Resumo de FILOSOFIA
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CONCEITO GERAL DE EXEGESE BÍBLICA
A exegese bíblica é o estudo sistemático e crítico da Bíblia conforme princípios hermenêuticos, com o propósito de determinar qual o sentido primitivo do seu texto. Exegese é a operação de interpretar. Enquanto a hermenêutica é a ciência da interpretação, a exegese é a aplicação dessa ciência à Palavra de Deus.
A Hermenêutica pertence ao grupo de estudos centrados na Bíblia. Ela é naturalmente a Filosofia Sacra, e precede imediatamente a Exegese. Portanto, a hermenêutica é a ciência da interpretação, e a exegese a extração dos pensamentos que assistiam ao escritor sagrado quando este redigia determinada porção da Escritura.
Os dicionários definem o termo “exegeta” como “aquele que se dedica a fazer exegese”. Todo aquele que interpreta e explica um texto pode ser classificado como exegeta, mas melhor é restringir e denominar como exegeta tão somente aquele que possui a capacitação de conhecer o idioma e as circunstâncias dos textos no seu contexto original.
Os mais variados gêneros literários e as diferentes expressões lingüísticas, narrados por diferentes pessoas com diferentes graus de cultura, que encontramos nas Escrituras, devem ser consideradas, se queremos chegar ao verdadeiro sentido das passagens em estudo.
Boa parte da exegese, freqüentemente é seletiva demais: freqüentemente as fontes consultadas são fontes secundárias que também empregam outras fontes secundárias. O problema real com a exegese “seletiva” é que a pessoa freqüentemente atribuirá suas próprias idéias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra de Deus algo diferente daquilo que Deus realmente disse.
Não se começa uma exegese consultando os “peritos”. Mas quando for necessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes.
HISTORICIDADE
Desde que Deus revelou as Escrituras, tem havido diversos métodos de estudar a Palavra. Os intérpretes mais ortodoxos têm encarecido a importância de uma interpretação literal, outros têm empregado um método alegórico, e ainda outros têm examinado letras e palavras tomadas individualmente como possuindo significado secreto que precisa ser decifrado.
Exegese judaica Antiga
Durante o período do exílio, os israelitas provavelmente tenham perdido sua compreensão do hebraico, a maioria dos eruditos bíblicos supõe que Esdras e seus ajudantes traduziam o texto hebraico e o liam em voz alta em aramaico, acrescentando explicações. No tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em quatro tipos principais: literal, midráshica, pesher, e alegórica.
O método literal de interpretação, referido como peshat, servia de base para outros tipos de interpretações.
A interpretação midráshica incluía uma variedade de dispositivos hermenêuticos: A comparação de idéias, palavras ou frases encontradas em mais de um texto, a relação de princípios gerais com situações particulares, e a importância do contexto na interpretação.
A interpretação pesher existia particularmente entre as comunidades de Qumran. A comunidade acreditava que tudo quanto os antigos profetas escreveram tinha significado profético velado que devia ser iminentemente cumprido por intermédio de sua comunidade do pacto.
A exegese alegórica baseava-se na idéia de que o verdadeiro sentido jaz sob o significado literal da Escritura. Filão (20 a.C. a 50 d.C.), acreditava que o significado literal da Escritura representava um nível imaturo de compreensão; o significado alegórico era para os maduros.
Podemos extrair diversas conclusões dum exame do uso que Jesus faz do Antigo Testamento:
Primeiro, ele foi uniforme no tratar as narrativas históricas como registros fiéis do fato. As alusões a Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, e Davi, por exemplo, parecem todas intencionais e foram entendidas como referências a pessoas de carne e osso e a eventos históricos.
Segundo, quando Jesus fazia aplicação do registro histórico, ele o extraía do significado normal do texto, contrário ao sentido alegórico.
Terceiro Jesus denunciou o modo como os dirigentes religiosos punham à parte a própria Palavra de Deus que eles alegavam estar interpretando, e no lugar dela colocavam suas próprias tradições.
Quarto, os escribas e fariseus, por mais que quisessem acusar a Cristo de erro, nunca o acusaram de usar qualquer Escritura de modo antinatural ou ilegítimo.
Quinto, quando Jesus, vez por outra, usou um texto de um modo que nos parece antinatural, geralmente se tratava de legítima expressão idiomática hebraica ou aramaica, ou padrão de pensamento que não se traduz diretamente para nossa cultura e nosso tempo, o que pode parecer erro interpretativo na realidade é aplicação hermenêutica legítima quando considerada dentro do devido contexto.
Os apóstolos acompanharam seu Senhor e consideraram o Antigo Testamento como a Palavra de Deus. Não obstante, ao citar o Antigo Testamento, com freqüência o Novo modifica o fraseado primitivo. Três considerações são aqui pertinentes:
Primeira, diversas versões em hebraico, aramaico e grego do texto bíblico circulavam na Palestina no tempo de Cristo, algumas das quais tinham fraseado diferente das outras.
Segunda, não era necessário que os escritores citassem passagens do Antigo Testamento, palavra por palavra, a menos que alegassem estar citando ipsis verbis, particularmente porque estavam escrevendo numa língua diferente dos textos originais do Antigo Testamento.
Terceira, na vida comum, não estar preso à citação é, geralmente, sinal de que o autor tem domínio da matéria; quanto mais seguro está o orador de entender o significado de um autor, tanto menor o medo que ele tem de expor essas idéias em palavras que não são exatamente as do autor.
O Novo Testamento parece usar partes do Antigo de modo antinatural, mas a vasta maioria das referências ao Antigo Testamento interpretam-no literalmente, de acordo com as normas aceitas para interpretar todos os tipos de comunicação - história como história, poesia como poesia, e símbolos como símbolos. Os poucos exemplos em que os escritores do Novo Testamento parecem interpretar o Antigo de modo antinatural podem, geralmente, ser resolvidos à medida que entendemos mais plenamente os métodos interpretativos dos tempos bíblicos.
ESCOLAS EXEGÉTICAS
Exegese Patrística (100-600 d.C.). O método alegórico segundo praticado pelos pais da igreja muitas vezes negligenciou o entendimento de um texto e desenvolveu especulações que o próprio autor nunca teria reconhecido.
Os autores do segundo século são conhecidos como os apologistas. Para eles o cristianismo era a única verdadeira filosofia, substituto perfeito para a filosofia dos gregos e a religião dos judeus, que nada mais podiam fazer do que apresentar respostas insatisfatórias às perguntas cruciais do homem.
A exegese patrística é fortemente marcada por três escolas, as quais são: “Escola Alexandrina; Escola Antioquiana; e a Escola Ocidental”.
A Escola de Alexandria
No terceiro século d.C., a interpretação bíblica foi influenciada especialmente pela escola catequética de Alexandria. Esta cidade foi um importante local de aprendizado, onde a religião judaica e a filosofia grega se encontraram e exerceram influência uma sobre a outra.
A filosofia Platônica ainda estava em curso e não é de se admirar que a escola catequética dessa cidade caísse se acomodasse à sua interpretação da Bíblia. O método natural encontrado para harmonizar religião e filosofia foi a interpretação alegórica. Os filósofos pagãos ensinavam que o mais alto objetivo do ser humano é viver de acordo com a sua razão e praticar a virtude. Esta consiste em dominar as paixões, não sentir-se atraído pelo prazer e não se deixar vencer pelo sofrimento.
Clemente de Alexandria foi o primeiro a aplicar o método alegórico à interpretação das Escrituras. Ele propôs o princípio de que toda Escritura deve ser entendida de forma alegórica. De acordo com ele, o sentido literal só poderia fornecer uma fé elementar, enquanto o sentido alegórico conduziria a um conhecimento real.
Seu discípulo, Orígenes, foi o maior teólogo de seu tempo. Considerava a Bíblia como um meio para a salvação do homem; e porque, de acordo com Platão, o homem consiste de três partes - corpo, alma e espírito - aceitou um sentido tríplice: o literal, o moral e o místico ou alegórico. Na sua práxis exegética, preferia desconsiderar o sentido literal da Escritura, referia-se raramente ao sentido moral e usava constantemente a alegoria - uma vez que só ela produziria o conhecimento real.
A Escola de Antioquia da Síria
Seu maior marco compreendia dois dos seus ilustres discípulos, Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. Teodoro sustentava visões preferivelmente liberais a respeito da Bíblia, enquanto João a considerava como sendo, em cada parte, a infalível Palavra de Deus. A exegese do primeiro era intelectual e dogmática; a do último, mais espiritual e prática.
Eles foram longe rumo ao desenvolvimento da exegese verdadeiramente científica, reconhecendo a necessidade de se determinar o sentido original da Bíblia, a fim de usá-la proveitosamente.
Escola Ocidental
Abrigava alguns elementos da escola alegórica de Alexandria, mas também reconhecia alguns dos princípios da escola Siríaca. Este tipo de exegese foi representado especialmente por Jerônimo e Agostinho.
Agostinho foi grande em sistematizar as verdades da Bíblia, mas não na interpretação da Escritura. Seus princípios Hermenêuticos eram melhores do que sua exegese. Ele adotou um sentido quádruplo da Escritura: histórico, etiológico, analógico e alegórico. Foi, particularmente, nesse aspecto que ele influenciou a interpretação na Idade Média.
Exegese Medieval (600-1500 d.C.)
Durante a Idade Média, a Bíblia era, geralmente, considerada como um livro cheio de mistérios, os quais só poderiam ser entendidos de uma forma mística. Nesse período, o sentido quádruplo da Escritura era geralmente aceito, e o princípio de que a interpretação da Bíblia tinha de se adaptar à tradição e à doutrina da Igreja tornou-se estabelecido.
Reproduzir os ensinos dos Pais e descobrir os ensinos da Igreja na Bíblia eram considerados o ápice da sabedoria. A regra de São Benedito foi sabiamente aplicada nos monastérios, e decretado que as Escrituras deveriam ser lidas e, com elas, como explicação final, a exposição dos Pais.
O Período da Reforma
Os Reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra Inspirada de Deus. Mas, por mais estrita que fosse sua concepção de inspiração, concebiam-na como orgânica ao invés de mecânica.
Em oposição à infalibilidade da Igreja, colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua posição é evidenciada na declaração de que a Igreja não determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve ensinar.
O caráter essencial da sua exegese era o resultado de dois princípios fundamentais: (1) a Escritura é a intérprete da Escritura; e (2) todo o entendimento e exposição da Escritura deve estar em conformidade com a analogia da fé.
Lutero (1483-1546 d.C.). Embora não desejasse reconhecer nada além do sentido literal e falasse desdenhosamente da interpretação alegórica não se afastou inteiramente do método desprezado. Defendeu o direito do julgamento particular; enfatizou a necessidade de se levar em consideração o contexto e as circunstâncias históricas; requeria fé e discernimento espiritual ao intérprete; e desejava encontrar Cristo em toda parte da Escritura.
Melanchthon. Em sua obra exegética, avançou os princípios sadios de que (a) as Escrituras devem ser entendidas gramaticalmente antes de serem entendidas teologicamente; e (b) as Escrituras têm apenas um sentido claro e simples.
Calvino (1509-1564 d.C.). Viu, no método alegórico, um artifício de Satanás para obscurecer o sentido da Escritura. Acreditava firmemente no significado simbólico de muito do que se encontra no Antigo Testamento. Insistiu no fato de que os profetas deveriam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas.
Como ele via, a excelência primeira de um expositor consistia de uma brevidade lúcida. Além disso, considerava que “a primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria dizer”.
Católicos Romanos
Não admitiam o direito do julgamento particular e defendiam, em oposição aos protestantes, a posição de que a Bíblia deve ser interpretada em harmonia com a tradição. O Concílio de Trento enfatizou (a) que a autoridade da tradição eclesiástica devia ser mantida, (b) que a autoridade suprema tinha de ser atribuída à Vulgata, e (c) que era necessário conformar a interpretação de alguém à autoridade da Igreja e do consenso unânime dos Pais.
Exegese de Pós-Reforma (1550-1800)
Confessionalismo
O Concílio de Trento elaborou uma lista de decretos expondo os dogmas da igreja católica romana e criticando o protestantismo. Os métodos hermenêuticos durante este período amiúde eram deficientes porque a exegese se tornou uma criada da dogmática, e muitas vezes degenerou-se em mera escolha de texto para comprovação.
Pietismo
O pietismo surgiu como reação à exegese dogmática do período confessional. Philipp Jakob Spener (1635- 1705) pedia o fim da controvérsia inútil, o retorno ao interesse cristão mútuo e às boas obras; melhor conhecimento da Bíblia por parte dos cristãos, e melhor preparo espiritual para os ministros.
Os pietistas uniram um profundo desejo de entender a Palavra de Deus com uma excelente apreciação da interpretação histórico-gramatical. Contudo, muitos pietistas mais recentes; descartaram a base de interpretação histórico-gramatical, e passaram a depender de uma “luz interior” ou de “uma unção do Santo”. Essas manifestações, baseadas em impressões subjetivas e reflexões piedosas, muitas vezes resultaram em interpretações contraditórias e que pouca relação tinham com o significado do autor.
Racionalismo
Lutero estabeleceu distinção entre o uso magisterial e o ministerial da razão. Por uso ministerial ele se referia ao emprego da razão para ajudar-nos a compreender à Palavra de Deus (posição de Lutero). Por uso magisterial ele se referia ao emprego da razão como juiz sobre a Palavra de Deus.
Logo surgiu o empirismo, crença de que o único conhecimento válido que podemos possuir é o obtido através dos cinco sentidos, e aliou-se ao racionalismo. A associação do racionalismo com o empirismo alegava que a razão, e não a revelação, devia orientar nosso pensamento e ações. e chegava a julgar aceitáveis somente aquelas partes da revelação sujeitas às leis naturais e à verificação empírica.
Exegese Moderna (1800 até ao Presente)
Liberalismo
O racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Onde nos séculos anteriores a autoria divina da Escritura fora acentuada, agora o foco era sua autoria humana. Também aplicou-se à Bíblia um naturalismo consumado. Os racionalistas alegavam que tudo o que não estivesse conforme à “mentalidade instruída” devia ser rejeitado.
Sob a influência do pensamento de Darwin e de Hegel, a Bíblia chegou a ser vista como um registro do desenvolvimento evolucionista da consciência religiosa, e não como uma revelação do próprio Deus ao homem. A pergunta dos eruditos já não era “Que é que Deus diz no texto?”, e, sim “Que é que o texto me diz a respeito do desenvolvimento da consciência religiosa deste primitivo culto hebraico?”
Neo-ortodoxia
É um fenômeno do século XX. Os neo-ortodoxos sustentam que Deus não se revela em palavras, mas apenas por sua presença. A revelação não é considerada como algo ocorrido num ponto histórico, o qual agora nos é transmitido nos textos bíblicos, mas uma experiência presente que deve fazer-se acompanhar de uma reação existencial pessoal.
A Escritura é vista como um compêndio de sistemas teológicos às vezes conflitantes acompanhados por diversos erros fatuais. As histórias bíblicas da interação entre o sobrenatural e o natural são vistas como mitos. Os “mitos” bíblicos (como a criação, a queda, a ressurreição) visam a apresentar verdades teológicas na forma de incidentes históricos.
EXEGESE GRAMATICAL
A Etimologia das Palavras
O significado etimológico das palavras merece atenção em primeiro lugar, porque precede todos os outros significados. É aconselhável que o expositor da Escritura note a etimologia estabelecida de uma palavra, uma vez que isso pode ajudar a determinar seu significado real.
Uso corrente das palavras
Para interpretar corretamente a Bíblia, o intérprete deve ter conhecimento dos significados que as palavras adquiriram no curso do tempo e do sentido em que os autores bíblicos as usaram. Se o intérprete duvida do significado de uma palavra, como apresentado no Léxico, ele terá de investigar por si mesmo.
A maioria das palavras tem muitos significados, alguns literais e outros figurados, o estudo comparativo de palavras análogas em outras línguas nem sempre ajuda a fixar o significado exato de uma palavra.
No estudo do Novo Testamento, é imperativo que a avaliação do koiné escrito e também do falado, seja considerada, e não é sempre seguro concluir o significado de uma palavra do Novo Testamento a partir do seu significado no grego clássico, uma vez que o Cristianismo acrescentou um novo conteúdo a muitas palavras.
Uso de palavras sinônimas
As línguas em que a Bíblia foi escrita são também ricas em expressões sinônimas e antônimas. O intérprete nunca pode perdê-las de vista, ele deve atentar para todas as idéias relacionadas da Bíblia e perceber o que elas têm em comum e em que diferem. Essa é a condição sine qua non de um conhecimento distintivo da revelação bíblica.
As palavras sinônimas têm sempre um significado geral como também um distintivo especial. O contexto em que a palavra é usada, os atributos atribuídos a ela e os adjuntos somados a ela devem determinar qual o sentido em que deve ser entendida, se o geral ou o especial.
O significado das palavras em seu contexto
No estudo das palavras isoladas, a questão mais importante é quanto ao seu sentido particular no contexto em que ocorre. O intérprete deve determinar se a palavra é usada em seu significado geral ou em um de seus significados especiais, se é usada no sentido literal ou figurado.
Em última análise, nossa teologia encontra seu fundamento sólido apenas no sentido gramatical da Escritura. O conhecimento teológico será falho na proporção do seu desvio do significado claro da Bíblia. Embora esse princípio seja perfeitamente óbvio, é repetidamente violado por aqueles que colocam suas idéias preconcebidas para sustentar a interpretação da Bíblia. Pela exegese forçada, eles tentam ajustar o sentido da Escritura às suas opiniões ou teorias preferidas.
O intérprete, deve ser cuidadoso em não combinar arbitrariamente os vários significados de uma palavra. Ele pode encontrar casos em que dois ou mais significados de uma palavra aparentemente se adaptam bem de forma semelhante, e ser tentado a tomar a estrada fácil de combiná-las.
As passagens paralelas também constituem um auxílio importante, são divididas em duas classes, a saber, verbal e real. “Quando a mesma palavra ocorre em contextos similares, ou em referência ao mesmo assunto geral, o paralelo é chamado verbal... Paralelos reais são aquelas passagens similares nas quais a semelhança ou identidade consiste não de palavras ou frases, mas de fatos, assuntos, sentimentos ou doutrinas”..
O uso figurado das palavras
Os tropos são as figuras de linguagem nas quais uma palavra ou expressão é usada em um sentido diferente daquele que lhe é próprio. Os principais tropos são a metáfora, a metonímia e a sinédoque.
A metáfora pode ser chamada de comparação não expressa. Ela é uma figura de linguagem na qual um objeto é assemelhado a outro afirmando ser o outro, ou falando dele como se fosse o outro.
A metonímia, assim como a sinédoque, é baseada em relações em vez de em semelhanças. No caso da metonímia, essa relação é mais mental do que física. Ela indica relações como causa e efeito, progenitor e posteridade, sujeito e atributo, sinal e objeto assinalado.
A sinédoque assemelha-se à metonímia, mas a relação na qual é encontrada é mais física do que mental. Nessa figura, há uma certa identidade entre o que é expresso e o que se quis dizer. Uma parte é expressa pelo todo ou o todo por uma parte; um gênero pela espécie, ou uma espécie por um gênero; um indivíduo pela classe ou uma classe pelo indivíduo; um plural pelo singular ou um singular pelo plural.
A interpretação do pensamento
Algumas vezes chamada de “interpretação lógica”, procede da suposição de que a linguagem da Bíblia é, como qualquer outra linguagem, um produto do espírito humano, desenvolvida sob direção providencial.
Expressões idiomáticas especiais e figuras de pensamento
A Hendiade exprime uma idéia por meio de dois substantivos. No hebraico essa construção é comum, mas utilizando verbos.
Há também vários tipos de figuras de pensamento que merecem atenção especial: A Comparação; a Alegoria; a Parábola; a Elipse, (que consiste na omissão de uma palavra ou palavras necessárias para se completar a construção de uma sentença, mas não requeridas para o entendimento desta).
A Braquilogia, também uma forma de discurso concisa ou abreviada, consiste especialmente na não repetição ou omissão de uma palavra, quando sua repetição ou uso seria necessário para completar a construção gramatical. A Zeugma, que consiste de dois substantivos construídos com um verbo, embora apenas um - geralmente o primeiro – se ajuste ao verbo.
O Eufemismo consiste em substituir uma palavra que expressa mais acuradamente o que se queria dizer por outra menos ofensiva. A Litote afirma algo pela negação do oposto. A Meiose é intimamente relacionada à litote. Algumas autoridades associam as duas; outros consideram a litote como uma espécie de meiose. Ela é uma figura de linguagem na qual menos é dito do que se queria dizer.
A Ironia contém censura ou escárnio disfarçado de louvor ou elogio. A Epizêuxis fortalece uma expressão pela simples repetição de uma palavra. A Hipérbole consiste de um exagero retórico.
Ordem das palavras em uma sentença
Na sentença verbal hebraica, a ordem regular é: predicado, sujeito, objeto. Se em uma sentença o objeto se encontra em primeiro lugar, ou o sujeito for colocado no começo ou no fim, é altamente provável que eles sejam enfáticos. O primeiro lugar é o mais importante da sentença, mas a palavra enfática pode também ocupar o último lugar.
Curso do pensamento em uma seção inteira
Não é suficiente que o intérprete fixe sua atenção nas orações e sentenças separadas; ele deve se familiarizar com o pensamento geral do escritor ou orador.
A parábola merece uma atenção especial. Ela denota um método simbólico de linguagem, no qual uma verdade moral ou espiritual é ilustrada pela analogia da experiência comum. Ela mantém os dois elementos da comparação distintos como “interno e externo”, e não atribui qualidades e relações de um ao outro.
INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
Devemos entender e analisar as verdades das Escrituras, sem prejuízo delas, sem eliminá-las de sua circunstância histórica. E então dar um novo e apropriado significado para o seu propósito prático. Mas, nunca podemos interpretar as Escrituras sem a exegese histórica, pois esta serve para definir mais precisamente o texto, e para eliminar o material não-histórico alcançado pelo processo exegético.
O exegeta deverá reconstruir, tanto quanto possível, a partir dos dados históricos disponíveis e com o auxílio das hipóteses históricas, o ambiente no qual os escritos particulares em consideração se originaram; em outras palavras, o mundo do autor. Ele terá de se informar a respeito dos aspectos físicos da terra onde os livros foram escritos e a respeito do caráter e história, costumes, princípios morais e religião do povo entre o qual e para o qual foram compostos;
Circunstâncias geográficas
As circunstâncias climáticas e geográficas em geral freqüentemente influenciam o pensamento, a linguagem e as representações de um escritor. É importante que o intérprete da Bíblia entenda o caráter das estações, os ventos dominantes e suas funções, e a diferença de temperatura nos vales, nas montanhas e nos cumes. Ele deve conhecer algo sobre a produção da terra: árvores, arbustos e flores, grãos, vegetais e frutas, animais selvagens e domésticos, insetos e pássaros nativos. Montanhas e vales, lagos e rios, cidades e vilas, estradas e planícies - ele deve se familiarizar com eles e com a sua localização. Apenas a familiaridade com as estações irão capacitá-lo a interpretar algumas passagens.
Circunstâncias políticas
A condição política de um povo também deixa uma profunda impressão sobre sua literatura nacional. A Bíblia contém ampla evidência disso também e, por essa razão, é absolutamente necessário que o expositor se informe a respeito da organização política das nações que tiveram grande importância no cenário bíblico. Sua história nacional, relacionamentos com outras nações e instituições políticas devem se tornar objeto de um estudo cuidadoso. As mudanças políticas na vida nacional de Israel merecem uma atenção particular.
Ao mover-se do Antigo Testamento para o Novo, o intérprete irá encontrar uma situação para a qual estará totalmente despreparado, a não ser que tenha estudado o período interbíblico. Os romanos eram o poder dominante e os idumeus governavam sobre a herança de Jacó. Partidos nunca citados no Antigo Testamento ocupavam, então, o centro do palco. Havia um Sinédrio judaico que decidia os assuntos de maior importância e uma classe de escribas que havia, praticamente, suplantado os sacerdotes como mestres do povo.
Circunstâncias Religiosas
A vida religiosa de Israel não se deslocou sempre sobre o mesmo plano, não foi sempre caracterizada pela verdadeira espiritualidade. Houve épocas de elevação espiritual logo seguidas por períodos de degradação religiosa e moral. A história da religião de Israel, revela deterioração ao invés de progresso, degeneração ao invés de evolução.
O período dos juizes foi uma época de sincretismo religioso resultante da fusão entre o culto a Jeová e a adoração do baalismo cananeu. Nos dias de Samuel, a ordem profética começou a se afirmar e a exercer uma influência benéfica sobre a vida espiritual da nação. O período dos reis em Judá foi caracterizado pelos repetidos declínios e restaurações. A adoração nos altos e, às vezes, idolatria flagrante, foi o pecado insistente do povo. Durante o mesmo período, o pecado típico do reino do norte era a sua adoração ao bezerro, aumentada nos dias de Acabe pela adoração a Melcarte, o Baal fenício. Depois do exílio, a idolatria era rara em Israel, mas sua religião se degenerou para um formalismo frio e uma ortodoxia morta.
Essas coisas devem ser levadas em consideração na interpretação das passagens que se referem à vida religiosa do povo. Além disso, o intérprete deve estar familiarizado com as práticas e instituições religiosas de Israel, como foram regulamentadas pela lei Mosaica.
EXEGESE TEOLÓGICA
Os elementos que podem ajudar na interpretação teológica são compostos de duas partes: Paralelos Reais ou Paralelos de Idéias; e Analogia da Fé ou da Escritura.
Paralelos reais são aquelas passagens similares nas quais a semelhança ou identidade consiste não em palavras ou frases, mas em fatos, assuntos, sentimentos ou doutrinas. Os paralelos de idéias podem ser divididos em duas classes, paralelos históricos e didáticos.
Dentre os paralelos históricos, há alguns nos quais uma história é narrada nas mesmas palavras e com as mesmas circunstâncias concomitantes, embora possam diferir levemente em termos de detalhes. Há passagens em que as mesmas narrativas são expressas em palavras diferentes e as circunstâncias são mais detalhadas em uma do que na outra. além disso, há narrativas que são indubitavelmente idênticas mas que ocorrem em contextos completamente diferentes, finalmente, há passagens que não repetem um determinado evento, mas juntam uma circunstância adicional e, conseqüentemente, são, num certo sentido, complementares.
Dentre os paralelos didáticos há casos em que o mesmo assunto é tratado, mas não nos mesmos termos; há passagens paralelas que se correspondem em pensamento e expressão mas onde uma não tem relação direta com o contexto precedente ou seguinte. Finalmente, há também paralelos que ocorrem em relações completamente diferentes, embora, talvez, igualmente adequados. É até mesmo possível que a ocasião para a declaração não seja a mesma em ambos os lugares. O mesmo dito pode ter sido expresso em várias ocasiões.
Citações do Antigo Testamento no Novo
Em um certo sentido, essas citações são paralelas. Algumas têm o propósito de mostrar que as predições do Antigo Testamento foram cumpridas no Novo Testamento. Outras são citadas para o estabelecimento de uma doutrina. Outras, ainda, são citadas para refutar e repreender o inimigo. Finalmente, há algumas citações com propósito retórico ou para ilustrar alguma verdade. Nessas citações, dá-se pouca consideração à relação em que ocorrem no Antigo Testamento e freqüentemente parecem ser usadas arbitrariamente.
A Analogia da Fé ou da Escritura
Analogia Positiva. Consiste daqueles ensinamentos da Bíblia que são clara e positivamente expressos, e amparados por tantas passagens que não pode haver dúvida quanto ao seu significado e valor. Tais verdades são as da existência de um Deus de perfeição infinita, santo e justo mas, também, misericordioso e gracioso; do governo providencial de Deus e seu propósito benéfico para com o pecador; da graça redentora revelada em Jesus Cristo, de uma vida futura e retribuição;
Analogia Geral. O segundo grau é chamado analogia geral da fé. Ela não repousa nas declarações explícitas da Bíblia mas na extensão óbvia e importância dos seus ensinamentos como um todo, e nas impressões religiosas que deixam na humanidade. Assim, é claro que o espírito da lei Mosaica como também do Novo Testamento é inimigo da escravidão humana. É perfeitamente claro também que a Bíblia é hostil ao puro formalismo na religião e favorece a adoração espiritual.
Ao usar a analogia da fé na interpretação da Bíblia, o intérprete deve se lembrar que: Uma doutrina claramente amparada pela analogia da fé não pode ser contradita por uma passagem obscura e contrária. Uma passagem não amparada nem contradita pela analogia da fé pode servir como uma base positiva para uma doutrina, desde que seja clara em seu ensino. Quando uma doutrina é amparada apenas por uma passagem obscura da Escritura, e não encontra apoio na analogia da fé só pode ser aceita com grande reserva. Nos casos onde a analogia da Escritura leva ao estabelecimento de duas doutrinas que parecem ser contraditórias, ambas as doutrinas devem ser aceitas como escriturísticas na crença confiante de que elas se resolvem em uma unidade maior.
O Sentido Místico da Escritura
Certas partes da Escritura têm um sentido místico que, não constitui um segundo sentido mas o sentido real da Palavra de Deus. A necessidade de se reconhecer o sentido místico é completamente evidente a partir do modo como o Novo Testamento freqüentemente interpreta o Antigo.
A própria Escritura contém indicações do sentido místico. Existe uma relação simbólica entre as diferentes esferas da vida em virtude do fato de que roda a vida se relaciona organicamente. O mundo natural é simbolicamente relacionado ao espiritual. Uma relação íntima entre a vida individual e comum claramente se revela na poesia lírica. Nos salmos líricos,
Deus se revelou em palavras, e em fatos. A síntese dos dois é encontrada em Cristo, porque nele a Palavra se fez carne. Todos os fatos da história da redenção registrados na Bíblia centralizam-se nesse grande fato.
Os fatos ou eventos históricos podem servir como símbolos de uma verdade espiritual. Um símbolo não é uma imagem, mas um sinal de alguma outra coisa. E isso, em muitos exemplos, é o que as narrativas da Escritura são.
Os milagres escriturísticos são, freqüentemente, símbolos da verdade espiritual. O próprio nome semeia aponta para isso, e algumas das passagens dos Evangelhos indicam isso de forma muito clara.
Os fatos podem ter significado tipológico. Um símbolo é um sinal, enquanto que um tipo é um modelo ou uma imagem de alguma outra coisa. Um símbolo pode se referir a algo do passado, presente ou futuro, enquanto que um tipo sempre prefigura algo da realidade futura.
Os tipos escriturísticos não são todos da mesma espécie. Há pessoas típicas, lugares típicos, coisas típicas, ritos típicos e fatos típicos. Deve haver algum ponto de semelhança entre um tipo e seu antítipo. A similaridade acidental entre uma pessoa ou evento não significa que um seja tipo do outro, deve haver alguma evidência escriturística de que isso foi assim designado por Deus.
Os tipos do Antigo Testamento eram, ao mesmo tempo, símbolos que transmitiam verdades espirituais aos contemporâneos, uma vez que seu significado simbólico devia ser entendido antes que o significado tipológico pudesse ser determinado, reverter o processo e começar com a concepção do Novo Testamento conduz a todos os tipos de interpretações arbitrárias e imaginosas.
Se as profecias só podem ser completamente entendidas à luz do seu cumprimento, isso também se aplica aos tipos. É princípio fundamental que os tipos que não têm natureza complexa têm apenas um significado principal. Conseqüentemente, o intérprete não tem liberdade para multiplicar seus significados. Ao mesmo tempo, deve ser lembrado que alguns tipos podem ter mais de um cumprimento nas realidades do Novo Testamento,
Finalmente, é necessário considerar devidamente a diferença essencial entre tipo e antítipo. Um representa a verdade em um estágio inferior, o outro, a mesma verdade em um estágio superior. Passar do tipo para o antítipo é ascender daquele em que o carnal é preponderante para o puramente espiritual, do externo para o interno, do presente para o futuro, do terreno para o celestial.
PRATICANDO EXEGESE
Exegese dos Evangelhos
No estudo dos Evangelhos, a exegese se torna mais difícil que nas epístolas, pela simples razão de que a maior parte de sua substância antecipa a Cruz e a ressurreição de Cristo, sem que este glorioso ato chave seja ainda manifesto. A Cruz se erige na consumação dos séculos; para ela todos os tempos anteriores apontavam e dela todos os posteriores dependem. Portanto a história da Cruz é o centro de toda a revelação.
O Evangelho Segundo Mateus
O primeiro evangelho do Novo Testamento foi o que mais influenciou a história da igreja cristã. Afirmações sobre a pregação de Jesus se orientam ainda hoje primeiramente por Mateus.
A característica mais importante do evangelho de Mateus é a seqüência de discursos. Isso dá a impressão de que o autor reuniu os discursos de Jesus em seqüências temáticas. Para Mateus esses discursos de Jesus eram tão importantes, que ele atribuiu peso especial a eles ao relatar sermões interligados entre si por um tema comum.
O que mais chama a atenção neste primeiro evangelho, além das seqüências de discursos de Jesus, são as assim chamadas citações reflexivas. Nelas são mencionados acontecimentos da vida de Jesus na sua relação com o Antigo Testamento e as suas promessas. É evidente que Mateus quer demonstrar nessas citações que em Jesus se cumpriram as promessas messiânicas do Antigo Testamento: ele é o Messias de Israel.
Ao analizar o contexto histórico deste evangelho, pode-se assumir que na sua essência, o evangelho é um lecionário para ser lido nos cultos da igreja primitiva. Ou que havía uma escola teológica para instruir mestres e líderes das igrejas no evangelho de Mateus. Ou, o evangelho de Mateus era o guia de catequese na instrução do cristianismo primitivo. Recém-convertidos a Jesus Cristo precisavam desse tipo de instrução.
O aspecto principal no evangelho de Mateus é o ensino sobre Jesus, ou seja, a cristologia. O que importa para Mateus é demonstrar que Jesus de Nazaré é o Messias tão esperado pelo povo judeu. O objetivo das citações reflexivas é servir de prova para essa demonstração. Segundo Mateus, se Jesus é o Messias, isso não significa que ele veio para abolir a lei, mas para cumpri-la.
Um segundo aspecto muito enfatizado se origina na tensão entre o particularismo e a universalidade (a salvação é para todos). Os dois elementos estão presentes lado a lado na proclamação e na vida de Jesus.
O particularismo se mostra nas palavras de Jesus que reforçam a verdade de que o seu ministério se restringe a Israel. Por outro lado, a universalidade está presente nesse evangelho desde o início. O nascimento de Jesus tem efeito sobre todas as pessoas, até os astrólogos do oriente. E no final, no sermão apocalíptico Jesus anuncia que, antes do fim do mundo, o evangelho do reino precisa ser pregado a todos os povos. Finalmente, o Senhor ressurreto delega a seus discípulos a grande missão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, ...”
Um terceiro aspecto de grande ênfase em Mateus diz respeito ao ensino sobre a igreja, a eclesiologia. Somente no evangelho de Mateus encontramos declarações específicas sobre esse tema. A igreja precisa se posicionar quanto ao ensino ético de Jesus. Ela não pode aprender a crer somente, mas precisa demonstrar a sua fé ao fazer o que Jesus ensinou.
Um quarto e último aspecto que recebe atenção especial em Mateus, é o ensino sobre as últimas coisas, a escatologia. Os discursos de Jesus sobre o final dos tempos contêm tradições que só se encontram aqui em Mateus. O seu objetivo é prevenir contra o engano da hipocrisia. Exorta os seus leitores a estarem vigilantes e preparados a seguir os ensinos de Jesus. O propósito é preparar a igreja para o retorno de Jesus por meio da vida prática e coerente do discipulado.
Em cuanto a sua unidade, o evangelho de Mateus é o texto completo e acabado de um autor. Nem os manuscritos e nem observações no conteúdo permitem dúvidas quanto à isso.
A atribuição desse evangelho a Mateus remonta à tradição da igreja antiga. Ela se baseia principalmente na História Eclesiástica de Eusébio, quem cita a Pantaenus e Orígenes.
Notamos que todos os testemunhos da igreja antiga atestam que o evangelho de Mateus foi escrito em hebraico. É de se imaginar que todos se basearam na mesma fonte: Papias. Mas na verdade, Papias não se referiu ao primeiro evangelho. Ele simplesmente falou dos logia (palavras), que Mateus registrou em hebraico. Cada um então traduziu esses logia de acordo com as suas condições.
Podemos concluir, portanto, que o primeiro evangelho recebeu o seu nome por causa do apóstolo Mateus, porque este, segundo a tradição da igreja antiga, registrou as palavras de Jesus que deram forma ao primeiro evangelho. A questão sobre quem tomou essas palavras e as editou juntamente com o material que também encontramos em Marcos precisa permanecer aberta.
Os primeiros leitores desse evangelho eram cristãos-judeus familiarizados com os costumes judaicos e com o Antigo Testamento. O seu objetivo era mostrar e demonstrar aos seus patrícios que Jesus era o Messias de Israel. Eles tinham consciência de que o reino de Deus também era para os gentios. Por isso, os destinatários certamente estão na ala helenística do cristianismo entre os judeus.
Há bons argumentos a favor de Antioquia da Síria como local em que Mateus foi escrito. A data tradicional entende que Mateus 22.7 é uma indicação de que a destruição de Jerusalém no ano 70 já acontecera. Dai se conclui que o evangelho foi certamente escrito após 70 d.C.Mas é questionável se Mateus 22.7 é uma indicação da destruição de Jerusalém.
Há razões para aceitarmos que os evangelhos sinópticos surgiram na mesma época, o que significa que não houve influência mútua na sua elaboração. Sendo assim, o registro feito par Mateus das palavras de Jesus deve ter acontecido já bem cedo, talvez até durante o ministério de Jesus na Palestina.
EXEGESE DE: MATEUS 3.11
Tema: O Batismo de Jesus
Contexto Histórico
João Batista, era filho do sacerdote Zacarias e Isabel, ambos descendentes de Arão. Isabel era prima de Maria mãe de Jesus, que pertencia a tribo de Judá.
O anjo Gabriel deu à Zacarías a mensagem de Deus que seria pai e que o seu filho deveria se chamar João seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre da sua mãe e que viria preparar o caminho do Senhor,
João Batista nasceu no ano 5 A.C. No ano 28 A.D. começou a pregar no deserto do Jordão, anunciando a vinda do Reino de Deus e o batismo no Espírito Santo, As multidões, depois de confessar os seus pecados, eram por ele batizadas no Jordão, e, por isso, passou a se chamar de João Batista.
O batismo que ele administrava, simbolizava a purificação do pecado. Ele, porém, o considerava insuficiente, e falava de outro profeta que viria após si que batizaria com o Espírito Santo e com fogo. Não obstante confessar-se inferior a Jesus, nosso Senhor foi a ele para receber de suas mãos o batismo. E, sendo Jesus batizado, viu o Espírito de Deus descendo como pomba sobre ele.
O Ministério de João foi curto, mas o efeito foi enorme. João era o maior de todos os profetas, por ter o privilégio de preparar o povo para o aparecimento de Cristo e apresentá-lo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Flávio Josefo diz que João era um nobre “que exortava os judeus a se esforçarem por atingir a perfeição, a serem justos uns para com os outros e devotos para com Deus a se batizarem."
Segundo Josefo, a decapitação de João foi situada num local histórico concreto: O forte de Maquiros, uma das numerosas fortificações que Herodes, o Grande, mandou construir na Palestina.
O batismo
O batismo de João, estritamente falando, não era cristão. O batismo cristão simbolizava principalmente a nossa união com Cristo, em sua morte e ressurreição. Os motivos pelos quais nada tinha a ver com as razões dos judeus era porque ele estava iniciando um novo movimento religioso, que eventualmente proveu o núcleo para a emergente Igreja Cristã.
João impunha esse batismo para reforçar sua mensagem de que a verdadeira espiritualidade não depende do legalismo e nem da identificação com alguma nacionalidade.
O batismo de João tinha por objetivo transferir os que se lhe submetiam a uma esfera totalmente nova à esfera da definida preparação para o reino de Deus, que se aproximava. O batismo de João nunca poderia ser considerado uma simples cerimônia; todo ele fremia sempre de uma significação ética. Uma purificação do coração, do pecado, era não somente sua condição preliminar, mas seu constante objetivo e propósito, e pela penetrante e incisiva pregação com que ele o acompanhava.
O rito do batismo não era desconhecido entre os judeus, mas eles o observavam, com algumas exceções, unicamente no caso de um gentio querer tornar-se judeu. João Batista, portanto, ao exigir o batismo a um judeu, queria dizer que já perdera seus direitos à aliança e que lhe era necessário nascer de novo. O fato de os judeus se submeterem ao batismo é prova evidente do profundo poder da mensagem de João, para produzir tal avivamento.
Alguns eruditos argumentam que teria sido muito paradoxal João tratar os judeus como se eles fossem pagãos Mas que a aproximação do Reino de Deus significa que os judeus não podem encontrar segurança no fato de serem descendentes de Abraão: que os judeus, a não ser pelo arrependimento, não poderiam ter mais certeza do que os gentios de entrar no reino vindouro, e que deveriam se arrepender e manifestar o seu arrependimento pela submissão ao batismo.
Qualquer que seja o fundamento histórico, João dá um novo significado ao rito da imersão por chamar o povo ao arrependimento, tendo em vista a aproximação do reino de Deus.
Contexto Gramatical
Bíblia: Stephanus Greek Text
1) egw men baptizw umaj en udati eij metanoian o de opisw mou ercomenoj iscuroteroj mou estin ou ouk eimi ikanoj ta upodhmata bastasai autoj umaj baptisei en pneumati agiw kai puri;
Bíblia: Almeida Revista e Corrigida
1) E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo;
outros textos
Bíblia Linguagem de Hoje. “... os batizará com o Espírito Santo e fogo”.
I.G.N.T. “baptisei en pneumati agiw” (batizará com Espírito Santo)
N.T.T. “baptisei en pneumati agiw” (batizará com Espírito Santo)
Ele autoj Ele
Vos umaj Terceira pessoa do plural / vos
Batizará baptisei Verbo no aoristo (s) na terceira pessoa do singular (ele batizará)
com/em en em/com/por meio de/no/entre/ diante de/sobre/perto de/ para com/
Espírito pneumati Espírito / substantivo neutro
Santo agiw Santo/digno de adoração ou veneração
Além disso kai E / ainda / também / ainda que / certamente / contudo / além disso (com/em)
Fogo Puri = fogo / banho de vapor / atear fogo em/ sendo queimado/ padecer de fogo / substantivo neutro termina com iota. Pur = fogo; i = neutro
Nosso exegese:
Nossa tradução: ...Ele (Jesus) vos batizará (os arrependidos) com o Espírito Santo e (aos incrédulos) com banho de fogo (Mt 3.11b).
Contexto Teológico
Entendimento do contexto
Naqueles dias... No grego, esta expressão introduz habitualmente, um novo episódio sem ligação cronológica com o que precede.
Pregando/Proclamando Em grego, Kérýssein, donde deriva Kērygma (querigma). Do uso profano (proclamação do arauto em nome do rei.) O verbo passou para o domínio religioso proclamação em nome de Deus.
Judéia Expressão peculiar de Mt que só aparece aqui. Região maldefinida, situada entre a cadeia de montanhas que corre de Jerusalém a Hebron, e o Mar Morto ou o Jordão inferior.
Arrependei-vos/Convertei-vos Este verbo e o substantivo correspondente aparecem, em Mt, em contextos que lhe conferem grande importância, de preferência ao sentido inculcado pela etimologia grega (mudança de mentalidade).
Reino dos céus Em conformidade com o uso judaico que evita pronunciar o nome de Deus, Mt diz Reinado dos céus preferivelmente a Reino de Deus. A rigor, só se deriva traduzir por reino quando se quer designar o âmbito. Nos outros casos, convém traduzir por reinado.
É chegado ou tornou-se próximo Hoje em dia, se interpreta: 1) O Reinado está próximo, ou muito próximo; 2) o Reinado está presente sendo que está plenamente realizado.
Batizar Por ser oferecido a todos, conferido por João e recebido uma só vez, este batismo difere profundamente das abluções rituais dos essênios e do batismo dos prosélitos.
Os Fariseus Surgiram como grupo distinto em cerca de 140 A.C. Geralmente eram pessoas comuns, do povo, em contraste com os saduceus. No princípio o movimento tinha por intuito defender e purificar a fé ortodoxa. Eram eles os porta-vozes da opinião das massas. Após algum tempo, o desenvolvimento de pesado legalismo ritualista obscureceu os seus propósitos originais. Os fariseus, tal como os saduceus, constituíam o “concílio” ou sinédrio, que era o principal tribunal judaico. No tempo de Jesus havia mais de seis mil fariseus, e exerciam grande autoridade em Israel.
Os Saduceus Seriam os sacerdotes, descendentes ou adeptos de Zadoque. Compunham a seita de elementos mais ricos e poderosos da população ao contrário dos fariseus. Rejeitavam a tradição como autoridade. A negação da existência além-túmulo parece ter sido desenvolvimento de suas doutrinas. Em geral negavam a autoridade dos profetas, e também as doutrinas que reputavam recentemente desenvolvidas, como a doutrinas dos anjos e espíritos.
Os Fariseus e Saduceus são repelidos por João como “raça de víboras”
Fugir da Ira A pregação de João Batista versava sobre a ira de Deus, não só em relação ao juízo comum, mas especialmente em relação à vinda do Messias. A chegada do Messias sempre foi ligada à grande ira de Deus, e essa doutrina era pregada pelos próprios fariseus.
Frutos de Arrependimento Assim como o “fruto” é o produto característico da árvore, assim também a palavra aplicada aos homens indica o resultado característico da natureza. O - arrependimento pois, deve incluir a mudança da natureza, apesar do fato que a palavra, em si mesma, não significa tal coisa.
Temos por pai a Abraão Nessa expressão estão incluídos o pensamento secreto de todo judeu, o espírito nacional, o orgulho religioso ensinado às crianças, que formam o elemento fundamental e indicam o estado e a posição privilegiados da nação de Israel. O que pensavam é que isso bastava para que recebessem qualquer bênção de Deus, inclusive a salvação.
Machado à raiz das árvores Qualquer pessoa do povo entenderia que seria mister eliminar as árvores que produzissem maus frutos ou que não produzissem fruto de espécie alguma. Provavelmente muitos deles já haviam cortado e queimado “árvores inúteis”.
Cujas sandálias não sou digno de levar Entre os deveres dos escravos havia esse de carregar e cuidar das sandálias de seus senhores. Esses deveres eram dados aos escravos de classe mais vil, e tal costume era conhecido e praticado entre os gregos, os romanos e os judeus. Portanto, João queria dizer que não ocupava nem a posição do mais vil escravo, em comparação com a glória da posição de Jesus.
Batizo com água O ministério de João era o de salvar, e assim notamos os que o batismo não tem mérito por si mesmo. Esse batismo era símbolo do arrependimento, e não o próprio arrependimento.
Os Textos paralelos
Atos 1.5: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.
Lucas está enfatizando o momento em que Jesus, antes da ascensão, determina aos discípulos que não se ausentem de Jerusalém, antes que recebam a promessa do Pai. É neste contexto, de igreja embrionária, que Lucas pronuncia as mesmas palavras, com uma diferença, elas não partem da boca do profeta João Batista, mas fluem dos lábios daquele de quem João, conforme seu próprio testemunho, não podia, nem mesmo, desatar as alparcas.
Mc 1.8: “Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”.
Em Marcos os acontecimentos foram descritos sem alteração ou introdução extensa, e sua apresentação foi marcada pela qualidade da exatidão encontrada nas narrativas das testemunhas oculares. A palavra característica deste Evangelho de ação é euthys, e foi traduzida para logo, imediatamente, sem demora, dentro em pouco.
Marcos deixa os pormenores de lado, e inicia seu Evangelho com João pregando, batizando e anunciando a pessoa do Messias que viria, a fim de batizar seus seguidores com o Espírito Santo.
Jo 1.33: “E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo”.
João não está falando aos outros, como nos demais sinópticos, mas dando um testemunho pessoal.
Outrossim, é importante observar que a expressão “que batiza” emprega o particípio presente. Logo, dize respeito ao ministério de Jesus como aquele que batiza no Espírito Santo durante toda a era atual.
Lc.316: “respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Esse texto é igual ao de nossa exégese, portanto do mesmo sentido.