Resumo de HISTORIA DE ISRAEL
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Curso de Graduação Livre – Bacharelado em Filosofía
Disciplina: PROFETAS MAIORES
Aluno: 2019033796
Clément R.S.Danilo
RESUMO
CONCEITO GERAL
A divisão dos Livros
Os 17 livros do Antigo Testamento, de Isaías a Malaquias, são classificados como proféticos. Antigos eruditos dividiram estes livros em dois grupos:
Os cinco livros: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel, foram designados como livros dos “Profetas Maiores”. Os outros 12 livros foram designados como livros dos “Profetas Menores”.
A divisão entre profetas maiores e menores consiste, não que esse profeta seja maior ou menor que aquele, mas em que, uns proferiram maior ou menor número de profecias.
Profetas Maiores
Os livros dos profetas, formando quase um terço do Velho Testamento, contêm a doutrina e, em certos casos, a história pessoal dos profetas, desde o séc. VIII ao séc. IV A. C.
Atravessava-se, então, um período de grandes acontecimentos políticos: Israel, deixava de existir; a Assíria perdia a sua independência; Babilônia era submetida pelos persas; Jerusalém, após ter sofrido uma destruição total, vivia um período de ressurgimento nacional. A Grécia, depois de se libertar galhardamente do inimigo invasor, via-se a braços com a praga das lutas internas. Roma, a expandir-se avassaladoramente. Enfim, uma época brilhante em todos os ramos da ciência, da política e da estratégia.
O profeta era Primeiramente um "homem de Deus", quer dizer mais intimamente ligado a Deus do que os outros homens, e, portanto, mais reto e mais justo do que eles. Em segundo lugar o profeta é um "servo DO SENHOR", com uma missão especial a cumprir, a de entregar uma mensagem aos povos. Daí ser o profeta o "mensageiro DO SENHOR". As suas palavras tinham uma autoridade e uma força que só podiam advir de Deus. Finalmente o profeta é um "homem de Espírito", no dizer de Oséias (Veja: Os 9.7). Isto no que se refere ao poder e à autoridade do profeta. Mas, se atendermos ao fato de que era esse homem que explicava aos povos a mensagem divina, podemos ainda acrescentar aos epítetos do profeta o de "intérprete".
Mais três nomes vêm-nos indicar como o profeta recebia a sua mensagem, e a seguir como a tornava conhecida. Dois deles roeh e chozeh significam "vidente". O profeta vê o que não é dado ver aos restantes homens, mas não por mérito próprio devido a uma excepcional perspicácia, ou a um poder de penetração, que são apanágio de inteligências agudas e experientes. Também não se trata do emprego de meios semelhantes aos que se utilizavam na adivinhação ou no ocultismo. A "visão" do profeta resulta exclusivamente dum dom sobrenatural, independente da vontade do mesmo profeta, pois o objeto dessa visão é revelado por Deus.
A terceira palavra em questão, mais freqüente e que se traduz por profeta, é nabi, e dá a entender que a pessoa assim designada é um verdadeiro intérprete.
Durante os vários séculos da atividade dos profetas, a história de Israel e de Judá foi largamente afetada pelas ambições de três grandes países: Assíria, Babilônia e Pérsia. E de tal modo o domínio foi exercido pelos vencedores, que podemos agrupar os acontecimentos conforme o período desse domínio exercido.
O Período Assírio
Durante a maior parte do reinado de Jeroboão II (783-743 A. C.) a Assíria encontrava-se plenamente absorvida com os seus assuntos internos. Jeroboão estendera as fronteiras do norte até aos limites do reinado de Davi, com exceção de Judá. Este acontecimento, já foi anunciado por Jonas (2Rs 14.25), foi seguido por um largo período de prosperidade material, como se depreende da pregação de Amós e Oséias. Estes profetas não deixam, todavia, de acentuar o declínio espiritual e a corrupção dos costumes que então atingiram um nível nunca alcançado.
Em 745 A. C. Tiglate-Pileser III, procurou infiltrar-se na Ásia ocidental, acontecimento também previsto por Amós e Oséias, mercê dos pecados de Israel.
Amós profetizou a destruição da corte real, profecia que se cumpriu quando Zacarias, sucessor de Jeroboão, foi assassinado pelo usurpador Salum.
Salum foi assassinado por Menaém, que passou a reinar dez anos, embora durante cinco pagasse tributo à Assíria. Quando, porém, subiu ao trono seu filho Pecaías, uma revolta substituiu-o por Peca que, não concordando com a política da Assíria, formou uma aliança com a Síria e atacou Judá, possivelmente por não querer aderir àquela aliança. Foi nesta altura que Isaías previu a queda de Samaria e Damasco. Não obedecendo aos conselhos do profeta, o rei da Judéia, Acaz, pediu socorro à Assíria, a que Tiglate-Pileser III respondeu com a invasão duma grande parte de Israel, levando a população dos territórios invadidos e reduzindo o reino do norte a estreitas fronteiras.
Peca foi assassinado por Oséias, e Israel mais uma vez passou a pagar tributo à Assíria. Em 732 A. C. Damasco sofre a invasão da Assíria, o mesmo sucedendo dez anos mais tarde a Samaria. Oséias, encorajado pelo Egito, revolta-se contra a Assíria, mas falhou a tentativa de atingir a liberdade. A cidade foi cercada pelo exército de Salmaneser V e, após três anos, capitulou ao seu sucessor Sargom II. Os sobreviventes foram exilados e o reino do norte deixou de existir.
Como Israel, no reinado de Jeroboão, Judá no tempo de Uzias aproveitou a relativa liberdade e independência para desenvolver o poderio militar e intensificar o comércio. Isaías, que começou a sua missão profética no ano da morte de Uzias, oferece-nos uma descrição real dos males sociais e religiosos do tempo de Jotão. Em virtude de Acaz, seu sucessor, não ouvir as advertências do profeta na altura da guerra entre a Síria e Efraim, Judá perdeu a sua independência, o que veio trazer conseqüências desastrosas para a vida religiosa da nação.
Durante algum tempo, Ezequias continuou a política de sujeição de seu pai e, quando o Egito pensou em fomentar uma revolta entre as nações menores, Isaías opôs-se a uma aliança e previu a queda do país. Associou, todavia, o usurpador babilônico a Merodaque-Baladã, depois do que profetizou o cativeiro de Babilônia (cfr. 2Rs 20.12-21).
Morto Sargom II em 705 A. C., Ezequias revoltou-se contra a Assíria e atacou os filisteus, que eram seus tributários. A invasão de Senaqueribe, que terminou pela libertação miraculosa de Jerusalém, causou uma profunda impressão, e passou-se a confiar no Senhor, pelo amor que dedicava à Cidade Santa.
A reforma de Ezequias, efetuada no tempo de Isaías e Miquéias, eliminou as práticas introduzidas por seu pai Acaz (cfr. 2Rs 16.2-4,10-12). Seu filho Manassés, porém, prestou vassalagem à Assíria e voltou ao paganismo, desta vez acompanhado duma série de perseguições e de atos de violência, que tornaram detestável o seu reinado.
Depois da morte de Assurbanípal em 625 AC. Nabopolassar fundava o Império neo-babilônico. Como causa destes acontecimentos, em Judá, o filho de Amom, Josias, podia executar a reforma indicada no livro que encontrou no templo e estender a sua atividade até Samaria. Como Naum previra, Nínive foi conquistada pelos medos e pelos babilônios em 612 A. C. O império assírio perdia-se irremediavelmente, seguindo-se o domínio evidente de Babilônia.
O Período Neo-Babilônico
Em 608 A. C. Faraó Neco levou a cabo uma expedição ao Eufrates, e Josias saiu-lhe ao encontro e deu-lhe batalha em Megido.
Os acontecimentos que se seguiram em Judá têm uma estranha semelhança com a de Israel nos últimos anos. Só um dos quatro restantes reis de Judá morreu de morte natural. Tal como os profetas Oséias e Isaías estiveram em contato com os acontecimentos de Israel, assim Jeremias e Ezequiel na luta final de Judá foram os mensageiros da palavra de Deus ao povo.
Depois da morte de Josias subiu ao trono seu filho Jeocaz, ele foi deposto por Faraó Neco, que entregou o trono a seu irmão Jeoaquim. Jeremias compara a injustiça deste com o reto proceder do pai em relação aos pobres e necessitados ( Jr 22.13-19). E das suas palavras se conclui, que neste reinado também se levantou uma onda de paganismo gigantesca e avassaladora.
Em 605 A. C. Neco perdeu a vida na batalha de Carquémis em luta com os babilônios. Judá foi subjugada e durante três anos Jeoaquim prestou vassalagem a Nabucodonosor, filho de Nabopolassar.
Faleceu Jeoaquim e subiu ao trono Joaquim, seu filho. Três meses mais tarde, em 597 AC., capitulou e Nabucodonosor levou-o cativo para Babilônia, juntamente com as pessoas mais destacadas do país. Esse cativeiro durou trinta e cinco anos.
A capitulação do rei de Judá veio, no entanto, prolongar a vida de Jerusalém por mais dez anos. Matanias, tio do rei cativo, foi colocado no trono por Nabucodonosor que lhe mudou o nome para Zedequias.
Dos primeiros cativos levados para Babilônia salientaram-se Daniel e seus companheiros, que, apesar de viverem na corte pagã, ficaram sempre fiéis ao culto do Senhor.
O livro de Ezequiel fala-nos largamente dum grupo de judeus cativos que, levados com Joaquim, se tinham estabelecido num lugar chamado Tel-Abibe. O profeta era um membro desta colônia. Da carta que Jeremias lhes dirigiu (Jr 29) pode deduzir-se que gozavam de grande liberdade, pois é provável que vivessem em bairros próprios ou então num extenso território demarcado, onde não poderiam considerar-se prisioneiros no sentido rigoroso da palavra.
Longe de Canaã, nunca mais se deixaram seduzir pelos seus Baals. Nada poderia conduzi-los ao culto dos deuses dos vencedores assírios e egípcios graças à eficiente pregação de Ezequiel, e esquecidos os deuses de Babilônia.
Em 561 A. C. morreu Nabucodonosor. Os três reis que lhe sucederam reinaram por períodos relativamente curtos. Julga-se que o último, Nabonido, se tenha retirado para a Arábia, depois de ásperas contendas com os sacerdotes.
Tornou-se co-regente seu filho Baltasar. Alguns anos antes Ciro, governador de Chuchan, revoltou-se contra Astíages, rei da Média, e iniciou uma série de conquistas. Ciro submeteu Babilônia em 539 AC. O gênio militar e outras virtudes guerreiras deste monarca entusiasmaram a imaginação dos escritores antigos. E assim termina o período babilônico com a subida ao poder do grande rei.
O Período Persa
Inicia-se este período por um fato importante: o do cumprimento das profecias da restauração. Ciro simpatizava-se com as aspirações religiosas dos diferentes povos do seu império. Conta Josefo, que chegou a proteger os judeus, só porque lhe tinham sido apresentadas as profecias de Isaías.
Em 538 AC. publicou mesmo um decreto autorizando-os a voltar e a reconstruir a sua cidade. Partiram nesse ano os primeiros cinqüenta mil, chefiados por Sesbazar.
Zorobabel, neto de Joaquim, passou a governar o reino de Judá. O império persa via-se agora a braços com diversas revoltas que vieram ofuscar o alvorecer do reinado de Dario.
Nada mais se sabe dos restantes exilados, até que em 458 A. C. chega Esdras com um novo grupo vindo de Babilônia e portadores de consideráveis presentes para o culto do templo.
Artaxerxes encarregara Esdras de organizar o culto do templo e de instruir o povo em conformidade com a Lei de Moisés. Catorze anos após a sua chegada, Neemias era nomeado governador da província e conseguiu restaurar a Lei Mosaica, a supressão dos casamentos com estrangeiros e do comércio ao sábado.
O PROFETA ISAÍAS
Entre a "santa companhia dos profetas", Isaías destaca-se como uma figura majestosa. Pela elevação e originalidade do seu pensamento, bem como pela qualidade superlativa do seu estilo, é único no Velho Testamento.
O seu ministério foi longo, desde a sua chamada à missão profética no reinado de Uzias, rei de Judá, através dos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, com um possível interlúdio de serviço no tempo de Manassés.
Durante todos estes anos revelou-se um estadista que lia o significado geral dos acontecimentos nos grandes problemas políticos da época e também um profeta verdadeiramente designado e escolhido pelo Senhor para proclamar o propósito divino com convicção inabalável e coração ardente.
Era casado e chama a sua mulher "a profetisa", teve dois filhos, Sear-jasub e Maher-shalal-hash-baz, cujos nomes constituíam prenúncio dos acontecimentos que se avizinhavam e reforçavam a mensagem do profeta.
A influência mais destacada e mais perdurável na vida de Isaías foi, sem dúvida, a sua chamada pessoal e direta ao ministério profético dentro do recinto do templo depois da morte de Uzias.
Em épocas de crise nacional, houvera sempre em Israel, como em Judá, a mensagem do Senhor, numa ou noutra conjuntura, através da voz dos profetas, e nas palavras de Isaías descortinam-se vestígios dos elementos característicos das suas mensagens.
Durante o reinado do bom rei Uzias, Judá esteve em paz durante muitos anos e pouco conheceu das dificuldades que o reino do norte teve de enfrentar. Externamente havia paz e piedade, mas por debaixo, e no próprio âmago da vida da nação, havia desassossego e um afastamento pronunciado da realidade da adoração instituída no Concerto.
Isaías deve ter visto claramente, na fase mais formativa da sua vida, que, se não houvesse um movimento de regresso ao Senhor, a catástrofe era inevitável.
Assim, equipado de forma única para o ministério a que era chamado, e preparado na escola da experiência para a prova que se avizinhava, no ano em que o rei Uzias morreu e em que o trono, havia tanto ocupado com tal distinção, vagou uma vez mais, o profeta estava pronto para a alta missão do Senhor transcendente nas alturas, e não desobedeceu à visão celestial.
A missão que lhe foi confiada no dia da sua chamada ficou amplamente realizada, pois a mensagem que transmitiu foi, de fato, uma mensagem de condenação, e a profecia então feita, de que anunciaria a Palavra do Senhor mas que esta, embora ouvida seria incompreendida, teve cumprimento cabal.
A glória da vida de Isaías é que não se esquivou ao problema quando recebeu a chamada. Através de todos aqueles anos sombrios, enquanto a nação caminhava sem parar e com rapidez crescente para o abismo e para a catástrofe, ele continuou a proclamar a mensagem do Senhor, mantendo-se firme como uma rocha da verdade no meio das marés e redemoinhos da infidelidade e irreligião do mundo.
Cronologia histórica.
745-Tiglate-Pileser III ascende ao trono da Assíria.
740-Morte de Uzias. Jotão sucede-lhe no trono. Visão de Isaías.
736-Morte de Jotão. Acaz sucede-lhe no trono. O Reino do Norte alia-se à Síria para atacar Judá.
734-732-Tiglate-Pileser ataca e invade Israel e a Síria.
727-Ascensão de Salmaneser ao trono da Assíria.
725-Ezequias sobe ao trono, sucedendo a Acaz.
722-Ascensão de Sargom II ao trono da Assíria. Tomada de Samaria. Cativeiro de Israel.
711-Sargom invade a Síria. Asdode é capturada.
709-Tomada da Babilônia.
705-Sargom assassinado; sucede-lhe Senaqueribe.
701-Senaqueribe invade Judá.
A Problemática Dos Capítulos 40-66
Há quase um século que se afirma, se põe em dúvida e se nega que tenha sido Isaías o autor dos capítulos 40 a 66.
Os capítulos 40 a 66 não têm título nem reivindicam Isaías como autor. Os capítulos 40 a 48 referem-se claramente à ruína de Jerusalém e ao exílio como fatos transatos. O autor dirige-se a Israel como se tivesse já passado o tempo da sua servidão em Babilônia, e proclama a libertação do povo eleito como imediata. Chama a Ciro o salvador de Israel, referindo-se-lhe como tivesse já encetado a sua carreira e sido abençoado com o êxito pelo Senhor.
Ciro é apresentado, não como predição, mas como prova do cumprimento de uma predição. Se não tivesse já aparecido em cena, e em vésperas de atacar Babilônia com todo o prestígio dos seus triunfos constantes, grande parte dos capítulos 40 a 48 seria ininteligível. Há, assim, uma data bem nítida a atribuir a esses capítulos; devem eles ter sido escritos entre 555 a.C., data do advento de Ciro e 538 a.C., data da queda de Babilônia.
Recentemente, os argumentos a favor da unidade do livro foram reforçados pela descoberta dos manuscritos do Mar Morto, nos quais não há qualquer solução de continuidade no manuscrito de Isaías entre o final do capítulo 39 e o princípio do capítulo 40, começando, até, o capítulo 40 na última linha da página. É claro que não se podem extrair daqui quaisquer conclusões definitivas, mas trata-se de um fato que deve ser considerado importante como elemento de uma argumentação cumulativa.
Finalmente, assevera-se que o contraste entre Jeremias e o livro de Isaías pelo que respeita à forma de predição do cativeiro é inteiramente único se, de fato, os capítulos 40 a 66 forem anteriores ao exílio. Jeremias falava do exílio e da certeza da libertação, mas sempre no futuro. Predisse aberta e nitidamente ambos estes acontecimentos, mas com uma reserva e reticência de pormenores que, segundo se diz, são inteiramente inexplicáveis se estes últimos capítulos de Isaías tivessem sido já escritos, e por um profeta tão destacado. O apelo do profeta dirige-se a um povo que sofre há muito sob a mão do Senhor; e é a homens e mulheres cuja consciência fora avivada e tornada sensível à sua culpa pelo poder punitivo das provações e do desgosto que é dada à esperança da libertação, sendo Ciro, o libertador, proclamado como instrumento do seu Deus.
Profecias Messiânicas
A Vinda do Senhor Jesus Cristo - o Messias - como salvador da humanidade, bem como sua obra e sofrimento foram profetizados muitos séculos antes do Seu nascimento. Deus usou homens santos para predizerem detalhadamente como seria o Messias, sua vinda e manifestação do Reino dos céus. Como sabemos, o Messias foi rejeitado e morto pelos judeus. Ressuscitado, está ao lado do Pai e em breve retornará para conduzir os eleitos à morada eterna.
As passagens proféticas do Livro de Isaias cumpridas no Novo Testamento:
Como Filho de Deus
Como descendente de mulher
Como descendente de Abraão
Como descendente de Isaque
Como descendente de Davi
Sua vinda em tempo certo
Seu nascer de uma virgem
Ser chamado Emanuel
Nascer em Belém
Grandes viriam adorá-lo
Matança dos meninos de Belém
Ter chamado do Egito
Ser precedido por João
Sua unção com o Espírito
Ser profeta semelhante a Moisés
Ser sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque
Sua entrada no ministério publico
Se ministério iniciado na galiléia
Sua entrada publica em Jerusalém
Sua vinda ao templo
Sua pobreza
Sua humildade e falta de ostentação
Sua ternura e compaixão
Sua ausência de engano
Seu zelo
Sua pregação por parábola
Seus milagres
Ter sido injuriado
Ter sido rejeitado por seus irmãos
Ser uma pedra de escândalo aos judeus
Ter sido odiado pelos judeus
Ter sido rejeitado pelos lideres judeus
Os judeus e os gentios, contra Ele
Seria traído por um amigo
Seus discípulos O abandonariam
Seria vendido por trinta moedas
Seu preço seria dado pelo campo do oleiro
A intensidade de seus sofrimentos
Seu sofrimento em lugar de outros
Sua paciência e silencio sob os sofrimentos
Ser esbofeteado
Sua aparência maltratada
Terem-No cuspido e flagelado
Cravação de seus pés e mãos à cruz
Ter sido esquecido por Deus
Ter sido zombado
Mel e vinagre ser-Lhe-iam dados
Suas vestes seriam divididas e sortes lançadas
Seria contado com os transgressores
Sua intercessão pelos Seus assassinos
Sua morte
Nenhum dos Seus ossos seria quebrado
Seria traspassado
Seria sepultado com o rico
Não veria a corrupção
Sua ressurreição
Sua ascensão
Seu assentar à direita de Deus
Seu exercer o oficio sacerdotal, no céu
Seria a pedra principal da igreja
Seria Rei em Sião
Conversão dos gentios a Ele
Seu governo reto
Seu domínio universal
A perpetuidade de Seu reino
O PROFETA JEREMIAS
Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626 A.C., a Assíria sujeitara Judá ao seu domínio, cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente enfraqueceu, após a morte de Assurbanipal em 633 A.C. Certas províncias do império perderam-se em 614 A.C., e outras no cerco final de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive em 612 A. C.
Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 609 A.C., subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que desbaratou os seus exércitos na batalha de Carquemis e o obrigou a recuar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que Judá, até ali sujeito à Assíria, passou para o controle da Babilônia.
Depois da morte de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias.
Jeoaquim, confiante nas promessas egípcias de auxílio maciço, fez uma tentativa de sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A.C., Nabucodonosor atacou Jerusalém, prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no trono.
O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio Psamatique II. Presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios de ter existido um partido pró-egito na corte. Ananias, o profeta, salientava-se bastante nesta conjuntura.
Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. Denunciava-os como falsos profetas, afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor confesso.
Zedequias foi intimado a avistar-se com Nabucodonosor e escrever as condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra se tornou faraó em 589 AC., a influência egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento no seu socorro, e o monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 A.C. Por fim, apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor que procurava fugir para os caldeus.
A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à tragédia e ao exílio. O Egito revelou-se uma cana quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia.
Este livro dá-nos pormenores referentes à vida de Jeremias até à sua partida forçada para o Egito. Depois, abatem-se as trevas sobre o profeta, atenuadas, se porventura o são, apenas por vagas tradições. Nada há que permita chegar a conclusões definitivas quanto à sua sorte. Segundo uma tradição cristã, alguns cinco anos depois da queda de Jerusalém, foi lapidado em Tahpanhes pelos judeus, que, mesmo então, se recusavam a comungar na sua visão e na sua fé.
Politicamente, como vimos, o profeta perdeu, mas espiritualmente obteve retumbante vitória. Com Amós e Oséias, confiava em como, apesar de a idolatria e a infidelidade ao Senhor acarretaram necessariamente o castigo, Israel e Judá não seriam destituídos definitivamente da graça de Deus. Com esses profetas, comungava também na fé que o exílio como disciplina seria, não totalmente trágico, mas uma experiência corretiva.
Quando o livro da Lei encontrado por Hilquias nas ruínas do templo provocou a reforma do reinado de Josias em 621 A. C., parece evidente que, de princípio, Jeremias vibrou no mesmo entusiasmo que o monarca, emprestando a este a sua influência e auxílio. Parece igualmente evidente, porém, que, mais tarde, a sua confiança nesse avivamento começou a enfraquecer, considerando-o o profeta demasiado fácil e superficial para satisfazer os requisitos do Senhor. A grande necessidade era de uma mudança de coração, só possível num povo que depositasse a sua fé tão-somente no Senhor. Ora, a geração de Jeremias recusava-se a conceder essa centralidade de fé.
Muitos comentadores têm afirmado que Jeremias, com outros profetas, se opunha ao ritual de sacrifícios. Todavia, a atitude de Jeremias será melhor interpretada se nós descortinarmos a lição de que, sempre que um sacrifício não constitui um verdadeiro índice da adoração e arrependimento do indivíduo, então esse sacrifício não terá valor, sendo, portanto, contrário ao desejo e vontade do Senhor. Quando muito, um sacrifício só poderia ser um meio para atingir o fim espiritual de um regresso contrito ao Senhor, jamais podendo constituir um fim suficiente em si.
O próprio livro diz que Baruque, o escriba, escreveu as profecias que Jeremias pronunciou, e declara que "ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes". Duma maneira geral, Baruque parece ter sido fiel amanuense de Jeremias e acompanhou-o até ao Egito.
As próprias profecias não vêm em ordem cronológica, o que pode causar confusão numa mentalidade ocidental, habituada a encarar tais problemas de uma maneira lógica. O problema resulta ainda mais complicado por haver grandes diferenças entre o texto hebraico e o dos Setenta deste livro, fenômeno que se verifica mais nele do que em qualquer outro. Estas diferenças não dizem respeito apenas às palavras mas afetam a ordem de apresentação do conteúdo.
LAMENTAÇÕES
O título mais completo, "As Lamentações de Jeremias" é encontrado nos manuscritos gregos e na Septuaginta. Mas o Talmude e os escritores rabínicos se referem a ele simplesmente como "Lamentações" (qinoth) ou como "Como!" (’ ekhah), a palavra inicial no hebraico.
Consoante o título mais longo, a Septuaginta coloca o livro imediatamente após as profecias de Jeremias, tal como em nossas versões portuguesas. Na Bíblia hebraica esse livro não é encontrado entre os livros proféticos, mas ocupa a posição média entre os Rolos Festivos (Megilloth) que seguem imediatamente os três livros poéticos da Hagiógrafa, ou seja, a terceira divisão do cânon hebreu.
Cada um dos Megilloth era lido por ocasião de uma festividade anual, sendo que o livro de Lamentações era lido no nono dia de Ab (cerca de meados de julho), aniversário da destruição do templo por Nabucodonosor, rei da Babilônia. No Talmude, os livros poéticos e o Megilloth aparecem rearranjados numa ordem que parece ser a ordem cronológica.
A tradição que Jeremias compôs esses poemas recua até à posição e ao título do livro na Septuaginta, onde é introduzido mediante as palavras: "E sucedeu, após Israel ter sido levado cativo, e Jerusalém ter ficado desolada, que Jeremias se assentou a chorar, e lamentou com esta lamentação por causa de Jerusalém e disse...". Também é asseverado no Targum Siríaco e no Talmude (Baba Bathra) que: "Jeremias escreveu seu próprio livro, Reis, e Lamentações".
Porém, muitos consideram que o autor do livro de Lamentações tenha sido um contemporâneo mais jovem de Jeremias, o qual, à semelhança dele, fora testemunha ocular das entristecedoras calamidades que sobrevieram a Jerusalém por ocasião da captura efetuada pelos exércitos de Babilônia em 587-586 a.C. Outros consideram os capítulos 2 e 4 como obra de uma testemunha ocular cerca de 580 a.C., aos quais foram então adicionados, talvez originados em fontes diferentes, o lamento nacional do capítulo primeiro, o lamento pessoal do capítulo 3, e a oração do capítulo 5. A data desse material pode ser fixada em cerca de 540 a.C. Alguns, porém, preferem datar a coleção inteira como pertencente a período bem posterior, fazendo o livro referir-se ao cerco de Jerusalém, em 170-168 a.C., por Antíoco Epifânio, ou mesmo em 63 a.C., por Pompeu; porém, isso é altamente improvável.
Em favor da data tradicional que é o período do exílio temos a nota de desânimo, de princípio ao fim do livro, que sugere um tempo antes do levantamento de Ciro, o persa. Há também o fato que esse período particular da história da Babilônia é notório por seus hinos fúnebres em memória de cidades caídas. Existem inscrições cuneiformes nas quais "a filha de..." é exortada a lamentar sua sorte (cfr. Lm 2.1). Essa técnica, portanto, pode ter sido aprendida pelos judeus, no exílio.
Os comentadores rabínicos se referem aos "sete acrósticos" e pode ser observado de imediato que cada capítulo tem vinte e dois versículos, que correspondem ao número e à ordem das letras no alfabeto hebraico, fazendo exceção o capítulo 3, que possui sessenta e seis versículos, no qual cada letra sucessiva conta com três versículos dedicados à mesma, em lugar de um versículo. Diz-se que esse arranjo alfabético tem o propósito de mostrar que "Israel pecou de álefe a tau", isto é, como diríamos, de A a Z, assim como em Sl 119 a implicação é que a lei deve merecer a atenção e o desejo totais do homem. No capítulo 5, entretanto, não são empregadas as letras do alfabeto em ordem sucessiva ainda que alguns eruditos afirmem que esse deve ter sido o caso, originalmente.
Os quatro primeiros poemas fazem uso do ritmo desigual, conhecido como canto fúnebre (qinah), isto é, Lm 3.2, e que também se encontra no livro de Jeremias.
O PROFETA EZEQUIEL
O povo de Israel estava exilado quando Ezequiel teve a visão do vale dos ossos secos. Os ossos representava a sua situação espiritual e política naquele momento, mortos e sem esperança. Essa historia não começou no exílio. Deus os alertou para os perigos do pecado quando fez o pacto com o povo. A obediência a Ele geraria vida, a desobediência levaria a morte. O povo preferiu desobedecer e se transformou no que Ezequiel viu.
O contexto histórico do livro de Ezequiel é a Babilônia durante os primeiros anos do exílio babilônico. Nabucodonosor destruiu Jerusalém, incendiou o templo e saqueou a riqueza que ali havia, levando cativos os judeus de Jerusalém para a Babilônia em três etapas:
Em 605 a.C., jovens judeus escolhidos foram deportados para Babilônia, entre eles Daniel e seus três amigos;
Em 597 a.C., 10.000 cativos foram levados à Babilônia, estando Ezequiel entre eles;
Em 586 a.C. as forças de Nabucodonosor destruíram totalmente a cidade e o templo, e a maioria dos sobreviventes foi transportada à Babilônia.
O ministério profético de Ezequiel ocorreu durante a hora mais tenebrosa da história do AT: os sete anos que precederam a destruição, em 586 a.C. (593-586 a.C.), e os quinze anos seguintes (586-571 a.C.).
É relatado a atividade do profeta Ezequiel durante o exílio na Babilônia, que dirige suas mensagens a seus compatriotas cativos e também ao povo hebreu que ainda reside na Palestina. Ambos os grupos permaneceram obstinados e impenitentes, mesmo depois da captura de Jerusalém levada a cabo pelo rei babilônio Nabucodonosor, e do exílio de Joaquim, rei de Judá, que levou para Babilônia as pessoas preeminentes do país e os tesouros da casa de Deus e da casa do rei.
Entre os cativos se achavam a família do rei e os príncipes; os valentes, poderosos; os artífices e construtores; uma considerável parte da população e Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, no ano de 597 a.C. Pesarosos, estes israelitas exilados haviam completado a sua cansativa jornada, de uma terra de colinas, fontes e vales para uma de vastas planícies. Moravam então junto ao rio Quebar, no meio dum poderoso império, cercados de um povo de costumes estranhos e de adoração pagã.
Portanto, Deus atribuiu a Ezequiel a tarefa de denunciar a casa rebelde de Israel e predizer a destruição de Jerusalém e a deportação de um número ainda maior.
Seis anos depois de Ezequiel haver começado a pregar, suas palavras se cumpriram. No ano de 586 a.C., Nabucodonosor destruiu Jerusalém e levou cativos para a Babilônia quase todos os sobreviventes. Mas, a despeito da infidelidade de Israel, Deus mostrou-se misericordioso. Ezequiel recebeu instruções no sentido de proclamar as boas-novas de que o exílio terminaria e Israel recuperaria sua posição de instrumento da salvação de Deus para todos os homens.
Nabucodonosor permitiu que os israelitas tivessem as suas próprias casas, servos, e que praticassem o comércio. Se fossem diligentes, poderiam prosperar.
Durante esses anos críticos que culminaram na destruição de Jerusalém, Deus não privou a si nem aos israelitas dos serviços de um profeta. Jeremias atuava na própria Jerusalém, Daniel na corte de Babilônia e Ezequiel era o profeta para os exilados judeus em Babilônia. Ezequiel era tanto sacerdote como profeta, distinção que gozava também Jeremias e, mais tarde, Zacarias. Do começo ao fim de seu livro dirige-se mais de 90 vezes a ele como “filho do homem”, um ponto importante quando se estuda a sua profecia, porque, nas Escrituras Gregas, Jesus também é chamado de “Filho do homem” cerca de 80 vezes.
O livro foi composto principalmente na primeira pessoa e propõe ter sido escrito pelo profeta Ezequiel, que é identificado como um dos exilados judeus deportados em companhia do rei Joaquim, em 597 a.C. A narrativa é pontilhada por avanços progressivos de tempo, começando pelo quinto ano do cativeiro, 593 a.C. e continuando até a vigésimo quinto ano do cativeiro, quando foram escritos os capítulos 40-48 e segs., escritos no ano vigésimo sétimo do cativeiro, foram mais tarde inseridos pelo profeta.
Até tempos recentes a autenticidade deste livro era aceita em geral; porém, no século atual, ele tem provido oportunidade de muitos eruditos demonstrarem sua engenhosidade. Seus trabalhos, por outro lado, têm servido para apresentar claramente a natureza dos problemas exibidos por esse livro e têm capacitado seus sucessores a abordarem-no com mais inteligência.
Das duas principais dificuldades que aparecem no caminho da aceitação da autenticidade de Ezequiel, a primeira pode ser tratada de modo sumário. É afirmado que este profeta, como seus antecessores, foi pregador de condenação, e nada mais. Todos os profetas pré-exílicos se declararam contra a escatologia popular de seus dias e pronunciaram apenas julgamentos contra Israel. Como, é interrogado, poderia um profeta proclamar numa ocasião a vinda de julgamento contra os pecados, e na próxima falar de maravilhosas promessas a um povo pecaminoso? Alguns mantêm, além disso que a idéia de uma era abençoada se originou na Pérsia, pelo que todas as passagens que falam dessa era devem necessariamente datar de um período posterior ao exílio, quando os israelitas estiveram em contacto com aquela nação. Segundo esse ponto de vista uma considerável porção de Ezequiel tem que ser reputada como interpolação posterior.
É difícil de compreender por qual motivo os profetas não poderiam ter predito uma restauração após o julgamento; não se deve inferir que viam apenas o caos em vista de suas profecias de condenação, como também não se pode dizer que Jesus via apenas a ruína para o povo escolhido, quando predisse a destruição de Jerusalém.
Apesar de que o profeta vivia na Babilônia, dirigia-se constantemente aos judeus deixados em Jerusalém. Expedia profecias simbólicas para benefício deles, as quais não obstante, não podiam ver; conhecia perfeitamente a situação deles; descrevia acontecimentos que testemunhara suceder em Jerusalém e suas circunvizinhanças.
Que um homem que vivia na Babilônia pudesse testemunhar acontecimentos dessa ordem em lugar tão remoto como Jerusalém parece falta de bom senso para uma época científica como a nossa; por conseguinte, alguns argumentam que deve ser procurada alguma outra solução.
Ou Ezequiel realmente vivia em Jerusalém, e não na Babilônia, e seu livro encorpora suas profecias genuínas com as de um redator posterior que se dizia viver como exilado; ou a situação inteira é fictícia e a obra é comparável aos escritos apocalípticos pseudônimos do judaísmo posterior, e pertenceria, em realidade, à época de Alexandre. Se essa controvérsia não tiver servido para outro propósito, portanto, do que de destacar o caráter verdadeiramente extraordinário de Ezequiel, mesmo assim não terá sido vã.
Ezequiel, pois, ministrou para sua nação, tanto para aquela porção que estava no exílio como para aquela outra que permaneceu na pátria. Ele era contemporâneo mais jovem de Jeremias; e, a julgar pelos ecos do profeta mais idoso no livro de Ezequiel, aquele deve ter mantido considerável contacto com este.
Após a visão introdutória dos capítulos 1-3, Ezequiel se concentra quase exclusivamente em desnudar a iniqüidade de seu povo. Sem dó arrasta seus pecados para debaixo da luz e pronuncia contra eles o julgamento de Deus. A repetição da denúncia e da ameaça de condenação é tão constante a ponto de fazer o leitor recuar horrorizado. Nisso, como também em outros aspectos, Ezequiel mostra afinidades com o autor do livro de Apocalipse, pois ambas as obras exibem, como nenhum outro em seus respectivos Testamentos, o insaciável terror da ira de Deus.
A segunda seção (capítulos 25-32) limita-se aos oráculos dirigidos contra as nações circunvizinhas. Aqui a imaginação poética de Ezequiel sobe a seu clímax; são-nos dados alguns dos quadros falados mais vividos do Antigo Testamento em seus oráculos contra o príncipe de Tiro e o Faraó do Egito.
Pode-se sentir que, à semelhança de Jeremias, Ezequiel considerava Nabucodonosor como um servo do Senhor, e assim considerava suas ações como divinamente ordenadas; diferentemente de Jeremias, porém, Ezequiel não recebeu qualquer palavra subseqüente a respeito da Babilônia, e por isso deixou a questão nas mãos de Deus.
A conclusão do livro (40-48) é o produto de uma mente devota que por longo tempo e afetuosamente ponderou a respeito da adoração de Israel em sua vindoura era de bênção.
Ezequiel era ao mesmo tempo um sacerdote e um profeta. Nessa qualidade, ele combinava em si mesmo as duas grandes correntes da tradição de Israel. Numa terra purificada de toda impureza, é exibida a adoração ideal num templo ideal a ser observada por um povo ideal.
Ezequiel é bem inferior em elegância do que Jeremias. No que diz respeito à sublimidade, porém, Ezequiel não é sobrepujado nem mesmo por Isaías.
O PROFETA DANIEL
Na Bíblia hebraica o livro de Daniel se encontra na terceira divisão, os Hagiographa, e não na segunda, na qual aparecem os livros proféticos. A razão disso não é que Daniel tenha sido escrito depois dos livros proféticos. Em algumas listas, pode-se observar, Daniel é incluído na segunda divisão do "cânon". Entretanto, o motivo pelo qual Daniel veio a ser colocado na posição que atualmente ocupa depende da posição de seu escritor na economia do Antigo Testamento.
Os autores dos livros proféticos eram homens que ocupavam a posição técnica de profeta; isto é, eram homens especialmente levantados por Deus para servir de mediadores entre Deus e a nação, declarando ao povo as palavras idênticas que Deus lhes tinha revelado. Daniel, porém, não foi profeta nesse sentido restrito e técnico. Foi antes um estadista na corte de monarcas pagãos. Na qualidade de estadista, possuía realmente o dom profético, embora não tenha ocupado o ofício profético, e é nesse sentido, aparentemente, que o Novo Testamento o chama de profeta. Portanto, Daniel foi estadista, inspirado por Deus para escrever o livro que tem seu nome, pelo que também esse livro aparece no "cânon" do Antigo Testamento na terceira divisão, entre os escritos de outros homens inspirados que não ocuparam o ofício profético.
Deus depositou Sua afeição sobre Israel, escolhendo essa nação para ser Seu povo e Deus seu governante. Assim foi estabelecida a teocracia.
Israel, todavia, não foi fiel a esse alto propósito. Depois que já se achava por algum tempo na Terra Prometida, exibiu insatisfação com os princípios fundamentais da teocracia ao solicitar um rei humano, para que fosse semelhante às nações ao seu derredor.
Em primeiro lugar lhe foi dado um homem mau como rei, e então um homem segundo o próprio coração de Deus. Davi, entretanto, era homem de guerra, pelo que não foi senão durante o reinado pacífico de Salomão que o templo, o símbolo externo do reino de Deus, foi edificado. Após a morte de Salomão rebelaram-se as tribos do norte, renunciando às promessas da aliança. Dessa ocasião em diante, tanto nos reinos do norte como do sul, a iniqüidade passou a caracterizar o povo, pelo que Deus anunciou Sua intenção de destruí-los.
Os instrumentos que o Deus soberano empregou para realizar Seu propósito de fazer ponto final na teocracia foram os assírios e babilônios.
Sob o poder dessas nações o povo teocrático foi levado em cativeiro, e o exílio ou período de "Indignação" foi iniciado. O livro de Daniel, um produto do exílio, serve para mostrar que o próprio exílio não seria permanente.
Pelo contrário, a própria nação que havia conquistado Israel desapareceria da cena da história para ser substituída por outra e, de fato, por três outros grandes impérios humanos. Enquanto esses impérios estivessem em existência, entretanto, o Deus do céu erigiria outro reino que, diferentemente dos reinos humanos, seria ao mesmo tempo universal e eterno.
O propósito de Daniel, por conseguinte, é ensinar a verdade que, embora o povo de Deus esteja escravizado em uma nação pagã, o próprio Deus é seu soberano e aquele que em última análise dispõe dos destinos, tanto dos indivíduos como das nações.
Essa verdade é ensinada por meio de um rico uso de símbolos e comparações, e o motivo dessa característica se encontra no fato que as revelações feitas a Daniel tiveram a forma de visão. O livro de Daniel, pois, pode assim ser chamado de obra apocalíptica, mas se eleva muito acima dos apocalipses pós-canônicos. A única obra que pode com justiça ser-lhe comparada é o livro neo-testamentário do Apocalipse.
Essencialmente, Daniel exibe as qualidades de um livro verdadeiramente profético e suas comparações são usadas tendo em vista um propósito didático.
Pode-se notar que Daniel fala na primeira pessoa do singular e assevera que as revelações foram feitas a Ele. Visto, entretanto, que esse livro forma uma unidade, segue-se que o autor da segunda porção deve também ter composto a primeira.
O segundo capítulo, por exemplo, é preparatório para os capítulos 7 e 8, que desenvolvem seu conteúdo de modo mais completo e claramente o pressupõem.
As idéias do livro refletem um ponto de vista básico e essa unidade literária tem sido reconhecida por eruditos de diferentes escolas de pensamento. O livro de Daniel reflete ambientes babilônicos e persas, e as alegadas objeções históricas não são realmente válidas.
Na Igreja Cristã tem sido tradicionalmente mantido, devido às reivindicações do próprio livro, que o Daniel histórico foi seu autor. A primeira dúvida conhecida a ser lançada sobre esse ponto de vista veio da parte de Porfírio de Tiro 233 A.C., um vigoroso oponente do Cristianismo, que sustentava que essa obra era produto de um judeu que vivera no tempo dos macabeus. Durante os séculos XVIII e XIX, a opinião de Porfírio parece ter ocupado posição proeminente no mundo erudito.
Foi largamente mantido que o livro de Daniel fora escrito por um judeu desconhecido, que vivera no tempo de Antíoco Epifanes. Os motivos para tal opinião eram a notável exatidão pela qual aquele período é descrito em Daniel, as supostas inexatidões históricas no livro, e a alegada linguagem mais recente empregada na composição da profecia.
Algumas vezes, igualmente, podia-se verificar uma atitude de aversão para com o caráter sobrenatural do livro, o que evidentemente tinha levado certos homens a procurarem negar seu autêntico caráter profético. Recentemente, contudo, tem sido mais evidente a tendência de reconhecer a antigüidade de muito material básico em Daniel. Mas até hoje é mantido-erroneamente, segundo acreditamos-que o livro, em sua presente forma, vem desde o segundo século A.C., mas que muito de seu material, particularmente na primeira porção, é muito mais antigo.
Em primeiro lugar é alegado que o uso do termo "caldeu" deixa entrever uma era posterior ao século VI A. C. No livro de Daniel esse termo é empregado num sentido étnico para denotar uma raça e é igualmente usado de modo mais restrito para indicar uma classe particular, a saber, os sábios.
Segundo é alegado, porém, este último uso só teve origem muito depois do tempo de Daniel. Em resposta pode-se dizer que Heródoto (cerca de 440 A. C.,) fala dos caldeus como uma casta de tal modo que demonstra que assim deveria ser considerado já desde muito antes desse tempo.
Algumas vezes tem sido mantido que não há alusões extra-bíblicas referentes ao relato da loucura de Nabucodonosor, pelo que concluem que essa narrativa bíblica não é histórica. Não obstante, o historiador Eusébio cita, de Abidenus, uma descrição sobre os últimos dias de Nabucodonosor na qual a linguagem é tal que subentende que algo estranho havia ocorrido perto do fim da vida do rei. Existem algumas similaridades nesse relato com o que é exposto em Daniel. Em Berossus, igualmente (registrado na obra de Josefo, Contra Apionem, 1.20) há certo reflexo sobre o fato da loucura do rei. Deveria ser salientado, entretanto, que mesmo que não houvesse ecos extra-bíblicos sobre o fato do desvario de Nabucodonosor, por si mesmo isso não significaria que o relato bíblico não é histórico.
A objeção a ter sido Daniel autor do livro também tem sido apresentada baseada no fato que a linguagem aramaica, na qual uma porção do livro foi escrita, pertence a um período posterior ao de Daniel. Apesar de que nada existe no próprio aramaico do livro de Daniel para excluir a autoria de Daniel, parece muito provável que os caracteres aramaicos são aqueles chamados aramaico "Reich" ou "Reino"; isto é, o que foi introduzido no Império persa por Dario I.
É perfeitamente possível que o aramaico no qual o livro de Daniel se encontra escrito seja simplesmente uma modernização do aramaico no qual o livro foi originalmente composto. A questão da autoria do livro deve ser estabelecida sobre outras bases que não a da linguagem em que foi escrito.