Resumo de O PECADO ORIGINAL
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Hamartiologia
O ensino bíblico a respeito do pecado apresenta nitidamente dupla face: a depravação abissal da humanidade e a sobrepujante glória de Deus. A sombra do pecado está sobre cada aspecto da existência humana. Fora de nós, o pecado é um inimigo que seduz; por dentro, compele-nos ao mal, como parte de nossa natureza caída. Nesta vida, o pecado é intimamente conhecido, ainda que permaneça estranho e misterioso. Promete a liberdade, mas escraviza, produzindo desejos que não podem ser satisfeitos. Quanto mais nos debatemos para escapar ao seu domínio, tanto mais inextricavelmente nos enlaça. Compreender o pecado nos ajuda no conhecimento de Deus, porém o pecado distorce até mesmo nosso conhecimento do próprio-eu. Mas se a luz da iluminação divina consegue penetrar essas trevas, e não somente as trevas mas também a própria luz, então poderão ser melhor analisadas.
O estudo da natureza divina deve considerar o controle providencial de Deus sobre um mundo amaldiçoado pelo pecado. O estudo do Universo deve descrevê-lo como tendo sido criado bom, mas que agora geme, ansiando pela redenção. O estudo da humanidade deve considerar a natureza humana, que se tornou grotescamente desumana e desnaturada. A doutrina de Cristo depara-se com a pergunta de como a natureza plenamente humana do Filho de Deus, nascido de uma virgem, pode ser totalmente impecável. O estudo da salvação deve declarar não somente para qual destino a humanidade é salva, mas também de qual destino foi resgatada. A doutrina do Espírito Santo deve considerar a convicção e a santificação, levando em conta a carne pecaminosa. A doutrina eclesiástica deve adaptar seu ministério a essa humanidade distorcida pelo pecado, dentro e fora da Igreja. O estudo dos tempos do fim precisa descrever, e também defender, o juízo divino contra os pecadores ao mesmo tempo em que aponta o fim do pecado. Finalmente, cabe à teologia praticar, evangelizar, aconselhar, educar, governar a Igreja, influir na sociedade e encorajar a santidade a despeito do pecado.
As Escrituras ensinam que o pecado de Adão afetou muito mais que a ele próprio (Rm 5.12-21; 1Co 15.21,22). Esta questão é chamada pecado original e postula três perguntas: até que ponto, por quais meios e em que base o pecado de Adão é transmitido ao restante da humanidade? Qualquer teoria do pecado original precisa responder as três perguntas e satisfazer os seguintes critérios bíblicos:
Solidariedade - Toda a humanidade, em algum sentido, está unida ou vinculada, como numa única entidade, a Adão (por causa dele, todas as pessoas estão fora da bem-aventurança do Éden; Rm 5.12-21; 1Co 15.21,22).
Corrupção - Por estar a natureza humana tão deteriorada pela Queda, pessoa alguma tem a capacidade de fazer o que é espiritualmente bom sem a ajuda graciosa de Deus. A esta condição chamamos corrupção total - ou depravação - da natureza. Não significa que as pessoas não possam fazer algum bem aparente, apenas que nada do que elas façam será suficiente para torná-las merecedoras da salvação.
Romanos 5.12 declara que “todos pecaram”. Romanos 5.18 diz que mediante um só pecado todos foram condenados, o que subentende que todos pecaram. Romanos 5.19 diz que mediante o pecado de um só homem todos foram feitos pecadores. Textos que falam da pecaminosidade universal não fazem exceções à infância. Crianças impecáveis seriam salvas sem Cristo, mas isto é (antibíblico Jo 14.6; At 4.12). Ser merecedor de castigo também indica o pecado.
Todas as pessoas, até mesmo as crianças pequenas, estão sujeitas ao castigo. “Filhos da ira” (Ef 2.3) é um semitismo que indica o castigo divino (cf. 2Pe 2.14). As imprecações bíblicas contra crianças (Sl 137.9) indicam esse fato. E Romanos 5.12 diz que a morte física (cf. 5.6-8,10,14,17) chega a todos porque todos têm pecado, aparentemente até as crianças.
Embora as crianças sejam consideradas pecadoras e, portanto, passíveis do inferno, isso não significa que serão realmente mandadas para lá. Várias doutrinas indicam diferentes mecanismos para a salvação de algumas ou de todas: a eleição condicional dentro do calvinismo; o batismo das crianças dentro do sacramentalismo; a fé pré-consciente; a presciência de Deus de como a criança teria vivido; a graciosidade específica de Deus para com as crianças; a aliança implícita com uma família crente (talvez incluindo a “lei do coração”, Rm 2.14,15), que toma o lugar da aliança com Adão; a graça proveniente (do latim, “que vem antes da” salvação) que oferece a expiação a todos que não têm idade para a prestação de contas. De qualquer maneira, podemos estar certos de que o “Juiz de toda a terra” faz tudo com justiça (Gn 18.25).
Romanos 5.12-21 e, em grau menor, 1 Coríntios 15.21,22 enfatizam um nítido paralelo entre Adão e Cristo. Romanos 5.19 é especialmente relevante: “Porque, como, pela desobediência de um só homem [Adão], muitos foram feitos [kathistêmi] pecadores, assim, pela obediência de um [Cristo] muitos serão feitos [kathistêmi] justos”.
Algumas pessoas claramente não pecaram da mesma maneira que Adão, mas cometeram outros pecados e morreram (Rm 5.14).
Em Romanos 5.12, Paulo declara repetidas vezes que o pecado de um só homem trouxe condenação e morte (ver também 1Co 15.21,22) a todas as pessoas.
É necessário reconhecer que Cristo possuía natureza humana completa, mas totalmente protegida do pecado.
A justiça de Deus, que permitiu ao pecado de Adão passar a outras pessoas, precisa ser preservada.
Como pode existir o mal, se Deus é onipotente e totalmente bom? Esta pergunta, juntamente com a questão correlata a respeito da origem do mal, é o fantasma que assombra todas as tentativas de se compreender o pecado. Antes de continuarmos este estudo, façamos uma distinção entre algumas formas do mal. O mal moral - ou pecado - é a iniqüidade cometida por criaturas dotadas de vontade. (O mal natural é a desordem e decadência do Universo) (calamidades naturais, algumas doenças etc.). Está ligado à maldição que Deus pronunciou contra a terra (Gn 3.17,18). O mal metafísico é aquele involuntário, resultante da finitude das criaturas (insuficiência mental e física etc.).
Deus não criou o mal, porém realmente criou tudo que existe. Assim, o mal não pode ter uma existência independente. O mal é a ausência ou a perversão do bem. Este fato pode ser ilustrado pelo sal de cozinha, que é um composto (ou mistura compacta) de duas matérias químicas: o sódio e o cloreto. Estes dois elementos, em separado, são altamente mortíferos. O sódio irrompe em chamas ao entrar em contato com a água, e o cloro é um veneno fatal. Assim como a alteração na composição do sal, a criação perfeita de Deus é mortífera quando o pecado lhe estraga o equilíbrio. Das quedas de Satanás e de Adão surge todo o mal. Por isso, o mal natural provém do mal moral. Todas as doenças provêm, em última análise, do mal, porém não necessariamente do pecado daquele que está enfermo ao (Jo 9.1-3), embora este possa ser o caso (Sl 107.17; Is 3.17; At 12.23). A grande ironia de Gênesis 1.3 é que tanto Deus quanto Satanás empregam a linguagem: Deus, num gesto criador, para trazer à existência a realidade e a ordem ex nihilo; e Satanás, de modo imitativo, para trazer engano e desordem. O mal depende do bem, e a obra de Satanás não passa de imitação.
Conforme indicam a totalidade deste capítulo e o estudo sobre Satanás, uma força maligna real e pessoal está operando no Universo, contra Deus e contra o seu povo. Esse fato sugere a importância crucial do exorcismo, da guerra espiritual e de coisas semelhantes, mas sem o histerismo pouco religioso que tão freqüentemente acompanha esses esforços.
O pecado luta contra o Espírito. A natureza pecaminosa está totalmente contrária ao Escrito e além do controle da pessoa (Gl 5.17; cf. Rm 7.7-25).
Nunca se deve confundir tentação com pecado. Jesus sofreu maiores tentações (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13; Hb 2.18; 4.15) e permaneceu sem pecado (2Co 5.21; Hb 4.15; 7.26-28; 1Pe 1.19; 2.22; 1Jo 3.5; e as provas da divindade). Além disso, se a tentação fosse pecado, Deus não providenciaria socorro para ajudar a suportá-la (1Co 10.13). Embora Deus realmente submeta a provas os que são seus (Gn 22.1-14; Jo 6.6) e obviamente permita a tentação (Gn 3), Ele mesmo não tenta (Tg 1.13).
O pecado, por sua própria natureza, é destrutivo.
A penalidade, ou castigo, é o resultado justo do pecado, infligido por uma autoridade aos pecadores e fundamentado na culpa destes. O castigo natural refere-se ao mal natural (indiretamente da parte de Deus) incorrido por atos pecaminosos (como a doença venérea provocada pelos pecados sexuais e a deterioração física e mental provocada pelo abuso de substâncias). O castigo positivo é infligido sobrenatural e diretamente por Deus. O pecador é fulminado, etc.
Os efeitos mais variados do pecado podem ser notados na mais complexa criação de Deus: a pessoa humana. Ironicamente, o pecado traz benefícios (segundo as aparências). O pecado pode até mesmo produzir uma alegria transitória (Sl 10.1-11; Hb 11.25,26). O pecado também produz pensamentos enganosos, segundo os quais o mal parece bem. Como conseqüência, as pessoas mentem e distorcem a verdade (Gn 4.9; Is 5.20; Mt 7.3-5), negando o pecado pessoal (Is 29.13) e até mesmo a Deus (Rm 1. 20; Tt 1.16). Em última análise, o engano do que parece ser bom revela-se como mau. A culpa, a insegurança, o tumulto, o medo do juízo e coisas semelhantes acompanham a iniqüidade (Sl 38.3,4; Is 57.20,21; Rm 2.8,9; 8.15; Hb 2.15; 10.27).
A única maneira de se lidar com o pecado é amando a Deus em primeiro lugar, e então passar a ser um canal para levar ao próximo o seu amor, mediante a graça divina. Somente o amor é capaz de opor-se ao pecado, que se opõe a tudo (Rm 13.10; 1Jo 4.7 -8). Somente o amor pode cobrir o pecado (Pv 10.12; 1Pe 4.8) e, em último lugar, ser o remédio contra ele (1Jo 4.10). E somente “Deus é amor” (1Jo 4.8). No que diz respeito ao pecado, o amor pode expressar-se de maneiras específicas.
A compreensão da natureza do pecado deve renovar a nossa sensibilidade diante das questões do meio ambiente e levar-nos a retomar a comissão original de cuidar do mundo de Deus, o qual não devemos deixar nas mãos daqueles que preferem adorar a criação ao invés de ao Criador.
Finalmente, a vida deve ser vivida na esperança certa de um futuro além do pecado e da morte (Ap 21 e 22). Então, purificados e regenerados, os crentes verão a face daquele que já não lembra mais do seu pecado (Jr 31.34; Hb 10.17).