anos desde que tinham sido ouvidas as vozes dos profetas do período da ascendência dos assírios -Isaías e Miquéias. A sorte que coube a Samaria, em 712 a.C. servia de solene memória sobre o poder, a majestade e a retidão de Deus.
Quando Sofonías se apresentou no palco dos acontecimentos de Judá, ele marcou o início de uma nova linha de profetas que deveria incluir Jeremias, Habacuque, Obadias e Ezequiel (além de Naum, se for aceita a data posterior para sua profecia), todos os quais procuraram salvar Judá da sorte que já tinha envolvido o reino do norte.
Por conseguinte, é possível dizer com certeza que o corpo principal do livro deve ser associado com a reforma ligada com Josias, que teve lugar em 621 a.C. e é razoável supor que a pregação de Sofonias foi uma das causas contribuintes dessa reforma. Portanto, podemos concluir que a data provável foi cerca de 630 a.C.
Durante o longo reinado de Manassés (696-642 a.C.), o perverso filho do bom rei Ezequias, o estado moral e religioso de Judá se tinha tristemente deteriorado. Durante todo o seu reinado ele se tinha oposto ao reavivamento religioso que havia caracterizado o reinado de seu pai. Manassés edificou novamente os altares que seu pai havia derrubado e restaurou a aviltante adoração da natureza associada à adoração de Baal. Superstição, adoração das estrelas e até mesmo sacrifícios humanos, se tornaram parte de uma religião de formalidades e cerimônias externas privada de realidade interna e sem convicções espirituais ou éticas.
Sofonias era habitante de Jerusalém. Isso é óbvio em vista de certas referências a locais específicos da cidade, que só poderiam ter sido feitas por alguém que estivesse bem familiarizado com eles. Na cidade, o profeta observava a populaça, que se inclinava a viver mediante a força e a fraude entre si mesmos, mostrando-se idólatra e cética para com Deus.
Sofonias, apesar de ter predito os julgamentos que sobreviriam a Judá, viu-os como um expurgo necessário e essencial para que Judá se tornasse a nação bendita do Senhor e Sua criada perante o mundo inteiro.
O objetivo dessa profecia era divulgar um chamado de undécima hora à nação, condenando sua idolatria e advertindo o povo sobre o grande dia da ira divina que estava para vir. Além desse aviso, Sofonias enfatizou novamente os resultados finais do julgamento de Israel, que seria um povo purificado e humilde, restaurado pelo Senhor, e este passaria a habitar no meio deles.
Embora Miquéias, Naum e Habacuque também apresentassem o Senhor como um Deus de severo julgamento, a descrição da ira divina dada por Sofonias é provavelmente a mais terrível da Bíblia. O quadro de 1.18 e 3.8 é como o “colapso final do universo”. O Todo-poderoso consome toda a terra com o fogo da sua indignação em virtude do pecado e da intransigência dos homens. Jamais veio de um profeta mensagem mais severa e sombria.
Seu tema central refere-se ao Dia do Senhor, mostrando sua relação para com Israel e as nações. Descreve os julgamentos partindo da natureza divina e da rebelião e corrupção dos homens. Como a maioria dos outros profetas, Sofonias conclui com uma profecia da restauração de Israel após seu arrependimento.
O LIVRO DE AGEU
Ageu, o primeiro dos profetas da restauração, não tem história registrada sobre sua pessoa. Ele era "o embaixador do Senhor" e seus testemunhos estão seguramente entesourados com seu divino Empregador.
É impossível fixar com exatidão o período coberto pela vida de Ageu. Tem-se conjecturado que ele vira o templo de Salomão. Essa conjectura se baseia em 2.3 -"Quem há entre vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória?" Isso significaria que o profeta tinha pelo menos oitenta anos de idade quando sua mensagem foi transmitida.
Sua mensagem, entretanto, está tão ligada com a história de seu tempo que ela pode ser definidamente fixada como tendo sido proferida em 520 a.C. Sua idade, então, pode ser apenas conjecturada, e só podemos inferir que Deus considerava isso sem importância.
Ageu é um dos poucos profetas que teve o indizível prazer de ver amadurecerem os frutos de sua mensagem perante seus próprios olhos.
A tarefa especializada e dada por Deus a Ageu era a de galvanizar o povo em ação, num novo esforço, nessa direção. Os argumentos derivados do passado ou do futuro, eram empregados por ele e focalizados sobre essa tarefa.
Contemporânea e complementar da obra de Ageu era a tarefa de Zacarias. O próprio zelo e entusiasmo de Ageu, pela reconstrução material da casa de Deus, poderia tender a fazer o povo desviar seus pensamentos do Deus da casa e da glória do Messias vindouro. Ele via o dia de Cristo à distância, e com isso, alegrou-se. Ele via a restauração do templo como um elo na grande cadeia dos acontecimentos orientados por Deus. Ele via em Zorobabel, seu príncipe, uma cadeia viva na corrente humana da semente de Davi, que continuaria sem interrupções até a vinda do Messias.
O trabalho para o qual Deus chamou ambos os governantes e o povo de Judá, por meio de Ageu, era o reinício de uma tarefa não terminada. Os 50.000 exilados, que tinham aproveitado o decreto de Ciro e haviam retornado da Babilônia para sua pátria de origem, tinham iniciado a reconstrução do templo. Essa obra, entretanto, havia sido interrompida.
Mais do que qualquer outra pessoa, Ageu foi o responsável por conseguir que a construção recomeçasse e fosse terminada.
O templo que eles reconstruíram resistiu mais tempo do que qualquer outro dos templos de Israel, tornando-se uma verdadeira homenagem a Zorobabel, o governador, e a Ageu, o profeta.
A profecia de Ageu segue a de Sofonias no cânon como um cumprimento parcial da era pós-exílio.
Se Sofonias tinha uma mensagem catastrófica para alertar todas as nações sobre o iminente julgamento do Senhor, Ageu tinha uma mensagem encorajadora da presença imediata do Senhor para abençoar os que construíssem sua casa e observassem a execução de seus preceitos imediatamente
O LIVRO DE ZACARIAS
O primeiro versículo identifica o profeta Zacarias, filho de Baraquias e neto de Ido, como o autor do livro.
Zacarias era um contemporâneo mais jovem do profeta Ageu. Esdras 5.1 declara que ambos animaram os judeus, em Judá e Jerusalém, a persistirem na reedificação do templo nos dias de Zorobabel (o governador) e de Josua (o sumo sacerdote).
A totalidade das profecias de Zacarias foi enunciada em Jerusalém diante dos 50.000 judeus que haviam voltado a Judá na primeira etapa da restauração. O Novo Testamento indica que Zacarias, filho de Baraquias, foi assassinado “entre o santuário e o altar” por oficiais do templo.
Em Zacarias, as duas vindas do Messias são encaixadas com o intuito de apresentar uma vasta pré-estréia do futuro de Israel.
Muitos intérpretes, tanto judeus como cristãos, consideram esse livro muito obscuro e de difícil explicação. No entanto, a profecia não foi escrita para mistificar, e sim para esclarecer as verdades referentes ao futuro de Israel.
Este livro é o mais messiânico dos Profetas Menores, e está no mesmo nível de Salmos e Isaías quanto ao conteúdo messiânico. O Messias está ou no centro ou na periferia de cada visão.
A harmonização da vida pessoal de Zacarias, entre os aspectos sacerdotal e profético pode ter contribuído para o ensino do Novo Testamento de que Cristo é tanto sacerdote quanto profeta. Além disso, Zacarias profetizou a respeito da morte expiatória de Cristo pelas mãos dos judeus, que, no fim dos tempos, levá-los-á a prantearem-no, arrependerem-se e serem salvos.
Mas a contribuição mais importante de Zacarias diz respeito a suas numerosas profecias concernentes a Cristo. Os escritores do Novo Testamento citam-nas, declarando que foram cumpridas em Jesus Cristo.
O LIVRO DE MALAQUIAS
Não é possível fixar a data da escrita do livro de Malaquias com qualquer exatidão. Sabemos por suas referências ao templo e aos sacerdotes, que ele viveu após o retorno do exílio babilônico e após a reconstrução do templo (516 a.C.)
Esdras e Neemias, e muitos eruditos são da opinião que o livro foi escrito pouco antes da chegada de Esdras. Essa data (cerca 460 a.C.) é mui geralmente aceita.
Os judeus tinham retornado do exílio impulsionados por altas esperanças. Inspirados por Ageu e Zacarias, haviam reconstruído o templo.
Mas, com a passagem dos anos, os judeus foram ficando desiludidos e começaram a duvidar do amor de Deus. Punham em dúvida a justiça de Seu governo moral. Diziam que o praticante do mal era bom aos olhos do Senhor. Argumentavam que não havia proveito na obediência aos Seus mandamentos e em andar penitentemente perante Ele, pois eram os ímpios, que dependiam de si mesmos os que prosperavam.
O profeta, então, começou a responder-lhes, mostrando-lhes que tal ceticismo se baseava na hipocrisia. Se lhes cabia a adversidade, esta havia caído sobre eles, não a despeito de sua piedade, mas antes, por causa de sua pecaminosidade.
Malaquias, em verdadeira nota profética, condenou os pecados e convocou o povo para que se arrependesse. Caso purificassem sua adoração, obedecessem à lei e pagassem seus dízimos na íntegra, então o resultado seria as bênçãos de Deus.
Tem sido dito freqüentemente que enquanto outros profetas frisaram a moralidade e a religião no íntimo, Malaquias punha ênfase sobre a adoravam e o ritual. Mas, apesar de que isso seja verdade quanto aos aspectos gerais, temos de notar que ele não se esquecia totalmente das obrigações morais de Israel, e que, para ele, o ritual não era uma finalidade em si mesmo, mas apenas a expressão da fé do povo no Senhor.
Com o livro de Malaquias foi arriada a cortina sobre a cena profética, até a vinda do Batista. As palavras vívidas e poderosas dos profetas não mais foram ouvidas. Nenhum outro profeta enfatizou tanto a grandeza de Deus como o fez Malaquias.
O estilo dialético de Malaquias é um tanto singular entre os profetas, pois a maioria preferiu um estilo de conferência ou de narrativa. Malaquias registra nove tipos de diálogo do Senhor com Israel.
Nessa forma provocante (chamada mais tarde de método "rabínico" ou "socrático"), o profeta apresentou as mais importantes queixas do Senhor contra os judeus e suas reações altivas. O estilo provou ser eficaz por chamar a atenção e chegar rapidamente ao assunto principal. Jesus também recorreu a um tipo semelhante de comunicação ao enfrentar os líderes hostis da época.
A nota dominante dos últimos seis versículos é antecipatória, apontando para os 400 anos de silêncio profético antes que outro "anjo" apareça anunciando a vinda do precursor e do mui esperado Messias.