Resumo de ANTROPOLOGIA
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Curso de Graduação Livre – Bacharelado em Filosofía
Disciplina: PEDAGOGÍA
Aluno: 2019033796
Clément R.S.Danilo
RESUMO
OS AGENTES DA EDUCAÇÃO
Os agentes gerais
Podem considerar-se agentes de educação aqueles aos quais, de qualquer modo, compete ministrar, aos seus semelhantes, instrução e educação, embora não seja essa a sua atividade específica.
Os membros da família têm o dever de ministrar, aos membros imaturos, as noções fundamentais ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e intelectual.
Mas dever e obrigação não constituem capacidade. São professores os agentes da Educação. É esta as sua profissão e o seu modo de vida.
O Estado educador
É o Estado que impõe a disciplina, que marca as sanções e concede as recompensas. Todas essas funções são essencialmente educativas.
Quando o Estado promulga leis exerce ação educativa; é educador quando exerce a sua ação preventiva, repressiva e punitiva.
Mas o Estado é o agente geral de Educação por que o Estado é o instituidor, mantenedor e fiscalizador da própria organização escolar.
O Estado tem uma função pedagógica de caráter supletivo, não devendo, por conseqüência, absorver ou eliminar o direito educativo privativo dos demais grupos sociais.
Ao Estado compete, em suma: promover e proteger a atividade e as iniciativas das diversas instituições educadoras (Família, Igreja e Escola) e suprir e completar as insuficiências e lacunas das referidas instituições, sem, de forma alguma, se lhes substituir.
Os agentes específicos
O verdadeiro professor deve ser, ao mesmo tempo, educador.
Estas duas palavras são sinônimas. Todos os professores, dignos de tal designação, devem ser educadores; mas nem todos os educadores são professores.
Educador é aquele que, em todas as emergências ou circunstâncias da vida ministra conhecimentos, proporciona modelos e exerce sugestões eficazes sobre um indivíduo imaturo ou até sobre um grupo.
Também pode ser considerado agente específico da Educação o pedagogo, isto é, aquele que se consagra ao estudo dos problemas concernentes à Educação, e que, como tal, fornece as diretrizes e as luzes ao professor.
Segundo Stead, o professor – seja de que grau de ensino for - deve ser preparado em obediência ao seguinte plano:
a) Deve possuir conhecimentos de Psicologia;
b) Deve possuir conhecimentos de Sociologia;
c) Deve possuir conhecimentos de Filosofia política;
d) Deve possuir conhecimentos sérios de cultura geral, para avaliar a importância relativa das diversas matérias, a fim de, entre elas, estabelecer a necessária hierarquia;
e) Deve possuir conhecimentos especiais das disciplinas a ensinar;
f) Finalmente, deve ter fé na sua missão, e entusiasmo para a realizar.
O FENÔMENO PEDAGÓGICO
O problema da Pedagogia
O problema educativo surge em todos os povos e em todas as civilizações.
Na Grécia e em Roma, chamava-se pedagogo ao servo que acompanhava as crianças à escola. Com o decorrer do tempo, o pedagogo acabou por se transformar num preceptor.
Roma conquistara a Grécia, e entre os prisioneiros tinham vindo muitos atenienses cultos e ilustrados, cujas habilidades e conhecimentos os romanos sumamente apreciavam. Em face desta multiplicidade de conhecimentos, os patrícios e cavaleiros romanos entregaram a educação dos filhos a gregos.
Na Idade-Média as condições de vida transformaram-se completamente, e como a escravatura desapareceu, sob um fluxo benemérito do Cristianismo, o pedagogo-escravo deixou de existir.
Passaram, então, a receber o nome de pedagogos os estudantes universitários pobres, servido de preceptores dos filhos dos fidalgos e grandes senhores. Depois, estes estudantes-pedagogos começaram a reunir outras crianças das redondezas. Surgiram, desta maneira, embrionárias escolas particulares. A palavra pedagogo começou, por tal fato, a ser usada como sinônimo de mestre-escola.
Com a formação definitiva da Ciência da Educação, o vocábulo Pedagogia enobreceu a palavra e a profissão de pedagogo. Hoje, este termo designa, de um modo geral, o especialista em Pedagogia ou o professor de Pedagogia.
Conceito de Pedagogia
Atualmente, define-se a Pedagogia como a ciência e a arte de educar.
A educação tem, necessariamente, de responder às seguintes perguntas: Qual deve ser o objetivo da educação? Que devemos ensinar? Como devemos ensinar?
Eis, portanto, os dois grandes ramos da Pedagogia: um investiga os fins: Pedagogia racional ou teológica; outro procura descobrir qual a maneira mais eficaz de atingir esses objetivos: é a Pedagogia positiva.
Mas quando a Pedagogia põe a execução as teorias e doutrinas concebidas pelos pedagogos é uma arte ou uma tecnologia.
Nestas condições, a Pedagogia estabelece aquilo que há a fazer; estuda os meios de realizar, e põe em prática aquilo que concebeu.
Quem pretender educar, ensinar, não pode prescindir dos conhecimentos da Pedagogia. A intuição e a vocação não podem substituir o conhecimento desta ciência.
A Pedagogia não é uma ciência exata, e este fato contribui, poderosamente, para tornar difuso o seu âmbito e transcendente o seus estudo.
Ciências que servem a Pedagogia
A Pedagogia não pertence ao grupo das ciências fundamentais. É uma ciência derivada, que não tem vida independente. Depende de outras ciências.
Visto que a educação tem por finalidade formar o homem, são as ciências humanas que importa, fundamentalmente, conhecer.
Em primeiro lugar, há que estudar as ciências do homem considerado em si próprio:
a) Psicologia;
b) Ciências biológicas;
c) Antropologia.
Em segundo lugar, interessa conhecer as ciências e as técnicas do homem considerado em grupo, nas suas relações com o meio social, cósmico e geográfico:
a) Sociologia;
b) Antropogeografia;
c) Estatística.
Em terceiro lugar, é preciso não esquecer as ciências que procuram dar a explicação mais profunda do universo, ou sejam a suas origens e os seus fins:
a) Ciências filosóficas.
Psicologia
Nada pode fazer-se, em educação, sem o auxílio e a estreita colaboração desta ciência. Cada problema pedagógico é simultaneamente um problema psicológico. Para dirigir almas, torna-se necessário conhecê-las, nas suas manifestações conscientes e inconscientes.
A Psicologia torna a educação realizável, e uma doutrina pedagógica que não leva em conta os múltiplos fatores da resistência e defesa, que a atividade psíquica pode oferecer, condena-se uma atuação superficial e ilógicas”.
É difícil distinguir onde termina a Pedagogia, e onde começa a Psicologia. No entanto, há problemas que interessam, de um modo especial, ao educador: reflexos, inconsciente, memória, atenção, pensamento, aptidão de aprender, capacidade de trabalho, fadiga, interesse, vontade, imaginação, intensidade de sentimentos, formação de hábitos, atividade lúdica, diferenças de temperamento e de caráter, diferenças de sexo, de idade, etc.
A Psicologia experimental deu origem, à Pedagogia experimental. A Psicologia experimental procura medir e pesar os fenômenos de consciência. Mas o psíquico não parece ser susceptível nem de mensuração, nem de explicação causal.
A pedagogia experimental tem dois campos de investigação muito diferentes: um, é que propriamente o básico, é o da investigação geral do desenvolvimento corporal e espiritual da criança. O segundo grande campo de investigação é a didática experimental; esta procura abrir caminho para a fundamentação científica da instrução e para a compreensão e atividade da aprendizagem da criança na instrução.
A Pedagogia experimental deve, pois, ser usada com a maior prudência, a fim de não se confundir com a própria Psicologia experimental: os inquéritos, as estatísticas experiências, embora com feição psicológica, devem obedecer a objetivos pedagógicos e a métodos também pedagógicos.
É Pedagogia experimental que indica as metodologias, os programas, a duração das lições, etc. Mas deve haver o maior cuidado na observação dos fatos e nas conclusões a deles extrair.
Uma das ramificações da Psicologia experimental, que interessa à Pedagogia, é a Psicotecnia ou Psicotécnica. que é a aplicação dos métodos da Psicologia experimental à consecução de fins práticos em todas as esferas da vida humana, individual e social.
A Psicotecnia recorre à aprendizagem mais aperfeiçoada, incluído a fotografia e o cinema, como o objetivo de obter ciclogramas, cronociclogramas e estereociclogramas, mediante os quais se avalia o tempo, a direção, amplitude e o ritmo dos movimentos, em qualquer atividade.
Ciências Biológicas
Biologia
A Biologia interessa ao pedagogo, porque se trata de um conjunto de ciências visando ao estudo da estrutura, da atividade, da gênese, da classificação, das relações e da posição dos seres vivos no espaço e no tempo. Daí a grande necessidade para todos nós de um conhecimento aprofundado das leis biológicas, a fim de que a vida possa produzir tudo quanto pode e deve produzir
A Biologia está a adquirir uma importância tão grande, que a escola sociológica organicista não duvida afirmar que, entre o biológico e social, não há solução de continuidade, e que a sociedade é um organismo ampliado.
A Biotipologia é a ciência que estuda as correlações entre a constituição física do corpo humano e o seu temperamento e manifestações de caráter. Conforme os tipos, assim deve ser orientada a educação de cada um, a fim valorizar as respectivas qualidades e corrigir os seus defeitos.
Fisiologia
A Fisiologia estuda a função dos órgãos (nutrição, circulação sangüínea, respiração, etc.), permitido relacionar as funções orgânicas com as funções psíquicas. Foi mercê deste estudo comparado, que se tornou possível descobrir a importância da educação física na totalidade do processo educativo.
Anatomia
Idênticas considerações poderiam fazer-se a propósito da Anatomia. É matéria que interessa muito particularmente à educação física.
Medicina
Tanto a Medicina curativa como a profilática, desempenha uma importantíssima missão, dentro da Pedagogia. Ela tem, constantemente, de orientar o pedagogo e de colaborar com ele. Muitas vezes, o médico tem de substituir o professor, pois o que as pessoas leigas julgam ser preguiça, maldade, estupidez ou perversão de caráter, pode ser apenas doença. Uma vez tratada a referida doença, a criança normalizará a sua vida.
A Medicina desempenha uma missão básica, dentro da Pedagogia, mas isso não quer dizer que ela se arrogue a um inconveniente predomínio. O médico não pode nem deve pretender substituir o pedagogo.
Higiene
Este ramo da Medicina também interessa altamente à Pedagogia. À Higiene estuda os meios de evitar a doenças e de conservar a saúde dos educandos. Compete ao higienista dar o seu parecer sobre edifícios escolares, iluminação, cubagem das aulas, locais destinados à prática da exercitação física, mobiliário, ventilação, organização dos horários, repouso, exercícios físicos, banhos, medidas profiláticas, tempo de recreios e de aulas, seriação das lições, exame clínico dos alunos, vestuários, asseio do corpo, alimentação, etc.
Nunca será demais insistir que cada especialidade tem, dentro da Pedagogia, a sua missão específica. A ela se limitará o respectivo especialista, a fim de evitar conflitos de atribuições e de poderes.
Antropologia
É esta a ciência que faz a história da espécie humana: sua origem, suas raças, evolução, adaptação ao meio, etc. Compreende-se, portanto, como ela interessa à Pedagogia. Tudo quanto diga respeito ao homem importa que seja conhecido pelo pedagogo, pois lhe fornecerá elementos valiosos para julgar o ser humano e para orientar.
Sociologia
Entretanto, agora, na apreciação das ciências que estudam o homem considerado em grupo, também o conhecimento da Sociologia aproveita imenso à Pedagogia.
A Sociologia aproveita muito especialmente ao pedagogo e ao professor. Para estudar a evolução da criança, é preciso considerar atentamente o problema social, porque a personalidade é um produto social. Por isso, ao lado da Sociologia geral, surgiu uma Sociologia educativa.
Esta Sociologia procura estudar o papel da Educação nas sociedades contemporâneas, fixando as relações entre a família e as diversas instituições sociais de um lado e a escola do outro.
Antropogeografia
A Pedagogia também precisa de conhecer a Geografia humana. Este problema, da influência da mesologia sobre o homem, é tão importante, que começa já a surgir um novo ramo da Psicologia, relacionando-a com o meio geográfico: Geopsicologia.
A Antropogeografia não deve confundir-se com a Sociologia, porque esta é fundamentalmente entropocêntrica, ao passo que a Antropogeografia é rescêntrica: A morfologia social não é, nem pode eqüivaler à Geografia humana. Mas, cumpre à Pedagogia considerar as duas ciências.
O educando em face da Pedagogia
O educador só pode começar a exercer, com relativa consciência, a sua atividade, depois de conhecer e de estudar a natureza da criança, na sua progressiva evolução, até atingir o estado de adulta.
De tudo isto, deve concluir-se que a Pedagogia do deixar correr tem de ser substituída por uma Pedagogia firme, capaz de selecionar e de marcar diretrizes ao educando de maneira a valorizar qualidades, abafar defeitos, canalizar ou sublimar instintos, desenvolver inclinações favoráveis, etc.
A este respeito, escreve Ponsard:
“Nas famílias, a criança domina; é rei. Nas escolas, parlamenta-se com ela; deixa-se que ela se organize em grupos. Erro, desacerto. Erro, porque a criança é a última a ver aquilo que é melhor para si. Desacerto, porque os deveres da vida são acima de tudo, deveres de submissão. É por isso que a criança não pode ser preparada para a vida, tal como a irá encontrar, senão por meio da antiga virtude obediência. Não deveis falar muito cedo em respeitar a sua liberdade, que ainda não está formada: em respeitar a sua autonomia, que ainda não sabe estabelecer acordo com o direito dos outros; não deveis falar na sua personalidade, que ainda não se revelou. Desconfiai do individualismo, que chocará com as exigências da vida social. A criança espera a autoridade e tem dela necessidade. E ainda que esta autoridade deva ser confiante, afetuosa e delicada, nem por isso deve deixar de ser real e firme”.
A criança não deve ser adulada ou amimada. Um dos erros da Pedagogia contemporânea tem consistido, precisamente, em agradar demais à criança e em poupar-lhe esforços. Ora há interesses infantis e adolescentes, de natureza psicológica, que urge orientar, canalizar ou contrariar. Se o educador se curvasse perante semelhantes interesses (mitificação, injustiça, abuso de força, comodismo, etc.), seguiria a natureza do educando (é certo), mas atraiçoaria a sua missão formativa. Nenhum educador digno de tal nome deve subordinar-se aos gostos, simpatias ou interesses dos educandos, porque alguns deles são maus ou podem conduzir ao mal. A escola deve habituar o aluno a lutar contra os interesses inferiores ou maus, ensinando-o a vencer-se. A vida é uma luta contínua entre as forças do bem e as forças do mal. É preciso preparar criança para dominar e vencer estas últimas. Pergunta-se, muitas vezes, porque motivo alguns homens falham rotundamente na vida. Isto acontece quando o homem só pensa em evitar o sofrimento e o insucesso, em vez de persistir em triunfar, custe o que custar, sobre as forças do mal.
Em conclusão: a Pedagogia não tem de considerar apenas os métodos de ensino e os programas: tem de considerar as possibilidades do educando e do meio em que ele se move.
INTEGRAÇÃO DO HOMEM NO ESPAÇO
O homem integrado no grupo
A Sociedade não é, rigorosamente, uma soma de indivíduos. Ao nascer, a criança integra-se, num grupo, que protege a sua fraqueza e lhe proporciona a necessária educação. Esse grupo é a família.
Durante alguns anos, a criança vive sobre a influência predominante do grupo familiar: é nele que recebe as primeiras noções de quanto à cerca. É a família que lhe fornece a primeira visão acerca do mundo.
Quando atinge os sete anos, a criança integra-se num novo grupo: a escola. A influência do lar torna-se menos ativa e menos profunda. A mentalidade da criança transforma-se em contato com o grupo escolar.
Como se está vendo, o ser humano nunca vive isolado. Recebe noções básicas e influências do meio-ambiente geral, mas este sobrepõem-se, sempre, um ou mais grupos, que diretamente influem sobre o indivíduo. Depois do grupo escolar, um outro grupo se sucede: o grupo profissional. De novo se encontra integrado num grupo com características diferentes, e que, como estes, lhe conformarão a personalidade, o pensamento e a alma.
Finalmente, pode o homem ingressar ainda, de novo, no grupo familiar, constituindo uma família. Mas agora, entrará este grupo, não como um agente meramente passivo, mas como um agente ativo.
Além disso, dominando a influência direta e específica do grupo sobre o indivíduo, há a considerar a influência geral da sociedade, que corrige os excessos e as deformações inerentes a todas as limitações..
A cada fase da vida individual, corresponde o predomínio de um grupo. O problema educativo não pode, conseqüentemente, isolar-se da ação conformadora dos diversos grupos.
Grupo Familiar
Em princípio, a família deve ser o elemento educador por excelência. Mas dos princípios à realidade, vai uma grande distância. A família pode ser ignorante ou indigna. Mesmo os pais com relativa cultura, nem sempre cumprir os seus deveres. Por outro lado, a visão educativa da família nem sempre é a melhor. Alguns defeitos são inerentes à própria instituição familiar; outros derivam do seu progressivo abastardamento.
Mas o grupo familiar não é, apenas, constituído pelos pais: é formado pelos avós, pelos tios, pelos amigos e pelos criados. Todos estes elementos contribuem, em grau mais ou menos forte, para agravar os defeitos inerentes à família: para entregar as crianças. O Padre Renato Bethlém chama-lhes contra-educadores, porque destroem, paralisam ou dificultam a ação dos elementos responsáveis da educação.
Por outro lado, há ainda a considerar a evolução da família – principalmente nos centros urbanos -, no sentido do enfraquecimento da sua força moral e da sua ação educativa. Com razão observa um autor português que a família está em desagregação, que a sua ação, em certas camadas, é quase nula, quando não contraproducente.
De fato, a família tradicional morreu. A disciplina familiar enfraqueceu tanto, que quase não existe. E, sendo assim, o grupo familiar perdeu em grande parte, a sua força educativa.
Quando se fale, pois, em Educação, é preciso considerar a transformação do grupo familiar, no sentido de o tornar em elemento colaborante com a Escola. A família é uma fonte de estímulos, que é preciso aproveitar convenientemente.
Grupo recreativo
Em todas as idades e em todos os meios sociais se formam grupos desta natureza. As crianças têm tendência para se reunirem em bandos ocasionais ou com relativa fixidez. Fogem de casa, e misturam-se com companheiros de todas as idades e todas as origens sociais, jogando os mais diversos jogos.
Evidentemente, é impossível impedir o grupo recreativo infantil uma vez que o folguedo coletivo e regular é o folguedo por excelência. A única maneira de evitar a perversão exercida sobre a criança – pela rua e por estes grupos de recreio – consiste em disciplinar essas atividades, vigiando-as cuidadosamente, a fim de excluir dos respectivos grupos os elementos indesejáveis.
Já vimos que o grupo pode ser ocasional ou permanente. Mas de uma forma ou de outra deve colaborar com a escola, e não ser inimigo dela. Por isso, a atividade recreativa não pode ser deixada ao acaso, devendo existir uma “coordenação” perfeita entre as atividades recreativas e as atividades escolares.
O grupo de recreio, criado junto das escolas, quando orientado por mestres, especializados, tem mostrado influir, beneficamente, sobre a disciplina escolar, e até sobre a própria atividade profissional.
O grupo recreativo – quer para crianças, quer para adultos – são só da íntima satisfação aos indivíduos, mas também os afastará de muitos vícios e de numerosas atividades anti-sociais.
Grupo cultural
Já vimos que a infância tem espírito gregário. Esse espírito acentua-se progressivamente no período da puberdade. Os novos têm espírito clubista, reúnem-se em grupos, estudam em conjunto, passeiam preferentemente com os mesmos camaradas.
O grupo cultural completaria a ação do grupo recreativo, e serviria de forte estímulo para desenvolver, entre as gerações novas, o gosto pelos problemas da inteligência.
O grupo recreativo estimularia a atividade lúdica; o grupo cultural desenvolveria o espírito, e conduziria, naturalmente, ao estudo, à meditação, à observação científica. Por outro lado, habituaria as gerações imaturas à disciplina e à noção das responsabilidades; prepará-las-ia para a sua vida futura.
O grupo cultural poderá ser de variadíssimas categorias: Religioso, literário, filatélico, científico, de História, de Arte, etc. Só uma coisa lhe deve ser vedada: a política, porque ela corromperia e envenenaria os seus componentes, gerando, entre eles, espírito de partido ou ódio, em vez de espírito de solidariedade, de lealdade e de colaboração.
Está claro que os grupos culturais devem ser exclusivamente de estudantes. Os professores orientá-los-ão, para que eles nunca se desviem da letra dos respectivos estatutos.
Grupo profissional
Este grupo exerce, também inegável influência sobre a formação da personalidade. Pode melhorar o indivíduo ou pode inferiorizá-lo; pode contribuir para o educar, ou anular ou, pelo menos, prejudicar gravemente a ação da escola.
Evidentemente, no grupo profissional deve haver um mínimo de ordem e de respeito, sem o qual é impossível toda e qualquer atividade social. Para existir esse mínimo de ordem, é preciso que haja hierarquia, autoridade, disciplina, justiça, respeito, pontualidade, dignidade, boa camaradagem, moderação e cooperação leal. Tudo isto são virtudes educativas, virtudes educadoras estimuladas na escola.
O grupo profissional tem, por conseqüência, uma altíssima missão educativa a cumprir. Uma coisa, porém, é aquilo que devia ser, e outra coisa é aquilo que é.
De um modo genérico, a profissão deseduca e perverte, em vez de educar. A incapacidade dos chefes provoca, naturalmente, o afrouxamento da disciplina, primeiro de natureza profissional, e depois tornam-se freqüentes, as facilidades degeneram em abuso, e até escândalo; formam-se subgrupos, partidos e facções. Há tempo para tudo: incita-se o trabalhador zeloso a não trabalhar, simula-se que se trabalha, fala-se mal ...Muitas vezes, deixa de haver higiene física e higiene moral.
Grupo religioso
Quase sempre, são os pais que ensinam as primeiras noções de religião; mas logo que a criança atinge uma certa idade, é entregue a um grupo especial, que a instrui metodicamente: é o grupo da Catequese ou da Discipulação. É através deste grupo, que a criança recebe variadíssimas noções de natureza moral sobre caridade, deveres para com o próximo, respeito para com os superiores, princípios do bem e do mal, deveres de obediência, etc.
O próprio grupo religioso estabelece, muitas vezes, escolas confessionais, promovem conferências, mantém obras sociais de caridade, cria organismos para a juventude, estimula sentimentos altruístas, etc.
É claro que o problema que diz respeito à instrução e educação religiosas é sempre delicado. A criança tem a sua lógica, tem a sua maneira própria de pensar. Há tentativas de ordem espiritual, que ela é incapaz de realizar; há raciocínios que ele é incapaz de seguir; há aspectos do conjunto que ela é incapaz de aprender.
Grupo escolar
A Escola não é apenas o professor. A ação da Escola não se limita à ação isolada dos professores e das aulas. A Escola é comunidade, uma sociedade de natureza especial, formada por diversos elementos.
Em rigor, a missão de ensinar e de educar compete exclusivamente ao corpo docente. O professor recebe uma preparação especial para formar as crianças sob o ponto de vista moral, intelectual, profissional e social. Neste fato reside a superioridade da escola sobre a família. Os pais não recebem preparação alguma de natureza pedagógica. Os professores são instruídos neste sentido.
Mas nós repetimos que a escola não é apenas o mestre. O educando não está apenas em contato com o professor: está em contato com os camaradas, com o pessoal de secretária e com o pessoal menor. A aula é apenas uma parte da atividade escolar. Entre as diversas aulas, há recreios, há intervalos, há contatos, mais ou menos intensos com os camaradas da mesma classe ou das outras classes. Além disso, quando se dirigem para a escola, as crianças vão umas com as outras e, quando saem, saem, regra geral, em grupos.
Os camaradas são, pois, um elemento a considerar, com a maior atenção, dentro da escola, porque também os condiscípulos contribuem para a educação da criança, por meio da pressão moral que a comunidade exerce sobre cada indivíduo, fazendo surgir um espírito comum de classe, que favorece algumas tendências e reprime outras.
É verdade que os maus camaradas estragam: é verdade que certos companheiros, porque são audaciosos e perversos, porque têm habilidade e poder sugestivo, perdem muitas crianças. Mas semelhante fato de modo algum nos deve levar a condenar o espírito de convivência e de camaradagem.
Se o professor se esquecer de que a escola é comunidade, na qual pesam outros fatores – além da sua palavra, do seu exemplo e do seu ensino -, não cumprirá o seu dever, e a escola não estará à altura da sua missão. É pela escola que, verdadeiramente, começa a socialização da criança, e é preciso que essa socialização seja realizada com método e consciência, de modo a evitar sugestões más ou contágios nocivos.
O diretor de escola e, de modo geral, o corpo docente têm de abrir as janelas da escola sobre a vida, acompanhando-lhe todos os movimentos e pulsações, dirigindo-lhes com prudência. Afirma-se modernamente, que, em Pedagogia, é a ação e não a adesão que deve suscitar-se. É na escola que se deve contrariar o egoísmo e ensinar os deveres do cidadão para com os outros homens e para com a própria comunidade.