Resumo de LIVROS POETICOS
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Curso de Graduação Livre – Bacharelado em Filosofía
Disciplina: LIVROS POÉTICOS
Aluno: 2019033796
Clément R.S.Danilo
RESUMO
CONCEITO GERAL
Os Salmos, Jó e os Provérbios, nas Bíblias hebraicas, formam um grupo à parte, com a denominação de Livros poéticos. No uso comum, cristão e moderno, porém, acrescentam-se-lhes também o Eclesiastes e Cântico dos Cânticos; e é freqüente entre os estudiosos gregos bem como entre os autores modernos, estender a todos o nome de Livros poéticos. E com razão; pois o Cântico dos Cânticos e Eclesiastes são escritos em versos como os Provérbios. Eclesiastes possui forma poética, embora menos rigorosa.
São também chamados livros didáticos ou sapienciais, por falarem muito de sabedoria; os salmos são na máxima parte de gênero lírico, sem, todavia, lhes faltar o elemento didático; o gênero do Cântico dos Cânticos é exclusivamente o lírico. De resto, lírico e didático são os dois gêneros de poesia cultivada pelos hebreus.
A poesia do Velho Testamento é a mais significativa contribuição do povo hebreu à literatura universal, tal e qual outro qualquer povo, sua literatura primitiva era poética. Não dispomos, no Velho Testamento, de um conjunto completo dos escritos poéticos israelitas; apenas alguns poemas de significação religiosa foram incluídos nos livros sagrados e nem todos estão no cânon.
A existência em hebraico -língua pobre de sinônimos -de treze palavras para indicar hino ou canto, sugere o largo cultivo da poesia no antigo Israel.
A efetividade da poesia hebraica é grandemente devida à sua liberdade de abstrações. Sempre apela aos sentimentos fundamentais. No intuito de expressar seu desespero, o Salmista designa as sensações que o caracterizam, com as expressões "minha garganta está seca", "meus olhos falham", "eu mergulho em profundas dificuldades e não encontro lugar firme". O terror da noite é expresso por Elifaz (Jó 4.12-17), com o tremor dos ossos, silêncio mortal e a visão de objetos indefinidos.
O Livro de Jó
As pessoas têm debatido longa e seriamente sobre o problema e o significado do sofrimento humano. O livro de Jó é o mais destacado de todos esses esforços registrados na literatura mundial.
O livro abre com um prólogo em prosa que descreve Jó como um homem rico e reto. Depois de uma série de calamidades, tudo que ele tem, incluindo seus filhos, lhe é tirado.
O pedido insistente de Jó -de que Deus apareça e dê significado ao seu sofrimento -é finalmente atendido. Ao ver a glória e o poder de Deus, Jó é desarmado e humilhado. Quando ele vê Deus em sua verdadeira luz, arrepende-se das suas palavras e atitudes petulantes.
O epílogo descreve de que maneira o arrependido e humilhado Jó é restaurado, duplicando a sua prosperidade anterior. Após a restauração dos amigos e da família, Jó viveu uma vida longa e feliz .
A opinião geral é que a narrativa básica do livro é uma história antiga de um homem real que sofreu imensamente. Um autor anônimo usou esse material para discutir o significado do sofrimento humano e o relacionamento de Deus com ele.
Acredita-se, de modo geral, que o epílogo não pertença ao argumento principal do livro. Jó passou a maior parte do tempo negando que a prosperidade material seja a recompensa da retidão. Portanto, parece uma incoerência ver o livro terminando com o Senhor dando a Jó "o dobro de tudo o que antes possuíra". Quem defende esse ponto de vista, acredita que a mão de um editor posterior tramou esse final para acomodar suas próprias convicções em relação às questões levantadas.
Quanto à sua autoria estudiosos do Antigo Testamento concordam entre si em que uma busca pelo autor desse livro está fadada ao fracasso. Em nenhuma parte do livro existe qualquer tipo de indicação quanto à identidade do homem que criou essa obra de arte literária. O livro não só se mantém calado em relação à sua origem, mas também não encontramos nenhuma sugestão bíblica independente em relação à sua autoria.
A época da composição desse livro permanece um problema tão complicado quanto o da autoria. Diversas datas foram sugeridas e elas variam desde o século XVIII até o século lII a.C.
A descoberta de um Targum de Jó nas cavernas de Qumrã prova que o livro já estava em circulação durante algum tempo antes do primeiro século a.C. A opinião majoritária é que o diálogo ocorreu no século VII a.C..
O livro denuncia, de maneira notável, a insuficiência dos horizontes humanos para uma compreensão adequada do problema do sofrimento. Todas as figuras do drama falam com o desconhecimento absoluto das alegações de Satanás contra a piedade de Jó, descritas no prólogo, e da conseqüente permissão divina -a permissão concedida a Satanás, de provar, se puder, a exatidão das suas acusações. Com o prólogo como pano de fundo, os sofrimentos de Jó aparecem, portanto, não como irrefutável prova de castigo divino, como pretendiam os amigos, mas como prova de confiança divina no seu caráter.
Mas o autor, que recomenda, sem dúvida, a humildade perante o sofrimento, jamais advoga o desespero. Ele crê num Deus que pode satisfazer a necessidade humana. O aparecimento dos homens que vêm aconselhar Jó conduz à controvérsia, à desilusão e ao desespero; a revelação de Deus promove a submissão, a fé e a coragem. A palavra do homem é impotente para penetrar a escuridão da mente de Jó; a palavra de Deus traz luz e luz eterna.
Jó é um dos livros sapienciais e poéticos do Antigo Testamento; “sapiencial”, porque trata profundamente de relevantes assuntos universais da humanidade; “poético”, porque a quase totalidade do livro está elaborada em estilo poético.
Todos os livros da Bíblia devem ser estudados como um todo, com suas partes vistas em relação ao propósito geral do autor. Isso merece atenção especial em Jó. Suas partes não devem ser arrancadas do todo, e suas ênfases principais não devem ser cristalizados em princípios rígidos nem calibrados em proposições estreitas.
A função de Satanás em Jó anuncia sua função no restante da Bíblia. Ele é uma criatura de Deus, mas um inimigo da vontade de Deus. Ele procura perturbar o povo de Deus física e espiri¬tualmente. Ele foi derrotado pela obediência de Cristo e desaparecerá da história no final.
A mensagem de Jó reformula o entendimento da doutrina da retribuição divina. O padrão geral de justa retribuição permanece operante: bons atos beneficiam, maus atos prejudicam. Esse princípio, porém, não é absoluto. Forças e poderes, celestiais e terrenos, interrompem a seqüência de causa e efeito. Alguns perversos podem prosperar e ter vida longa; alguns justos podem sofrer agonia crônica. Só o julgamento final de Deus trará justiça a todos.
Além disso, a história de Jó alerta contra a aplicação desse princípio a todas as situações. Desde que o justo pode sofrer e o perverso, prosperar, é perigoso rotular o sofredor de culpado de algum pecado secreto ou louvar o próspero, considerando-o justo.
O Livro dos Salmos
O livro de Salmos é o primeiro livro na terceira divisão da Bíblia hebraica.
O Saltério hebraico detém uma posição singular na literatura religiosa da humanidade. Ele tem sido o hinário de duas grandes religiões e tem expressado a vida espiritual mais profunda dessas religiões ao longo dos séculos. Esse Saltério tem ministrado a homens e mulheres de raças, línguas e culturas muito diferentes. Ele tem trazido conforto e inspiração aos aflitos e abatidos de coração em todas as épocas. Suas palavras podem se adaptar às necessidades das pessoas que não têm conhecimento algum acerca de sua forma original e pouca compreensão a respeito das condições sob as quais foi formado.
Sabe-se que os títulos atribuídos a cerca de cem Salmos são de data anterior à Septuaginta e merecem ser tratados com respeito por causa da antigüidade da sua origem. O hebraico pode significar "de", "para", "pertencendo a", isto é, "aparentado com".
Ao todo, cerca de dois terços dos salmos têm títulos, que geralmente vêm impressos na tradução portuguesa acima do primeiro versículo. Embora os títulos não tenham feito parte do texto original do salmo, são muito antigos. Os tradutores da Septuaginta encontraram esses títulos anexados aos salmos, mas tão obscuros que eram incapazes de entender o seu significado geral. A Septuaginta (abreviada, LXX) dos Salmos tornou-se de uso comum em torno de 150 a.C.
Existem muitas tentativas de classificação dos salmos, mas nenhuma delas é inteiramente satisfatória. Certo número de salmos contém materiais de mais de um tipo, tornando qualquer tentativa de classificação necessariamente experimental.
Merecem uma atenção especial os salmos denominados "imprecatórios" por causa das maldições que eles invocam sobre os ímpios em geral e sobre os inimigos do salmista em particular. Tem-se defendido amplamente que os salmos imprecatórios são anticristãos e impróprios de constarem na Bíblia Sagrada. Precisamos admitir prontamente que eles parecem não alcançar o padrão traçado por Jesus no Sermão do Monte.
No entanto, existem alguns pontos que deveríamos ter em mente ao lermos estes salmos.
Primeiro, eles nunca foram usados durante a adoração na sinagoga e nunca se tornaram parte do ritual judaico. A destruição dos ímpios tem sido entendida tradicionalmente pelos judeus como significando que Deus destruiria, não os pecadores, mas o pecado em si.
Em segundo lugar, embora a retaliação pessoal seja contrária ao espírito do Novo Testamento, a Bíblia deixa claro que todos os homens, em última análise, colhem as conseqüências das suas escolhas.
Em terceiro lugar, “é difícil distinguir gramaticalmente entre ‘Que isto aconteça’ e ‘Isto acontecerá’. Ou seja, não podemos ter certeza de que o salmista não tenha tido a intenção de que suas palavras amargas fossem predições do que acabaria acontecendo inevitavelmente com os ímpios”
Em quarto lugar, as palavras do salmista não refletem necessariamente qualquer rancor pessoal ou de crueldade.
Finalmente, os salmos imprecatórios expressam um forte senso da lei moral que governa o universo.
O padrão da crítica bíblica no passado tem sido datar os salmos em época muito posterior ao reinado de Davi. Alguns estudiosos têm defendido a idéia de datas pós exílio, e mesmo da época dos macabeus, para a maioria dos salmos.
No entanto, um exame do vocabulário desses salmos revela que virtualmente cada palavra, imagem e paralelismo são agora relatados nos textos cananeus da Idade do Bronze.
A grande diferença na linguagem e métrica entre o saltério canônico e o Hodayot de Qumrã torna impossível aceitar uma data do tempo dos macabeus para qualquer um dos salmos, posição essa que ainda é mantida por um número razoável de estudiosos. Uma data helenística também não é aceitável. O fato de os tradutores da LXX estarem perdidos diante de tantas palavras e frases arcaicas evidencia uma lacuna cronológica considerável entre eles e os salmistas originais.
Quando os filhos de Israel estabeleceram o culto de Jeová, na Palestina, fizeram-no no meio de um povo que possuía um considerável depósito de poesia religiosa. Isto é indicado pelas tábuas de Ras Shamra e está implícito nos cânticos de júbilo e de maldição entoados pelos Siquemitas no tempo de Abimeleque. É a este período que devemos atribuir a poesia israelita como o Cântico de Moisés e o Cântico de Débora. Estas poesias constituíram precedentes e ofereceram incentivos para os salmos mais recentes.
A base do Saltério parece ser constituída por uma coleção dos hinos davídicos. Davi esteve tradicionalmente associado com o culto organizado. É presumível que tenha havido mais do que um centro onde os hinos hebraicos foram colecionados, do mesmo modo que houve mais do que uma "escola de profetas". Durante os séculos em que estes grupos se fundiram, algumas repetições foram aceitas. Estas continham habitualmente variantes, em que aparecia a palavra Eloim para o nome de Deus, de hinos que se referiam a Deus como Jeová.
Pouco depois da constituição dos primeiros grupos davídicos vieram associar-se com eles duas coleções de Salmos levíticos, a de Coré (42-49) e a de Asafe (50, 73-83).
Outra questão sobre que há grande diferença de opiniões é até que ponto os Salmos se conservam ainda na sua composição pessoal original e até que ponto foram compostos para uso no culto público?
A associação íntima do Saltério e do Pentateuco e a leitura contínua da Torá fizeram, com o tempo, que certos Salmos se tornassem ligados a dias e ocasiões particulares. Alguns eram tradicionalmente considerados sabáticos, e cada dia da semana tinha o seu Salmo habitual.
Os Salmos representam um compêndio de fé veterotestamentária. Resumos de histórias, instruções sobre piedade, celebrações da criação, reconhecimento do julgamento divino, garantias de seu cuidado constante e consciência de sua soberania sobre todas as nações foram instalados no centro da fé israelita com o apoio do Saltério.
Acima de tudo, os salmos eram declarações de relacionamento entre o povo e seu Senhor. Pressupunham a aliança entre ambos e as implicações de provisão, proteção e preservação dessa aliança. Seus cânticos de adoração; confissões de pecado, protestos de inocência, queixas de sofrimento, pedidos de livramento, garantias de ser ouvido, petições antes das batalhas e ação de graças depois delas são, todos, expressões do relacionamento ímpar que tinham com o único Deus verdadeiro.
Temor e intimidade combinavam-se no entendimento que os israelitas tinham desse relacionamento. Eles temiam o poder e a glória de Deus, sua majestade e soberania. Ao mesmo tempo, protestavam diante dele, discutindo suas decisões e pedindo sua intervenção. Eles o reverenciavam como Senhor e o reconheciam como Pai.
Os salmos são de fato respostas dos sacerdotes e do povo diante dos atos de livramento e de revelação de Deus na história deles. São revelação e também resposta. Por meio deles aprende-se o que a salvação divina em sua variada plenitude significa para o povo de Deus, bem como o nível de adoração e a amplitude da obediência a que devem almejar. Não é de surpreender que Salmos, juntamente com Isaías, tenha sido o livro mais citado por Jesus e seus apóstolos. Os cristãos primitivos, como seus antepassados judeus, ouviram a palavra de Deus nesses hinos, queixas e instruções e fizeram deles o fundamento da vida e do culto.
O Livro de Provérbios
O livro de Provérbios é uma antologia inspirada de sabedoria hebraica. Esta sabedoria, no entanto, não é meramente intelectual ou secular. É principalmente a aplicação dos princípios da fé revelada às tarefas da vida diária. Nos Salmos temos o hinário dos hebreus; em Provérbios temos o seu manual para a justiça diária. Neste último encontramos orientações práticas e éticas para a religião pura e sem mácula.
O Israel antigo tinha três categorias de ministros: os sacerdotes, os profetas e os sábios. Estes últimos eram especialmente dotados de sabedoria e conselho divinos a respeito de princípios e práticas da vida.
O livro de Provérbios representa a sabedoria inspirada dos sábios. A palavra hebraica mashal, traduzida por “provérbio”, tem os sentidos de “oráculo”, “parábola”, ou “máxima sábia”. Por isso, há declarações longas no livro de Provérbios, mas há também as concisas, mas ricas de sentido e sabedoria, para se viver de modo prudente e justo.
O conteúdo de Provérbios representa uma forma de ensino comum no Oriente Próximo antigo, mas no caso deste livro, sua sabedoria é diferente porque veio da parte de Deus, com seus padrões justos para o povo do seu concerto.
O ensino mediante provérbios era popular naqueles antigos tempos, em virtude da sua grande clareza e facilidade de memorização e transmissão de geração em geração.
O título geral é "Provérbios de Salomão, filho de Davi". Em diversos pontos do livro, entretanto, ocorrem rubricas que denotam a autoria de diferentes seções. Assim, há seções atribuídas a Salomão em 10.1 e aos "sábios", em 22.17 e 24.23. Em 25.1 existe uma interessante rubrica: "provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá"; o capítulo 30 é introduzido como: "palavras de Agur, filho de Jaque"; e o capítulo 31 com os seguintes termos: "palavras do rei Lemuel", ou melhor, de sua mãe.
A tradição hebraica atribuiu o livro de Provérbios a Salomão assim como atribuiu o de Salmos a Davi. Israel considerava o rei Salomão o seu sábio por excelência. E há justificativas suficientes para esse reconhecimento. O reinado de quarenta anos de Salomão em Israel foi realmente brilhante.
As nações do oriente antigo tinham os seus "sábios", cujas funções iam desde a política do estado até a educação, Jr 18.18 demonstra que, no tempo daquele profeta, os sábios estavam no mesmo nível com o profeta e com o sacerdote como órgão da revelação de Deus. Porém, assim como os verdadeiros profetas tiveram de entrar em luta com profetas e sacerdotes movidos por motivos indignos, semelhantemente, muitos dos "sábios" transigiram em sua função que era de declarar o "conselho de Jeová" .
Existem pelo menos duas coleções de "palavras dos sábios" no livro de Provérbios. É virtualmente impossível datar essas coleções. Provavelmente representam a sabedoria destilada de muitos indivíduos que temiam a Deus e viveram dentro de um considerável período de tempo.
Embora grande parte do livro de Provérbios tenha sua origem na época de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da obra não pode ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e cinqüenta anos após o seu reinado. Alguns estudiosos datam a edição final de Provérbios ainda mais tarde.
A literatura sapiencial do Antigo Testamento inclui o livro de Jó, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos, além de Provérbios. Não se pode negar que essa sabedoria hebréia teve seus antecedentes em culturas mais antigas e seus paralelos com nações vizinhas. Israel estava situado na "encruzilhada cultural do Crescente Fértil".
Mas a erudição bíblica conservadora rejeita a idéia de que os autores hebreus tenham dependido da literatura egípcia com base no fato de que há contrastes como também semelhanças e certamente grandes diferenças teológicas.
A sabedoria de Provérbios coloca Deus no centro da vida do homem. A sabedoria expressa por Salomão no Antigo Testamento, teria a sua revelação mais plena em Jesus Cristo nos dias da nova aliança.
Provérbios é o livro mais prático do Antigo Testamento, pois abrange uma ampla área de princípios básicos de relacionamentos e comportamentos corretos na vida cotidiana — princípios estes aplicáveis a todas as gerações e culturas.
Sua sabedoria prática, seus preceitos santos, e seus princípios básicos para a vida são expressos em declarações breves e convincentes, de fácil memorização e recordação pela juventude como diretrizes para a vida.
As exortações sapienciais de Provérbios são os precursores do Antigo Testamento às muitas exortações práticas das epístolas do Novo Testamento
O Livro de Eclesiastes
No versículo inicial de Eclesiastes, o autor se identifica como "pregador" (koheleth). A palavra vem de uma raiz que significa "reunir", e, assim, provavelmente indica alguém que reúne uma assembléia para ouvi-Io falar, portanto, um orador ou pregador. A Septuaginta usou o termo grego Ecclesiastes, que as traduções em inglês e português transpuseram como o nome do livro. O termo designa "um membro da ecclesia, a assembléia dos cidadãos na Grécia". Já no início da era cristã, ecclesia era o termo usado para se referir à Igreja.
A linguagem de 1.1 e a descrição do capítulo 2 parecem indicar que Koheleth era o rei Salomão. A autoria salomônica foi aceita tanto pela tradição judaica como pela tradição cristã até épocas relativamente recentes. Martinho Lutero parece ter sido o primeiro a negar isso, e provavelmente a maioria dos estudiosos da Bíblia concordaria com ele. Aqueles que rejeitam a Salomão como o autor normalmente datam o livro entre 400 e 200 a.C., alguns ainda mais tarde.
Eclesiastes não é um livro racional ou organizado de maneira lógica. É como um diário no qual um homem registrou suas impressões de tempos em tempos. Muitas vezes ele prefere expressar sentimentos do momento e reações emocionais a apresentar uma filosofia equilibrada sobre a vida.
O modo pelo qual o escritor arrumou seu material sugere que não houve a preocupação de dar qualquer seqüência ligada de pensamento a correr livro afora. O livro pode ser antes uma coleção de fragmentos ou anotações, à semelhança do Pensées, de Pascal, com a qual tem sido freqüentemente comparado.
A despeito de todas essas dificuldades e obscuridades, entretanto, o livro exerce um poderoso fascínio. Torna-se imediatamente evidente, para o leitor dotado de discernimento, que aqui temos uma penetrante observação e criticismo sobre a cena humana. A profundeza daquelas observações do escritor que podemos entender de pronto nos impele a sondar seus mais profundos discernimentos.
"Goze a vida agora conforme Deus a dá" é a conclusão positiva do Pregador. No final do livro, ele a reforça com uma série de quadros bem delineados. Seu ponto principal, destacado num conselho "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade" é sustentado por imagens da velhice e sua fragilidade, da morte e de um funeral.
Ainda que o Koheleth não indique interesse pela experiência israelita de aliança ou de redenção, é certo que ele tinha consciência da graça de Deus. Para ele, a graça se manifestava na provisão divina dos elementos bons da criação. Sua conclusão positiva ("Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho" está baseada na bondade de Deus: "No entanto, (...) isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrarse?" (2.24s.).
Embora o Koheleth não contenha nenhum material profético ou tipológico reconhecível, prepara o caminho para o evangelho cristão. Isso não significa que esse seja o propósito principal do livro ou sua função no cânon.
Contudo, seu valor cristão não deve ser ignorado. Seu realismo ao retratar as ironias do sofrimento e da morte ajuda a explicar a importância crucial da crucificação e da ressurreição de Jesus.
Segundo a tradição judaica, Salomão escreveu Cantares quando jovem; Provérbios, quando estava na meia-idade, e Eclesiastes, no final da vida. O efeito conjunto do declínio espiritual de Salomão, da sua idolatria e da sua vida extravagante, deixou-o por fim desiludido, com os prazeres desta vida e o materialismo, como caminho da felicidade.
Eclesiastes registra suas reflexões negativistas a respeito da futilidade de buscar felicidade nesta vida, à parte de Deus e da sua Palavra. Ele teve riquezas, poder, honrarias, fama e prazeres sensuais, em grande abundância, mas no fim, o resultado de tudo foi o vazio e a desilusão: “vaidade de vaidades! É tudo vaidade”.
Em certo sentido, Eclesiastes parece uma seleção de trechos do diário pessoal de um filósofo, nos seus últimos anos, com suas desilusões. Começa com uma declaração do tema predominante: a vida no seu todo é vaidade e aflição de espírito.
O tema de Eclesiastes, de que a vida, à parte de Deus, é vaidade e nulidade, prepara o caminho para a mensagem do Novo Testamento, a da graça: o contentamento, a salvação e a vida eterna, nós os obtemos como dádiva de Deus . De várias maneiras este livro preparou o caminho para a revelação do Novo Testamento, no sentido inverso. Suas freqüentes referências à futilidade da vida, e à certeza da morte, preparam o leitor para a resposta de Deus sobre a morte e o juízo, isto é a vida eterna por Jesus Cristo.
O Livro de Cantares
Salomão deve ter composto este livro no início do seu reinado, muito antes de sua execrável poligamia. Liturgicamente, Cantares de Salomão veio a ser um dos cinco rolos da terceira parte da Bíblia hebraica, os Hagiographa (“Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos era lido publicamente numa das festas anuais dos judeus.
Este livro foi inspirado pelo Espírito Santo e inserido nas Escrituras para ressaltar a origem divina da alegria e dignidade do amor humano no casamento.
O livro oferece um modelo correto entre dois extremos através da história: (a) o abandono do amor conjugal para a adoção da perversão sexual (isto é conjunção carnal de homossexuais ou de lésbicas) e prática heterossexual fora do casamento e uma abstinência sexual, tida (erroneamente) como o conceito cristão do sexo, que nega o valor positivo do amor físico e normal conjugal.
Os estudiosos não conseguem concordar acerca da origem, do significado e do propósito de Cântico dos Cânticos -Cantares. “As líricas eróticas, a ausência do tom religioso e a trama obscura os deixam desconcertados e lhes desafiam a capacidade imaginativa.
As mais antigas interpretações judaicas registradas (Mishná, Talmude e Targum) encontram nele um retrato de amor de Deus por Israel.
Ao contrário da opinião de alguns estudiosos, parece questionável que a interpretação alegórica entre os judeus tenha sido um fator importante para a inclusão de Cantares no cânon do Antigo Testamento. O cânon foi finalmente aprovado por volta do fim do primeiro século d.C., e as interpretações alegóricas que são conhecidas há mais tempo aparecem no Talmude (do século II ao século V). Orígenes e outros pais da igreja mantiveram a interpretação alegórica de Cantares.
Mas mesmo quando Cantares é interpretado de maneira literal, existe uma grande variedade de interpretações.
Para evitar a subjetividade da interpretação alegórica e honrar o sentido literal do poema, esse método destaca os principais temas do amor e da devoção, em vez dos detalhes da história.
Uns poucos estudiosos procuraram iluminar passagens obscuras do Antigo Testamento comparando-os com os costumes religiosos da Mesopotâmia, Egito ou Canaã. Um exemplo é a teoria de que Cântico dos Cânticos deriva de ritos litúrgicos do culto a Tamuz, deus babilônio da fertilidade.
A cultura ocidental moderna mostra que a religião pagã pode deixar um legado de terminologia sem influenciar crenças religiosas, mesmo assim, parece altamente questionável que os hebreus aceitassem a liturgia pagã, com gosto de idolatria e imoralidade, sem uma revisão completa de acordo com a fé característica de Israel. Cântico dos Cânticos não carrega marcas de uma revisão desse tipo.
De acordo com a maioria dos críticos e intérpretes modernos, existem três personagens: Salomão, a serva sulamita e seu amante pastor".
De acordo com a interpretação dos três personagens, a jovem mulher era a única filha entre vários irmãos que pertenciam a uma mãe viúva morando em Suném. Ela se apaixonou por um belo jovem pastor e eles então noivaram. Enquanto isso, em uma visita pela vizinhança, o rei Salomão foi atraído pela beleza e graça da jovem. Ela foi levada à força para a corte de Salomão ou simplesmente sob um impulso do momento que veio dela mesma em acordo com os servos do rei. Aqui o rei tentou cortejá-Ia, mas foi rejeitado. Por causa da urgência que sentia, Salomão tentou fasciná-Ia com sua pompa e esplendor. Mas todas as suas promessas de jóias, prestígio e a mais alta posição entre suas esposas não conquistaram o amor da jovem. De modo imperturbável ela declarou o seu amor pelo seu amado do campo. Finalmente, reconhecendo a profundidade e a natureza do seu amor, Salomão permitiu que a moça deixasse sua corte. Acompanhada pelo seu querido pastor, ela deixou a corte e retomou ao seu humilde lar no campo.
É o único livro na Bíblia que trata exclusivamente do amor especificamente conjugal; é uma obra-prima incomparável da literatura, repleta de linguagem imaginativa; discreta, mas realista; tomada principalmente do mundo da natureza. As várias metáforas e a linguagem descritiva retratam a emoção, poder e beleza do amor romântico e conjugal, que era puro e casto entre os judeus, o povo de Deus dos tempos bíblicos; é um dos poucos livros do Antigo Testamento de que não se faz referência no Novo Testamento; neste livro, consta apenas uma vez o nome de Deus, em Ct 8.6, mas a inspiração divina permeia o livro, principalmente nos seus símbolos e figuras.
Cantares de Salomão prenuncia um tema do Novo Testamento revelado ao escritor de Hebreus: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula”.