Resumo de ESCATOLOGIA
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CURSO: BACHAREL EM TEOLOGIA LIVRE.
NOME: KURT VIEHMAYER RODRIGUES.
RESUMO DA DISCIPLINA ECLESIOLOGIA.
Eclesiologia é o estudo teológico referente à igreja. Em cada etapa da história e desenvolvimento da igreja, têm surgido necessidades de modificações organizacionais específicas para facilitar que a igreja cumprisse com o seu propósito. Do grego vem o termo igreja que se usa em vários contextos e com vários sentidos no português. O termo pode vir a designar uma congregação local, uma denominação, uma causa, a igreja de caráter universal ou “invisível” ou até um prédio onde se reúne um grupo de adoradores.
Igreja é “um agrupamento de crentes que vivenciam um relacionamento de dependência (fé) em Jesus Cristo, unindo-se para cumprirem a missão entregue por Deus”. Na Bíblia, a igreja não é uma instituição, mas um organismo vivo que se vai transformando em termos organizacionais. De certa forma a igreja é, conforme implicação de Romanos 9.25 e 1a Pedro 2.9-10, o povo de Deus em desenvolvimento. Logo, ao tratar da igreja, é necessário tratar de dois aspectos da mesma: o organismo e a estrutura organizacional que se vem desenvolvendo naturalmente. Esta é necessária, mesmo que não deva ser vista como o aspecto principal.
No estudo de eclesiologia deve ser visto em especial certos conceitos específicos. Talvez o conceito mais importante a ser estudado é o conceito do “Reino de Deus”.
“O Reinar de Deus”.
O conceito do Reinar de Deus é a categoria principal no estudo da escatologia, porém é na igreja que este reino tem o seu começo e a sua concretização primária. “No Novo Testamento, o reino de Deus é principalmente o seu reinar nas vidas daqueles que se submetem à sua autoridade”. Logo, o termo “reino de Deus” pode ser definido como o Seu “governo em ação”, ou o “reinar de Deus”. Segundo as declarações de Jesus, o Seu reinar já é “uma realidade na história humana”. Deus já reina entre o povo, mesmo que não de forma política ou teocrática no sentido ideal da aliança sinaítica.
O povo de Israel dava muita ênfase à questão de viverem diretamente sob o reinado de Deus, mas pode-se ver que esta realidade nunca teve uma concretização plena.
Quando as multidões queriam fazer de Jesus o seu rei, Ele não aceitou tal proposta por ser um desvio completo do propósito maior do seu ministério. Perante Pilatos, negou de novo que seu reino fosse como os reinos deste mundo. O seu reinar era uma questão do interior, não da relação nacional externa.
João, o Batista, chamou o povo judeu a se tornarem filhos de Abraão e não confiarem em sua herança nacional, mas Jesus leva o conceito mais adiante, rejeitando a ideia da identificação do Messias com um rei de força política, enfatizando a aceitabilidade dos rejeitados pela sociedade e a transformação interior do indivíduo.
A igreja não é o reino, mas ela é criatura ou veículo para a extensão do reino de Deus. O reinar de Deus na vida humana cria a comunidade pertencente ao reino, a qual chamamos de igreja.
A fé bíblica não é institucional, porém é indiscutivelmente comunitária enquanto individual, e é nesse contexto que o reinar de Deus existe no mundo. A relação entre a igreja e Cristo é de fato muito íntima; trata-se de uma espécie de união orgânica, pela qual nos unimos a ele em nossa vida e nosso ser.
O Reinar não é apenas uma realidade que se aproxima no contexto do ministério terreno de Jesus, mas é também algo que é concretizado.
Nos evangelhos, o reinar de Deus é tratado simultaneamente em tempo presente e futuro, mesmo que em sua maior parte seja tachado em termos de uma expectativa futura:
[Mateus 12.28 e Lucas 11.20] aparentemente indicam que o reino não apenas está perto, mas que há realmente chegado. … O reino está perto no sentido de que não há sido consumado; está presente no sentido de que o poder de Deus que o caracteriza havia começado a manifestar-se nas palavras e ações de Jesus e continua a fazer o mesmo na igreja.
Quando a Bíblia trata de épocas após o ministério de Jesus, visa menos futuricidade do que quando referencia o reino em época do seu ministério. Ao mesmo tempo, permanece a expectativa de um complemento à realidade do reino já experimentada nas vidas dos crentes. Tal expectativa, porém, encontra a sua expressão na base daquilo que Jesus já havia realizado. “A confissão cristã não é apenas de que Cristo virá ao final da história, mas que Cristo já veio; não apenas que a salvação espera o crente no futuro escatológico, mas que a salvação já é experimentada, numa forma antecipatória, porém real, no aqui e no presente, no meio de problemas e não apenas ao seu fim. O presente é moldado não apenas pelo passado, mas também pelo futuro de Deus”.
Jesus pregava muito referente ao reinar de Deus. O reinar de Deus depende de uma entrega relacional a Deus como Pai amoroso. Depende de uma obediência e disposição de desprender-se do ego, procurando dar primeira importância aos demais, mantendo-se em último lugar. É um relacionamento de confiança e desprendimento, um desprendimento que concede a oportunidade para servir ao próximo em amor e sinceridade.
O discípulo fiel pode servir e doar-se ao próximo, pois a sua vida não pertence a si, pertence a Deus. O cidadão que tem Jesus como seu Rei pode dispor sua vida a serviço do próximo, pois não é nada mais do que mordomo das bênçãos de Deus. Como o reinar de Cristo não pertence a este mundo, também o cidadão do reinar de Cristo aceita pertencer a outro mundo e outro padrão de vida e valores. É essa qualidade de reinar que Jesus inaugurou. Não o externo, mas a entrega interna para seguir a Deus em fidelidade, confiança e dependência.
O reinar de Deus já foi inaugurado. Já é hora de optar pela cidadania celestial. É uma cidadania a ser prestigiada e vivida já e para todo sempre!
“Missão”:
O reinar de Deus implica em deixar que Deus cumpra a Sua missão entre aqueles que pertencem ao reino. É a aceitação das responsabilidades da missão que introduzem o indivíduo ao reinar de Deus. Existe um duplo enfoque da missão em seu relacionamento com o reinar de Deus: a missão tem aspecto interior - a aplicação pessoal do ensino e da vida do reinar de Deus; e o seu aspecto exterior - o levar a mensagem do reinar de Deus aos demais.
O aspecto interior da missão da igreja visa a preparar os integrantes para a sua missão externa. Esta preparação é ativa, como se pode ver no modelo de Jesus, enviando os seus discípulos em mais de uma instância para cumprir com exigências da missão exterior. Vale lembrar que os discípulos eram indivíduos menos do que qualificados, especialmente ao ver que, mesmo depois da crucificação de Jesus, relutavam em aceitar que era necessário que Jesus morresse. Deve-se lembrar de fazer distinção entre os termos “missão” e “missões”.
Por “missão”, trata-se da raison d’etre da igreja, seu propósito no mundo. Missão é um termo de importância suprema para a eclesiologia. Como fora observado, “não é a igreja que tem uma missão, mas é o inverso: a missão de Cristo criou a igreja. Não é a missão da igreja que se deve entender, mas o inverso”. Mais do que deixar uma igreja, Jesus deixou uma tarefa a ser cumprida por seus discípulos. Esta missão gera estruturas para que ela possa ser levada adiante. Sem missão, a igreja não existe.
A missão é o propósito de efetivar o reinar de Deus dentro dos parâmetros da história. Mesmo que o conceito de “missões” esteja ligado intimamente à missão da igreja, o conceito é distinto.
Missões tem a ver com os meios usados para levar adiante a missão externa da igreja entre todos os povos. A missão da igreja inclui também aspectos do amadurecimento e discipulado do individuo e da igreja local como um corpo. Mesmo que a tarefa missionária seja de “discipular as nações”, o conceito “missões” reflete sempre a questão do envio de obreiros.
A missão da igreja, por outro lado, é mais global já que inclui a obra missionária como um aspecto do propósito eclesiástico. A missão não requer por si a questão do envio, mas do cumprir com o propósito de discipular.
A missão da igreja deve reger todo o esforço, direcionando toda a atividade e estrutura para que ajude a cumprir com o propósito da igreja.
NATUREZA DA IGREJA:
Onde, então, está a verdadeira igreja ante a diversidade de tantas igrejas?
A igreja é uma, pois Cristo é um. Aqueles que são unidos a Cristo são unidos à Sua igreja e um ao outro.
A igreja é diversa porque nenhuma comunidade de fé ou comunhão de crença, nenhuma congregação ou denominação, pode cumprir todo o evangelho tudo de uma só vez.
Há uma tensão a ser mantida aqui entre a igreja em sentido local e universal, pois a igreja local é a expressão corpórea da igreja única em uma localidade específica. É a expressão da igreja única onde quer que ela seja encontrada. A igreja local é expressão do todo - a igreja universal - e ao mesmo tempo uma expressão parcial.
Diversas formas da igreja existem, não porque o evangelho é relativo ou ‘aguado’ para atingir cada possível circunstância, mas porque o evangelho é relevante, respondendo às divergentes necessidades de pessoas, culturas, e sociedades.
O que é a igreja?
É uma comunidade histórica que começa com Deus e é fundada em Cristo Jesus!
É testemunha ao Seu evangelho em seu culto e fé, trabalho e memória! Através do seu testemunho em palavra e serviço, a igreja aponta não para si, mas para Cristo!
A igreja está continuamente em processo. É uma noiva sendo preparada para Cristo (2a Coríntios 11.2); é uma comunidade de peregrinos, escolhidos, mas ainda não completos, sempre seguindo em direção à promessa do reino de Deus.
Fazer a pergunta ‘O que é a igreja?’ é procurar ‘pela cidade que tem cimentos, cujo construtor e criador é Deus’ (Heb. 11.10)”.
A igreja é um organismo vivo, a acoplação dos santos, o povo de Deus na face da terra.
Nem todo membro de igreja local visível faz parte, e nem todo aquele que não faz parte de uma igreja local visível está fora da igreja.
Como um conceito:
Igreja é "um agrupamento de crentes que vivenciam um relacionamento de dependência (fé) em Jesus Cristo, unindo-se para cumprirem a missão entregue por Deus"!
A igreja é muito mais do que uma congregação local e é muito mais do que uma estrutura e instituição. Usa-se o retrato da igreja local como auxílio na visualização concreta do conceito, porém lembra-se a necessidade de olhar além dos aspectos institucionais, formais e estruturais.
Toda a estrutura e organização elaborada pode ser benéfica, mas deve sempre ser associada ao propósito da igreja, missão que parte de sua verdadeira natureza. A Bíblia não estabelece um sistema organizacional para a igreja, nem contraria a sua elaboração. O que ela oferece é uma missão a ser cumprida.
O ideal de união para a igreja nunca chegará a completa satisfação na terra, em função de posições teológicas diferenciadas entre grupos componentes da Igreja. Estas diferenças surgem de início em decorrência da incapacidade humana de plena compreensão da Bíblia em sua íntegra e da debilidade humana em compreender plenamente a vontade do Deus infinito, revelado em Cristo Jesus.
Dentro da igreja local, há algo da mesma necessidade, porém espera-se que os indivíduos de uma congregação poderiam mais facilmente cooperar entre si. A união esperada não é que todos sejam igualmente amigos íntimos, mas que todos tenham respeito cada um pelo outro e procurem atuar entre si em amor. Nestes parâmetros, é possível viver em harmonia e união para em conjunto cumprirem com a missão da igreja.
A união da igreja deve também ser vista no contexto do sacerdócio de todos os crentes. Como Lutero afirmava, não cabe distinção entre clero e leigo.
Todo membro da igreja deve ser ensinado que tem uma responsabilidade sacerdotal em relação aos demais. Tal responsabilidade compreende o seu ministrar mesmo enquanto recebe a ministração de outros.
Cada um deve interceder pelo outro e ensinar ao outro, até corrigindo quando for necessário. Não há razão convincente para limitar certas funções eclesiásticas a um clero oficial.
A razão pela consagração de pastores deveria ser principalmente um ato de confirmação de confiança na vocação do ministro. Em nada deve ser visto em termos de um exercício com exclusividade de práticas ministeriais. A missão da igreja é de todos!
No Novo Testamento, são diáconos e missionários que são “comissionados”, “consagrados”, ou “ordenados”, não sacerdotes ou pastores.
Algo da natureza da igreja é espelhado nas seguintes figuras:
-Povo de Deus;
-Corpo de Cristo;
Noiva de Cristo;
Esposa de Deus;
Templo do Espírito do Santo;
-Santos;
Povo eleito;
-Filhos de Deus;
-Ramos da videira;
-Galhos da oliva;
-Lavoura;
-Horta;
-Edifício;
-Sacerdócio;
-Nação santa;
-Luzeiro;
-Coluna da verdade;
-Baluarte da verdade;
-Lavradores da vinha;
-Integrantes do reino de Deus;
-Amigos de Jesus;
-etc...
Estas descrições e metáforas são usadas de formas diferentes, espelhando certos aspectos da natureza, do ideal, ou da dura realidade no quotidiano da igreja.
Grande parte da expectativa judaica referente ao Messias girava em torno de um reino político e geográfico. Jesus, no entanto, declarava claramente que o reino dele não era político. Ele pregava o reinar de Deus no interior do ser humano, enfatizando que mesmo o jugo romano sobre Israel do seu dia não era tema de interesse.
Jesus não tinha interesse político, nem em sentido pessoal de reinar, nem em libertar Israel da opressão romana.
Por outro lado, ensinou em vários contextos da necessidade do povo ser fiel em servir a Deus de forma comprometida.
O reinar de Deus por sua mensagem era algo interior, não uma questão nacional, institucional ou de outra forma externa ao indivíduo. Sua pregação era com respeito ao compromisso interior com Deus. Logo, questões de Israel como um povo soberano são considerações ignoradas por Jesus por não terem importância.
É comum tratar a adoração como parte do propósito ou missão da igreja. Existe um problema nessa designação, resultando de uma compreensão falha do termo adoração. O conceito original de adoração é muito mais amplo no aspecto da forma, do que na maneira pela qual o termo é utilizado em círculos evangélicos atuais. Em geral, o termo vem sendo aplicado em relação à música ou à prestação de um culto formalizado, no qual se proclama a grandeza de Deus. Hebreus 9.14 clarifica a questão no contexto de obras mortas, sendo comparadas a serviço de adoração real a Deus. O que é enfatizado aqui é o servir a Deus, não em cantos e hinos, mas na prática do reinar de Deus com base na salvação alcançada em Cristo.
Em Apocalipse 4.7-11, a perspectiva do culto a Deus se equipara com Isaías 6, onde o enfoque é expressamente a grandeza e incomparabilidade de Deus . Nesta adoração, Isaías se prontifica a serviço em anúncio da mensagem, o que parece ser o propósito do culto em si. Isaías vê a grandeza de Deus e a sua consequente necessidade de se encurvar perante o Altíssimo em serviço. São levados a contemplar a sua necessidade, fraqueza e inadequação perante a identidade de Deus, assim dando a Deus real louvor.
Como a igreja é integrada por seres humanos falhos, há uma constante necessidade de avaliar as formas e práticas existentes em relação não somente à missão, mas também de acordo com a sua natureza ideal. A igreja é de certa forma um organismo vivo e precisa adaptar-se a novos contextos para permanecer fiel à sua natureza e ao seu propósito. As investigações e preocupações da Reforma partiram do contexto histórico-cultural que os reformadores vivenciaram. Havia abusos para serem corrigidos na sua época, como também no presente. A correção de alguns erros já possibilita a correção de outros menos aparentes de início.
ESTRUTURA E GOVERNO DA IGREJA:
“A Igreja de Cristo não faz leis nem mandamentos à parte da Palavra de Deus; portanto, todas as tradições humanas não nos podem sujeitar, a não ser que estejam embasadas ou prescritas na Palavra de Deus”.
A Igreja deve refletir o mais estritamente possível a perspectiva bíblica de sua natureza e propósito. Sua atividade, sua estrutura e sua organização devem partir de uma base bíblica sólida.
A igreja existe para dar continuidade ao ministério de Jesus. A estrutura da igreja, portanto, tem função e razão de ser apenas no espelhar essa realidade.
Vale ressaltar que a Bíblia não mantém a distinção atual entre o evangelizar e o discipular. O termo “evangelizar” no sentido neotestamentário é “pregar as boas novas de Cristo”, o que retrata a mensagem completa de Jesus desde o que se chama hoje de “plano de salvação” até os ensinamentos mais difíceis de compreender. A prática atual é de reservar a mensagem mais polêmica ou difícil para os adeptos, procurando suavizar a apresentação pública do evangelho.
O que a Igreja apresenta são várias formas organizacionais em uso no decorrer do desenvolvimento da igreja durante o primeiro século. A igreja passou por liderança direta dos apóstolos. Com a necessidade, acrescentou servos à liderança administrativa (diáconos) e encontrou necessidades em certos contextos da elaboração de concílios de anciãos e bispos na supervisão do andamento da igreja local. Nenhuma destas formas foi colocada como sendo a forma definitiva, mas cada qual respondeu à necessidade que um certo grupo de crentes enfrentava.
Existem na atualidade, várias formas de governo eclesiástico, desde os grupos que negam uma estrutura visível, incluindo o sistema congregacional, episcopal e presbiteriano.
As formas de organizar e estruturar a igreja não são tão importantes como a questão de suas utilidades para se cumprir a missão. Quando a estrutura cria condições para fomentar a ativação da missão da igreja, ela é benéfica.
LIDERANÇA:
O exemplo supremo de liderança em Jesus Cristo ressalta em particular o caráter do individuo, expresso em servir aos demais em detrimento pessoal. Perante o Novo Testamento, tratamos assuntos de liderança, enxergando-se os seguintes detalhes:
-Paulo tinha a tática de começar seu trabalho com judeus, aparentemente para ter líderes já versados nas Escrituras e cumprindo com um estilo de vida já próximo ao ensino de Jesus, os quais poderiam auxiliar rapidamente na pregação e ensino da Palavra de Deus (já tinham um conceito arraigado de monoteísmo, moralidade, etc.);
-Paulo reúne um corpo de líderes para atuar em conjunto consigo e para dar seguimento ao trabalho que ele começa. Daí ele coloca em prática um sistema de ministério compartilhado com a inclusão de vários pregadores e professores. Seu ministério é levado adiante em grupo, não a sós;
-Os termos bíblicos “profeta” e consequentemente “profecia” chegam mais perto do uso atual dos termos “pregador” e “sermão” do que os conceitos atuais de profecia como sendo futurística;
-Paulo quebra com normas de liderança judaica, mas demonstra certo respeito às mesmas;
-Paulo abnegou seus direitos de cidadão romano em Filipos, mesmo quando esses direitos o teriam protegido dos açoites. Isso deve ser levado em consideração na qualificação do caráter do indivíduo;
-Paulo considera que a idade não tem a importância que era dada entre os judeus, pois deixa Timóteo servir no ensino antes de chegar à idade normativa de trinta anos;
-Paulo aceita e recomenda mulheres para cargos visíveis na igreja (Febe é considerada diácona da igreja e recomendada por Paulo nesta posição);
-Atos 21.8 menciona quatro filhas de Filipe como tendo o dom da profecia, esta sendo em outras passagens descrita como o dom maior. Também o Antigo Testamento inclui mulheres na lista de profetas;
-Jesus e Paulo elevaram em muito o status conferido à mulher em relação ao contexto social;
-Em geral, as igrejas no Novo Testamento têm mais do que uma só pessoa exercendo funções de liderança formal;
-Na Bíblia o termo “pastor” geralmente designa a função educadora na igreja, o termo “bispo” refere-se mais a funções supervisionais, o termo “diácono” refere-se a funções administrativas e o termo “profeta” refere-se mais ao ministério da pregação da Palavra de Deus no sentido da aplicabilidade da vontade divina ao contexto vivido;
-Na conversa com Marta e Maria, Jesus aceita e aprova que Maria se coloque na posição de discípula, deixando de lado as suas obrigações sociais como mulher. Sentar aos pés de um mestre era expressão de discípulo que se sentava para aprender - privilégio reservado apenas aos homens.
Muito se pode extrair para tratar questões de capacitação e qualificação de líderes da igreja, mas um elemento essencial a ser lembrado é o da existência de múltiplos ministros exercendo funções ministeriais na igreja local, não um individuo atuando sozinho. É salutar lembrar que os diáconos foram escolhidos para cumprir com tarefas administrativas expressamente para que os apóstolos se dedicassem ao estudo da Palavra de Deus e ao seu ensino. A prática de muitas igrejas, no entanto, é de forçar o seu pastor a cumprir primeiramente as tarefas administrativas e públicas, podendo estudar e preparar-se para o ensino somente no tempo que lhe sobrar. Esse modelo comumente aplicado na prática não é bíblico.
O testemunho bíblico também dá espaço para o exercício do ministério feminino. Mesmo que algumas passagens tenham aparência inicial de eliminar a opção de ministério de mulheres, muitas passagens não somente abrem oportunidade, mas refletem de maneira positiva a atuação de mulheres em posições ou cargos de liderança nas igrejas do Novo Testamento.
A norma bíblica espera ver homens na liderança da igreja, mas não nega a ocasião do ministério da mulher, mesmo como profeta, pregando a Palavra de Deus. Lembra-se que se for difícil para a liderança de uma mulher ser aceita na igreja atual, tal era muito mais difícil numa época em que a maioria dos homens pensava na mulher como mercadoria para ser usada, trocada, vendida e descartada.
Foi num contexto desses que Paulo escreveu “não há macho nem fêmea; pois todos somos um em Cristo Jesus”.
Jesus tem críticas severas para os líderes religiosos do seu tempo. O problema não era inerente às estruturas em si, nem o haver ou não liderança específica ou capacitada. A razão da crítica se radicava no distanciamento que o institucionalismo havia posto entre as formas religiosas do relacionamento do indivíduo com Deus.
Estruturas sempre existirão e sempre serão necessárias, mas elas nunca deveriam ser um fim em si. Assim não se deveria deixar que o relacionamento com Deus se transformasse num relacionamento com uma estrutura, uma organização, uma instituição ou com um padrão de conduta externa (legalismo).
As estruturas precisam sempre estar sob reforma e readequação, procurando sempre a forma mais adequada para encorajar o indivíduo no seu relacionamento de dependência de Deus e no cumprimento da missão. Nunca se deve deixar que as estruturas tomem o lugar do compromisso interior com Deus.
ORDENANÇAS DA IGREJA:
Ao tratar temas de ordenanças e sacramentos da igreja, é necessário primeiramente fazer distinção entre os dois termos.
Por sacramento, entende-se um ritual que transmite a graça salvífica de Deus, não apenas como ritual simbólico. Graça nesse sentido pode-se quase definir como uma substância a ser medida ou parcelada.
Por ordenança, comunica-se de forma contrária que a graça não é substância, mas uma disposição relacional divina. Como Barth usa o termo, “Graça é o relacionamento de Deus com o homem que não admite concessão”.
A ordenança, portanto, não é salvífica, enquanto que o sacramento é considerado como um ritual que contribui e confere a salvação.
DISCIPLINA DA IGREJA:
Nesta passagem, encontra-se o ensino bíblico mais claro e específico em termos gerais com respeito à disciplina na igreja. Vale salientar que o tema
trata da necessidade de fazer pouco da importância própria, colocando a vida em dependência para com Deus. Neste contexto, Jesus começa ensinando sobre a seriedade do pecado, já que teve que responder às preocupações dos discípulos em defender as suas posições de importância no reino.
Respondida a preocupação de grandeza no reino, Jesus relaciona esta preocupação e contesta todo o esforço dos judeus para manter o corpo inteiriço, mesmo depois da morte, para poder entrar no reino apocalíptico (no seu conceito de ressurreição) com o corpo inteiro.
A resposta crítica de Jesus é de que estão se preocupando com o aspecto errado, até mesmo insignificante. A preocupação de ter o corpo intacto estava gerando neglicência no necessário para o mero ingresso no reino. Jesus coloca, portanto, que os judeus, como também os seus discípulos, estavam enfatizando detalhes insignificantes, servindo assim de tropeço para os demais. Neste contexto, Jesus salienta a seriedade do tropeço e de levar o outro a tropeçar.
É dentro desse contexto que Jesus enquadra o ensino referente à “disciplina” e ao perdão. A ênfase de Jesus é na necessidade de reconciliar o irmão, mesmo abusando de recursos para conseguir a reconciliação. Uma pergunta tem sido sugerida: “Deve-se perdoar mesmo se…?” Pelo texto de Mateus 18, deve-se perdoar sem motivo qualquer.