Resumo de FILOSOFIA DA RELIGIAO
Warning: Undefined array key "admin" in /home3/teolo575/public_html/paginas/resumo.php on line 64
CURSO DE BACHAREL LIVRE EM TEOLOGIA.
NOME: KURT VIEHMAYER RODRIGUES.
RESUMO DA DISCIPLINA FILOSOFIA DA RELIGIÃO
A necessidade de dar sentido ao mundo que o cerca levaram o homem a fundar diversos sistemas de crenças, cerimônias e cultos, muitas vezes centrados na figura de um ente supremo que o ajudam a compreender o significado último de sua própria natureza.
Mitos, superstições ou ritos mágicos que as sociedades primitivas teceram em torno de uma existência sobrenatural, inatingível pela razão, equivaleram à crença num ser superior e ao desejo de comunhão com ele, nas primeiras formas de religião.
Religião (do latim religio, cognato de religare, “ligar”, “apertar”, “atar”), constitui um corpo organizado de crenças que ultrapassam a realidade da ordem natural e que tem por objeto o sagrado ou sobrenatural, sobre o qual elabora sentimentos, pensamentos e ações.
Essa definição abrange tanto as religiões dos povos ditos primitivos quanto as formas mais complexas de organização dos vários sistemas religiosos, embora variem muito os conceitos sobre o conteúdo e a natureza da experiência religiosa.
Aquelas características, que de certa forma não distinguem uma religião de outra, levaram ao debate sobre religião natural e religião revelada, o que recebeu significação especial nas teologias judaica e cristã. O americano Mircea Éliade, historiador das religiões, denominou “hierofania” a essa manifestação do sagrado, ou seja, algo sagrado que é mostrado ao homem. Seja a manifestação do sagrado uma pedra ou uma árvore, seja a doutrina da encarnação de Deus em Jesus Cristo, trata-se sempre de uma hierofania, de um ato misterioso que revela algo completamente diferente da realidade do mundo natural, profano.
O sagrado e o profano configuram duas modalidades de estar no mundo e duas atitudes existenciais do homem ao longo de sua história. Contudo, as reações do homem frente ao sagrado, em diferentes contextos históricos, não são uniformes e expressam um fenômeno cultural e social complexo, apesar da base comum.
As religiões politeístas afirmam a existência de vários deuses, aos quais rendem culto. Existem duas teorias contraditórias sobre a origem do politeísmo: para alguns, é a forma primitiva da religião, que mais tarde teria evoluído até o monoteísmo; para outros, ao contrário, é uma degeneração do monoteísmo primitivo.
O politeísmo reflete a experiência humana de um universo no qual se manifestam diversas formas de poder sobre-humano; no entanto, nas religiões politeístas ocorre com freqüência uma hierarquia, com um deus supremo que reina e que, em geral, pode ser a origem dos demais deuses. O problema do politeísmo seria delimitar o que se entende como deus ou como algo sobre-humano. Politeístas foram a religião grega e a romana
O panteísmo é uma filosofia que, por levar a extremos as noções de absoluto e de infinito, próprias do conceito de Deus, chega a considerá-lo como a única realidade existente e, portanto, a identificá-lo com o mundo.
O deísmo reconhece a existência de Deus enquanto constitui um ser supremo de atributos totalmente indeterminados. Essa doutrina funda-se na religião natural, que nega a revelação. O que o homem conhece a respeito de Deus não decorre apenas das deduções da própria razão humana.
O monoteísmo professa a crença num Deus único, transcendente, distinto e superior ao universo, e pessoal. Um dos grandes problemas do monoteísmo é a explicação da existência do mal no mundo, o que levou diversas religiões a adotarem um sistema dualista, o maniqueísmo, fundado nos princípios supremos do bem e do mal.
As grandes religiões monoteístas são o judaísmo, o cristianismo, que professa a existência de um só Deus, apesar de reconhecer, como mistério, três pessoas divinas e o islamismo.
Elementos característicos dos sistemas religiosos. Os princípios elementares comuns à maioria das religiões conhecidas na história podem agrupar-se nos seguintes capítulos: crenças, ritos, normas de conduta e instituições.
Toda religião pressupõe algumas crenças básicas, como a sobrevivência depois da morte, mundo sobrenatural etc., ao menos como fundamento dos ritos que pratica. Essas crenças podem ser de tipo mitológico, relatos simbólicos sobre a origem dos deuses, do mundo ou do próprio povo; ou dogmático, conceitos transmitidos por revelação da divindade, que dá origem à religião revelada e que são recolhidos nas escrituras sagradas em termos simbólicos, mas também conceituais.
Os conceitos fundamentais organizam-se, de modo geral, em um credo ou profissão de fé; as deduções ou explicações de tais conceitos constituem a teologia ou ensinamento de cada religião, que enfoca temas sobre a divindade, suas relações com os homens e os problemas humanos cruciais, a morte, a moral, as relações humanas etc.
Entre as crenças destaca-se, em geral, uma visão esperançosa sobre a salvação definitiva das calamidades presentes, que pode ir desde a mera ausência de sofrimento até a incógnita do nirvana ou a felicidade plena de um paraíso. A manifestação das próprias crenças e anseios mediante ações simbólicas é inerente à expressividade humana.
Da mesma forma, as crenças e sentimentos religiosos têm se manifestado através dos ritos, ou ações sagradas, praticados nas diferentes religiões. Até no budismo, contra o ensinamento de Buda, desenvolveram-se desde o começo diversas classes de rituais. Toda religião que seja mais do que uma filosofia gera uma série de ritos ao ser vivida pelo povo. Existem ritos culturais em honra à divindade, ritos funerários, ritos de bênçãos ou de consagração e muitos outros.
Observa-se em geral, nas diversas religiões, a existência de ministros ou sacerdotes encarregados de celebrar os principais rituais e, em especial, o culto à divindade. Os atos mais importantes desse culto são oferendas e sacrifícios praticados em conjunto, com invocações e orações.
Com frequência celebram-se os ritos em lugares e épocas considerados sagrados, especialmente dedicados à divindade, e observados com escrupulosa exatidão através dos tempos.
Outra característica de toda religião é o estabelecimento, mais ou menos coercitivo, de normas de conduta do indivíduo ou do grupo no que se refere a Deus, a seus semelhantes e a si mesmo. O primeiro comportamento exigido é a conversão ou mudança para um novo modo de vida. Com relação a Deus, destacam-se as atitudes de veneração, obediência, oração e, em algumas religiões, o amor. Na conduta no âmbito da esfera humana entra, em maior ou menor medida, um sistema de normas éticas.
Quase todas as religiões cristalizam-se em algumas instituições dogmáticas (doutrinárias) e cultuais (sacerdócio, hierarquia).
“A filosofia da religião é o estudo lógico dos conceitos religiosos e dos conceitos, argumentos e expressões teológicos: o escrutínio de várias interpretações da experiência e das atividades religiosas.
O filósofo que pratica a mesma não precisa dedicar-se a religião que estiver estudando. A filosofia da religião deve ser distinguida da apologética. Novamente, não é idêntica à teologia natural, visto que o filósofo da religião também pode ocupar-se na avaliação de alegadas revelações”.
Às etapas da evolução da filosofia no interior do cristianismo correspondem, historicamente, as fases: de formação, do século IX ao XII; de apogeu, no século XIII; e decadência, do século XIV ao XVII, da filosofia escolástica. Da submissão à fé, representada esta pela igreja, instância heterônoma em face da razão e da posição de compromisso, a filosofia evoluiu, acompanhando a desintegração do feudalismo e o advento do mundo burguês, até alcançar, com Descartes e o idealismo alemão, sua plena autonomia.
O pensamento aristotélico, que se tornou conhecido no Ocidente no século XIII em traduções do árabe, serviu de fundamento ao pensamento racionalista e ameaçou a concepção cristã da realidade, tradicionalmente apoiada no platonismo.
A filosofia de santo Tomás de Aquino compatibilizou o pensamento lógico e racional com a fé cristã. No Concílio de Trento, a doutrina tomista ocupou lugar de honra e, a partir do papa Leão XIII, foi tomada como pensamento oficial da Igreja Católica.
Tomismo é a doutrina filosófico-cristã elaborada no século XIII pelo dominicano Tomás de Aquino, estudioso dos então polêmicos textos do filósofo grego Aristóteles, recém-chegados ao Ocidente.
Tomás de Aquino dedicou-se ao esclarecimento das relações entre a verdade revelada e a filosofia, isto é, entre a fé e a razão. Segundo sua interpretação, tais conceitos não se chocam nem se confundem, mas são distintos e harmônicos.
A teologia é a ciência suprema, fundada na revelação divina, e a filosofia, sua auxiliar. À filosofia cabe demonstrar a existência e a natureza de Deus, de acordo com a razão. Só pode haver conflito entre filosofia e teologia, caso a primeira, num uso incorreto da razão, se proponha explicar o mistério do dogma religioso sem auxílio da fé.
Os argumentos que para Tomás de Aquino demonstram a existência de Deus são:
-A “causa primeira”: toda causa é efeito de outra, mas é necessário que haja uma primeira, causa não causada, que seria Deus.
-O “ser necessário”: todos os seres são finitos e contingentes (“são e deixam de ser”). Se tudo fosse assim, todos os seres deixariam de ser e, em determinado momento, nada existiria. Isto é absurdo; logo, a existência dos seres contingentes implica o ser necessário, ou Deus.
-O “ser perfeitíssimo”: os seres finitos realizam todos determinados graus de perfeição, mas nenhum é a perfeição absoluta; logo, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições, que seria Deus.
-A “inteligência ordenadora”: todos os seres tendem para uma finalidade, não em virtude do acaso, mas segundo uma inteligência que os dirige. Logo, há um ser inteligente que ordena a natureza e a encaminha para seu fim; esse ser inteligente seria Deus.
Como primeira tentativa coerente de elaborar uma concepção do mundo cujo centro fosse o próprio homem, pode-se considerar o humanismo a origem de todo o pensamento moderno.
Conhece-se por humanismo o movimento intelectual que germinou durante o século XIV, no final da Idade Média, e alcançou plena maturidade no Renascimento, orientado no sentido de reviver os modelos artísticos da antigüidade clássica, tidos como exemplos de afirmação da independência do espírito humano.
Nos últimos séculos da Idade Média, sobretudo nas cidades da Itália, ocorrera um notável crescimento da burguesia urbana. Os nobres e burgueses enriquecidos adquiriram condições de dar à cultura um apoio antes exclusivo da igreja e dos grandes soberanos.
A necessidade de conhecimentos que habilitassem os burgueses a gerir e multiplicar suas fortunas também os impelia na direção da cultura. Juntaram-se, portanto, duas linhas com um mesmo fim: maior valorização da cultura e necessidade de uma educação mais prática do que a teologia medieval podia oferecer.
Pode-se sintetizar o programa humanista em três pontos fundamentais:
-O objetivo básico do conhecimento é o homem e o significado da vida, e em função dele devem-se estabelecer as questões cosmológicas;
-Nenhum filósofo detém o monopólio da verdade; e
-Existe uma afinidade entre a cultura clássica pagã e o cristianismo, já que o ensinamento sobre o homem, a vida e a virtude ministrado pelos autores clássicos pode ser integrado ao cristianismo.
No decorrer do século XVIII, as ideias do Iluminismo sobre Deus, a razão, a natureza e o homem cristalizaram-se numa cosmovisão, que deitou raízes, e acabou por produzir avanços revolucionários na arte, na filosofia e na política.
Iluminismo foi o movimento cultural e intelectual europeu que, herdeiro do humanismo do Renascimento e originado do racionalismo e do empirismo do século XVII, fundava-se no uso e na exaltação da razão, vista como o atributo pelo qual o homem apreende o universo e aperfeiçoa sua própria condição.
A riqueza e complexidade do movimento iluminista teve como base alguns pontos gerais, como a astronomia e na física. Por exemplo, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton levaram a conceber o universo como “natureza”, ou seja, como um domínio ou realidade dinâmica, regida por leis gerais que a razão sempre poderia acabar por descobrir.
Em segundo lugar, e como conseqüência, a substituição da ideia de um Deus pessoal, responsável pelos acontecimentos humanos e eventos naturais, por um deísmo, que valorizava a idéia abstrata de Deus como princípio ordenador da natureza, “arquiteto do mundo” e criador de suas leis, mas que não intervém diretamente nele.
Embora a ideia do deísmo não tenha sido compartilhada por todos os pensadores iluministas, alguns mantiveram a crença em um Deus transcendental ao qual a Humanidade concernia diretamente, enquanto outros radicalizaram suas opiniões e chegaram ao ateísmo. Eessa foi a tendência dominante do pensamento da época.
Tudo isso levou à crença no “progresso histórico” da humanidade, concebido não como produto de um plano divino, mas como resultado da razão e dos esforços humanos. Formou-se assim pela primeira vez a ideia de “humanidade” como integração de todos os povos, acima de circunstanciais diferenças étnicas ou situações temporais ou espaciais.
Jean-Jacques Rousseau foi uma das grandes figuras das Luzes. Para ele, a moral surge com a sociedade, pressupõe o princípio da ordem e exige a liberdade. A única sociedade política aceitável para o homem é a que está fundada no consentimento geral.
Rousseau não preconizou a revolução nem incitou a ela, mas suas idéias influenciaram os revolucionários franceses. Por sua riqueza e originalidade, são também um marco inaugural do romantismo e uma das referências do pensamento moderno.
Immanuel Kant é o resumo por excelência do Iluminismo e iniciou uma nova forma de pensamento.
O Iluminismo extinguiu-se, ao menos em parte, pelos excessos de algumas de suas ideias. A oposição às ideias religiosas e a usurpação da figura de Deus tornaram-no estéril e sem atrativos aos olhos de muitos para quem a religião era fonte de consolo, esperança e sentimento de comunhão.
O culto quase ritualístico à razão abstrata, elevada à categoria de autêntica divindade, levou também a cultos de tipo esotérico ou obscurantista. E o período do “Terror”, que se seguiu à revolução francesa foi um golpe para a convicção iluminista de uma sociedade justa e pacífica, fundada em princípios racionais partilhados por todos os cidadãos.
Os pensadores iluministas deixaram como legado a definição e desenvolvimento de muitos dos conceitos e termos empregados ainda hoje no tratamento de temas estéticos, éticos, sociais e políticos. E o mundo contemporâneo herdou deles a convicção, rica de esperanças e projetos, de que a história humana é uma crônica de contínuo progresso.