Resumo de HERMENEUTICA
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CURSO: BACHARELADO EM TEOLOGIA LIVRE
NOME: KURT VIEHMAYER RODRIGUES
RESUMO DA DISCIPLINA EXEGESE BÍBLICA.
Exegese, sob uma perspectiva de conceituação elementar, é também definida como comentário para esclarecimento ou interpretação detalhada de um texto ou palavra, especialmente da Bíblia, leis ou gramática.
A palavra exegese tem sua origem no termo grego exegesis, que tanto pode significar narração, guiar, dirigir, governar, descrição ou apresentação, como explicação e interpretação. Exegese é, portanto, a exposição, a operação de interpretar. Enquanto a hermenêutica é a ciência da interpretação, a exegese é a aplicação dessa ciência à Palavra de Deus. É necessário serem feitas as devidas distinções entre exegese e hermenêutica.
A Hermenêutica se origina da palavra grega Hermeneutike que por sua vez, é derivada do verbo ermeneuein, que possui significado similar ao de exegese, isto é, “interpretar”. Ordinariamente trata-se dos princípios que dita as regras gerais ou específicas a serem aplicadas na busca e na determinação do sentido dos textos.
Por sua vez, a exegese, como já fora supracitado, trata-se da aplicação concreta de regras hermenêuticas; portanto, ela consiste na explicação propriamente dita do texto.
A Hermenêutica e a Exegese se relacionam na mesma forma que a teoria se relaciona com a prática, pois a exegese é a aplicação metodológica dos princípios técnicos hermenêuticos.
Portanto, a hermenêutica é a ciência da interpretação, e a exegese a extração dos pensamentos que assistiam ao escritor sagrado quando este redigia determinada porção da Escritura.
A exegese tem como objetivo o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é praticamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia.
O “exegeta” pode ser conceituado como a pessoa que interpreta e explica o sentido de um texto. A tarefa do exegeta é árdua, difícil e exige do exegeta cristão um rigoroso policiamento para que, de forma alguma, ele seja surpreendido pelo subjetivismo na sua análise textual, mas deve sempre primar pela objetividade e pelo bom senso na sua exegese, a fim de evitar extremismos.
Desde que Deus revelou as Escrituras, tem havido diversos métodos de estudar a Palavra de Deus. Os intérpretes mais ortodoxos têm encarecido a importância de uma interpretação literal, outros têm empregado um método alegórico, e ainda outros têm examinado letras e palavras tomadas individualmente como possuindo significado secreto que precisa ser decifrado. As referências do Novo Testamento ao Antigo interpretam-se literalmente; isto é, interpretam-no de acordo com as normas comumente aceitas para interpretar todos os tipos de comunicação - história como história, poesia como poesia, e símbolos como símbolos.
Quanto às Escolas Exegéticas, temos:
-Exegese Patrística (100-600 d.C.);
-Escola de Alexandria;
-Escola de Antioquia da Síria;
-Escola Ocidental;
-Exegese Medieval (600-1500 d.C.);
A Renascença foi de grande importância para o desenvolvimento dos princípios sadios da Hermenêutica. Nos séculos XIV e XV, a ignorância densa prevaleceu quanto ao conteúdo da Bíblia. Houve doutores de divindade que nunca a haviam lido inteira. E a tradução de Jerônimo era a única forma pela qual a Bíblia era conhecida. A Renascença chamou a atenção para a necessidade de se voltar ao original.
Os Reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra Inspirada de Deus. Mas, por mais estrita que fosse sua concepção de inspiração, concebiam-na como orgânica ao invés de mecânica. Em certos particulares, revelaram até mesmo uma liberdade notável ao lidar com as Escrituras. Ao mesmo tempo, consideravam a Bíblia como a autoridade suprema e como coorte final de apelo em disputas teológicas.
Lutero prestou à nação germânica um grande serviço ao traduzir a Bíblia para o alemão vernáculo. Também se engajou no trabalho de exposição, embora somente em uma extensão limitada. Suas regras hermenêuticas eram muito melhores do que a sua exegese. Embora não desejasse reconhecer nada além do sentido literal e falasse desdenhosamente da interpretação alegórica não se afastou inteiramente do método desprezado.
Calvino (1509-1564 d.C.) foi, por consenso, o maior exegeta da Reforma. Suas exposições cobrem quase todos os livros da Bíblia, e seu valor ainda é reconhecido. Acreditava firmemente no significado simbólico de muito do que se encontra no Antigo Testamento, mas não compartilhava da mesma opinião de Lutero de que Cristo deveria ser encontrado em toda parte da Escritura. Além disso, reduziu o número de Salmos que poderiam ser reconhecidos como messiânicos.
Calvino Insistiu no fato de que os profetas deveriam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas. Como ele via, a excelência primeira de um expositor consistia de uma brevidade lúcida. Além disso, considerava que “a primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria dizer”.
Os católicos romanos não fizeram nenhum avanço exegético durante o período da Reforma.
O racionalismo, posição filosófica que aceita a razão como a única autoridade que determina as opções ou curso de ação de alguém, surgiu como importante modo de pensar durante este período e cedo devia causar profundo efeito sobre a teologia e a hermenêutica. Durante vários séculos antes, a igreja havia acentuado a racionalidade da fé. Considerava a revelação superior à razão como meio de entender a verdade, mas a verdade da revelação foi tida como inerentemente razoável.
O racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Ao passo que nos séculos anteriores a revelação havia determinado o que a razão devia pensar, no final do século XIX a razão determinava que partes da revelação (se houvesse alguma) deviam ser aceitas como verdadeiras.
A neo-ortodoxia é um fenômeno do século XX. Ocupa, em alguns aspectos, uma posição intermediária entre os pontos de vista liberal e ortodoxo. Rompe com a opinião liberal de que a Escritura é tão-só produto do aprofundamento da consciência religiosa do homem, mas detém-se antes de chegar à perspectiva ortodoxa da revelação.
Quanto à exegese gramatical, no estudo do texto, o intérprete pode proceder da seguinte maneira. Começar com a sentença, com a expressão do pensamento do escritor como uma unidade e, então, descer aos particulares, à interpretação das palavras isoladas e dos conceitos.
O significado etimológico das palavras merece atenção em primeiro lugar, porque precede todos os outros significados. Para interpretar corretamente a Bíblia, o intérprete deve ter conhecimento dos significados que as palavras adquiriram no curso do tempo e do sentido em que os autores bíblicos as usaram.
As palavras sinônimas são aquelas que têm o mesmo significado, ou concordam em um ou mais de seus significados, embora possam diferir em outros. Elas, freqüentemente, concordam em seus significados fundamentais, mas expressam diferentes nuanças. O uso de sinônimos contribui para a beleza da linguagem tanto quanto capacita um autor a variar suas expressões.
No estudo das palavras isoladas, a questão mais importante não é quanto ao significado etimológico, nem mesmo quanto aos vários significados que adquiriram gradualmente. A questão essencial é quanto ao seu sentido particular no contexto em que ocorre. O intérprete deve determinar se a palavra é usada em seu significado geral ou em um de seus significados especiais, se é usada no sentido literal ou figurado. No estudo das palavras em seu contexto, o intérprete deve proceder segundo os seguintes princípios:
-A linguagem da Escritura deve ser interpretada de acordo com seu significado gramatical; e o sentido de qualquer expressão, proposição ou declaração deve ser determinado pelas palavras usadas”;
-Uma palavra pode ter apenas um significado fixo no contexto em que ocorre; e
-Se uma palavra é usada na mesma conexão mais do que uma vez, a suposição natural é de que ela tem o mesmo significado em toda parte.
A metáfora pode ser chamada de comparação não expressa. Ela é uma figura de linguagem na qual um objeto é assemelhado a outro afirmando ser o outro, ou falando dele como se fosse o outro. As metáforas ocorrem freqüentemente na Bíblia.
As metonímias também são numerosas na Bíblia. Essa figura é baseada em relações em vez de em semelhanças. No caso da metonímia, essa relação é mais mental do que física. Ela indica relações como causa e efeito, progenitor e posteridade, sujeito e atributo, sinal e objeto assinalado. A sinédoque assemelha-se, de alguma forma, à metonímia, mas a relação na qual é encontrada é mais física do que mental.
Nessa última figura, há uma certa identidade entre o que é expresso e o que se quis dizer. Uma parte é expressa pelo todo ou o todo por uma parte; um gênero pela espécie, ou uma espécie por um gênero; um indivíduo pela classe ou uma classe pelo indivíduo; um plural pelo singular ou um singular pelo plural.
É da maior importância, para o intérprete, saber se uma palavra foi usada no sentido literal ou figurada. Os judeus, e até mesmo os discípulos, muitas vezes se enganaram seriamente por interpretar literalmente o que Jesus queria dizer de forma figurada. Cf Jo 4.11, 32; 6.52; Mt 16.6-12.
Não compreender o que Senhor falou figurativamente quando disse “Isto (é) o meu corpo” tornou-se até mesmo em uma fonte de divisão nas Igrejas da Reforma. Portanto, é de extrema importância que o intérprete tenha segurança nesse assunto.
A explicação do pensamento é algumas vezes chamada de “interpretação lógica”. Ela procede da suposição de que a linguagem da Bíblia é, como qualquer outra linguagem, um produto do espírito humano, desenvolvida sob a direção providencial.
Elipse é o que consiste na omissão de uma palavra ou palavras necessárias para se completar a construção de uma sentença, mas não requeridas para o entendimento desta.
Braquilogia, também uma forma de discurso concisa ou abreviada, consiste especialmente na não repetição ou omissão de uma palavra, quando sua repetição ou uso seria necessário para completar a construção gramatical. Nessa figura, a omissão não é tão evidente quanto na elipse.
Zeugma, que consiste de dois substantivos construídos com um verbo, embora apenas um - geralmente o primeiro – se ajuste ao verbo.
Eufemismo consiste em substituir uma palavra que expressa mais acuradamente o que se queria dizer por outra menos ofensiva.
A litote afirma algo pela negação do oposto. A meiose é intimamente relacionada à litote. Algumas autoridades associam as duas; outros consideram a litote como uma espécie de meiose. Ela é uma figura de linguagem na qual menos é dito do que se queria dizer.
Há figuras que dão mais ênfase a uma expressão, ou a fortalecem. Elas podem ser o resultado de uma indignação justa ou de uma imaginação viva. A ironia contém censura ou escárnio disfarçado de louvor ou elogio. A hipérbole ocorre freqüentemente e consiste de um exagero retórico.
Na sentença verbal hebraica, a ordem regular é essa: predicado, sujeito, objeto. Se em uma sentença o objeto se encontra em primeiro lugar, ou o sujeito for colocado no começo ou no fim, é altamente provável que eles sejam enfáticos. O primeiro lugar é o mais importante da sentença, mas a palavra enfática pode também ocupar o último lugar. Harper dá as seguintes variações da ordem usual:
As parábolas merecem uma atenção especial!
A palavra “parábola” é derivada do grego paraballo (jogar ou colocar ao lado de), e sugere a idéia de colocar alguma coisa ao lado de outra para comparação. Ela denota um método simbólico de linguagem, no qual uma verdade moral ou espiritual é ilustrada pela analogia da experiência comum. Ela mantém os dois elementos da comparação distintos como “interno e externo”, e não atribui qualidades e relações de um ao outro.
O Senhor tinha um propósito duplo ao usar as parábolas, a saber, revelar os mistérios do Reino de Deus a seus discípulos e ocultá-los daqueles que não tinham olhos para as realidades do mundo espiritual.
Na interpretação das parábolas, 4 elementos devem ser levados em consideração:
-O escopo da parábola ou do assunto a ser ilustrado. É de importância fundamental que o propósito da parábola sobressaia-se claramente na mente do intérprete. Na tentativa de explorá-la, ele não deve negligenciar os importantes auxílios oferecidos na Bíblia;
-A ocasião na qual uma parábola foi introduzida pode ilustrar seu significado e propósito;
-A representação figurada da parábola. Depois que o escopo da parábola for determinado, a representação figurada pede um exame cuidadoso. A narrativa formal que pretende, de uma só vez, revelar e ocultar a verdade, deve ser cuidadosamente analisada e toda luz geográfica, arqueológica e histórica necessárias devem ser dirigidas a ela; e
-O objetivo exato da comparação. O objetivo exato da comparação deve ser detectado. Há, sempre, algum aspecto especial do Reino de Deus, alguma linha de tarefa particular a ser seguida, ou algum perigo a ser evitado, que a parábola busca exibir e ao qual todo o seu imaginário é subserviente.
Devemos entender e analisar as verdades das Escrituras, sem prejuízo delas, sem eliminá-las de sua circunstância histórica. E então dar um novo e apropriado significado para o seu propósito prático. Mas, nunca podemos interpretar as Escrituras sem a exegese histórica. É preciso verificar as condições: Circunstâncias geográficas; Circunstâncias políticas; e Circunstâncias Religiosas;
Quanto à exegese teológica, os elementos que podem ajudar o expositor na interpretação teológica são compostos de duas partes: (1) Paralelos Reais ou Paralelos de Idéias; e (2) Analogia da Fé ou da Escritura. Ambos procedem do pressuposto de que a Palavra de Deus é uma unidade orgânica na qual todas as partes são mutuamente relacionadas e, juntas, subservientes ao todo da revelação de Deus; e que, em última análise, a Bíblia é a sua própria intérprete.
“Paralelos reais”, diz Terry, “são aquelas passagens similares nas quais a semelhança ou identidade consiste não em palavras ou frases, mas em fatos, assuntos, sentimentos ou doutrinas”. No seu uso, o intérprete deve determinar, primeiramente, se as passagens citadas são realmente paralelas, se não são meramente similares até certo grau, mas essencialmente idênticas.
“A Analogia da Fé ou da Escritura” é derivada de Rm 12.6, onde lemos: “tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé (kata ten analogian tes pisteos)”. Alguns, equivocadamente, interpretaram “fé” aqui objetivamente, no sentido de doutrina, e consideraram analogia como a designação de um padrão externo. No entanto, corretamente interpretada, a expressão toda significa simplesmente, de acordo com a medida da sua fé subjetiva. Conseqüentemente, o termo derivado dessa passagem é baseado num mal-entendido.
Há dois graus de analogia da fé com os quais o intérprete da Bíblia deve se preocupar:
-Analogia Positiva. Consiste daqueles ensinamentos da Bíblia que são clara e positivamente expressos, e amparados por tantas passagens que não pode haver dúvida quanto ao seu significado e valor. Tais verdades são as da existência de um Deus de perfeição infinita, santo e justo mas, também, misericordioso e gracioso; do governo providencia de Deus e seu propósito benéfico para com o pecador; da graça redentora revelada em Jesus Cristo, de uma vida futura e retribuição; e
-Analogia Geral. O segundo grau é chamado analogia geral da fé. Ela não repousa nas declarações explícitas da Bíblia, mas na extensão óbvia e importância dos seus ensinamentos como um todo, e nas impressões religiosas que deixam na humanidade. Assim, é claro que o espírito da lei Mosaica como também do Novo Testamento é inimigo da escravidão humana. É perfeitamente claro também que a Bíblia é hostil ao puro formalismo na religião e favorece a adoração espiritual.
A analogia da fé nem sempre tem o mesmo grau de valor evidente e autoridade. Isso depende de quatro fatores:
-O número de passagens que contém a mesma doutrina. A analogia é mais forte quando encontrada em doze passagens do que quando baseada em seis;
-Unanimidade ou correspondência das diferentes passagens. O valor da analogia será proporcional à concordância das passagens em que é encontrada;
-Clareza da passagem. Naturalmente, uma analogia que repousa inteiramente, ou em grande parte, em passagens obscuras, tem um valor um tanto duvidoso; e
-Distribuição das passagens. Se a analogia é encontrada em passagens derivadas de um único livro ou de alguns poucos escritos, não será tão valiosa como quando baseada em passagens do Antigo e do Novo Testamento, de várias épocas e de diferentes autores.
No estudo dos Evangelhos, a exegese se torna mais difícil que nas epístolas, pela simples razão de que a maior parte de sua substância antecipa a Cruz e a ressurreição de Cristo, sem que este glorioso ato- chave seja ainda manifesto.