Resumo de PENTATEUCO
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O significado da palavra arqueologia tem sua base nas duas palavras gregas que a formam: arkhaios (antigo) e logos (discurso). Arqueologia poderia portanto ser definida como a ciência da antigüidade. Ela tem como objetivo reconstruir civilizações antigas através da escavação e do estudo dos objetos provenientes dessas escavações.
Arqueologia Bíblica é um setor particular dentro da ciência da arqueologia. Esse setor estuda os elementos da Palestina e dos países próximos, que têm alguma referência aos tempos e aos escritos da Bíblia. O interesse científico recai sobre os restos de construções, monumentos artísticos, inscrições e outros objetos que contribuem à compreensão da história, da vida e dos hábitos dos hebreus e dos povos que entraram em contato com eles e tiveram influência sobre eles.
Os limites da arqueologia bíblica nascem do fato que a linha temporal que a Bíblia compreende é muito grande e do mesmo modo é vasto o território onde se desenvolveram as narrativas bíblicas. A conservação de restos também é muito precária. Raramente são encontrados objetos de madeira, de couro ou tecido.
Há algum tempo existia apenas uma busca desenfreada ao objeto, especialmente para encher os museus da Europa. Isso impedia que o objeto fosse estudado com detalhes no seu ambiente vital. Com o inglês William Flinders Patrie (1890-1942) cresce a preocupação pela conservação e estudo dos sítios arqueológicos. Ele desenvolveu um sistema de escavação usando o método chamado de estratigrafia. Esse método foi ulteriormente desenvolvido na exploração do tell (nome dado a pequena montanha que se criou graças a restos de uma cidade) em Jericó pela também inglesa, a arqueóloga Kathleen Kenyon. A preocupação era aquela de não destruir os vestígios e restos que estavam próximos à superfície na tentativa de cavar as camadas inferiores. Os arqueólogos queriam chegar a um certo nível de profundidade sem danificar as etapas anteriores. Desenvolveu-se então a técnica que consiste em fazer uma espécie de trincheira no terreno, um corte vertical da parte mais alta até o terreno virgem. Desta forma se preserva ainda o local e ao mesmo tempo vem explorado todos os estratos que testemunham a presença humana.
Os objetos encontrados são interpretados. Isso é feito sobretudo com uma análise comparativa com outras áreas arqueológicas ou utensílios semelhantes. Esse processo é chamado de tipologia.
A preocupação em identificar fatos da Bíblia com a realidade atual já se apresenta no próprio livro sagrado (cf. Js 8,28-29; 15,8-10), que sente a necessidade de clarificar topônimos obscuros. Hoje essa necessidade cresceu muito mais. O nome dos lugares mudam com o tempo, especialmente quando a língua do país muda de acordo com a classe governamental que domina o país. A maioria dos nomes semíticos sofreu mudança e foi dominado pelo grego e, em menor escala, pelo latim.
Eusébio de Cesaréia, primeiro historiados da Igreja, que faleceu em 339, nos deixou uma obra clássica, Onomasticon, que contém a lista alfabética das localidades mencionadas na Bíblia e ao lado o nome com o qual elas eram conhecidas no século IV. Essa obra foi traduzida para o latim por Jerônimo, um século depois, por causa de sua importância.
Outra fonte importante são os relatos dos peregrinos judeus e cristãos que visitaram, desde o Séc. II, a Terra Santa.
Napoleão fracassou na sua invasão militar do Egito e Palestina, mas a sua presença naquela área suscitou um interesse dos países de expressão que forneceram preciosos instrumentos para a arqueologia. Vários institutos nasceram com o objetivo de estudar a região e muitas cartas geográficas foram desenhadas. Com eles se pode ver que os topônimos locais árabes preservavam com frequência nomes antigos, embora pronunciados sob a influência árabe. Em base a estes mapas, Edward Robinson em 1841 publicou uma obra identificante centenas de locais bíblicos (Biblical Researches in Palestine, Mount Sinai, and Arabia Petraea). Por esse trabalho ele é chamado pai da arqueologia bíblica.
Graças à descoberta de textos trílingue se conseguiu também ajudar a decifrar as línguas do território bíblico. Primeiro de tudo os soldados de Napoleão encontram a Stella de Rosetta, em 1882. Trata-se dum documento que, encontrado em escrita ieroglifica egípcia, demótico e grego, ajudou a decifrar a escrita utilizada pelo povo egípcio. Do mesmo valor é a Inscrição de Behistun, escrito em acádico, medo e persa antigo, que ajudou a interpretar a escrita cuneiforme da Mesopotomia. Foram encontrados outros arquivos importantes no século passado: hititas, em Bogazkôy, na Turquia (1915); arquivos cananeus, em Ras Shamra, na costa da Síria (1929); arquivos de Mari, no Tell Hariri, em 1975.
Na Palestina porém se encontraram poucos restos escritos do tempo bíblico: inscrições ocasionais, óstracas (escritos em cerâmicas), selos e impressões em selos, inscrição de Mesha (1868) e a inscriçãode Siloé (1880). As duas últimas inscrições datam respectivamente do século VIII/VII a.C. Esses poucos materiais encontrados na Palestina, confrontados com a vasta documentação dos povos vizinhos conduzem à conclusão que os israelitas entraram relativamente tarde no cenário da história e da civilização antigas. Poder-se-ia dizer que inclusive eles, em seus dias, desempenharam um papel menor na historia e civilização.
Hoje existe uma sadia consciência entre exegetas e arqueólogos da mútua importância que têm. Ambos possuem interesses comuns e cada um dos campos de investigação é importante para o outro. Queremos destacar 4 pontos em que a arqueologia pode ser de grande ajuda para quem quer se aprofundar na Bíblia.
1. O estudo bíblico tem muito a ver com o exame dos manuscritos. Seguramente o avanço maior nesse campo foi a descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1947. Os arqueólogos determinaram que o material é do período romano e portanto tem muita importância para o estudo do texto sagrado.
2. O AT foi escrito em hebraico e muitas vezes certas expressões não são claras. Elas irão se decifrar na medida em que se estudam as outras línguas semíticas, os textos que nasceram no mesmo ambiente. As línguas antigas são portanto excelente instrumento para iluminar os significados incertos do texto hebraico.
3. A Bíblia é fruto de um contexto geográfico, cronológico e cultural particular. Entender esse ambiente é essencial para a compreensão mais profunda da Palavra de Deus. Essa é a contribuição mais importante que a arqueologia faz aos estudos bíblicos.
4. Com relação à história bíblica a arqueologia é menos útil. As opiniões nesse campo são sempre circunstanciais e às vezes parecem negativas. As excavações revelaram, por exemplo, que certos lugares presentes nos relatos da conquista, na verdade, não eram habitados no fim do segundo milênio a.C. De qualquer forma os resultados arqueológicos servem para questionar as convicções acerca da composição e natureza do texto bíblico.
Como já mencionei, antes do nascimento da arqueologia ninguém tinha realmente ideia de como era o mundo da Bíblia. As concepções eram puramente imaginárias.Como consequência, os comentários da Bíblia eram recebidos quase do mesmo modo que os contos mitológicos dos gregos e romanos. Não que as pessoas rejeitassem a Bíblia como verdade. Mas o mundo da Bíblia lhes parecia um planeta diferente, e seus personagens, uma população alienígena cuja aparência e maneira de viver assemelhavam-se mais ao universo dos sonhos que à realidade. Lembro-me de como fiquei chocado ao visitar pela primeira vez a Terra Santa. A concepção que eu tinha de um Jesus vestido de linho branco a passear sobre tapetes de grama viridente, tal como se via nos flanelógrafos, evaporou-se diante da realidade. As relíquias diante de mim, resgatadas nas escavações e o material exposto nos vários museus da Terra Santa mudaram muitas de minhas ideias preconcebidas. O mundo que eu construíra em minha imaginação ia se dissipando à medida que os fatos — que também diziam respeito à minha fé — me eram apresentados. E, passada a surpresa inicial, a arqueologia despertou- me para uma realidade: eu não tinha mais desculpas para justificar um comportamento diferente do apresentado pelos heróis da fé! Sim, porque eles também foram pessoas reais, vivendo num mundo real e conhecendo as mesmas preocupações e dúvidas com as quais eu me deparava. E, se a fé por eles manifestada desenvolvera-se num mundo real, então nada me escusava de ser diferente. E essa convicção tornou-se mais forte à medida que, ao logo dos anos e das sucessivas descobertas arqueológicas, os contornos do mundo bíblico real se faziam mais nítidos diante dos meus olhos. A arqueologia revelou as cidades, palácios, templos e casas dos que conviveram com os indivíduos cujos nomes aparecem nas Escrituras. Tais descobertas nos possibilitam declarar, como o apóstolo João: “O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida […] Estas coisas vos escrevemos” (1Jo 1.1,4). Coisas palpáveis podem assistir a fé em seu crescimento. A arqueologia traz à luz os remanescentes tangíveis da história, permitindo a criação de um contexto razoável para o desenvolvimento da fé. Permite também que fatos a sustentem — a confirmação da realidade dos personagens e eventos bíblicos. Assim, céticos e santos podem, do mesmo modo, perceber a mensagem espiritual arraigada à história. O arqueólogo Bryant Wood, diretor da Associates for Biblical Research (Associados para Pesquisa Bíblica), comenta o assunto ao discorrer sobre a descoberta do nome “Casa de Davi” numa coluna de Tel Dã (c f capítulo 9):
Sabemos que [Davi] é uma figura histórica porque ele é mencionado na Bíblia, mas isso não é suficiente para os eruditos. Eles precisam de evidência extrabíblica. Então a arqueologia bíblica pode desempenhar um importante papel, verificando a verdade das Escrituras em face da crítica que hoje recebemos da moderna erudição.
AS GRANDES DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS
O resultado prático de toda a pesquisa arqueológica realizada nas terras bíblicas pode ser medido por um grande número de descobertas e pela relevância de tais achados. Na verdade são centenas de referências importantes que poderiam ser relacionadas aqui. Dezenas de cidades e centenas de objetos arqueológicos foram desenterrados e estudados. Aqui apresentaremos as principais descobertas dos últimos cento duzentos anos bem como sua importância para o estudo das Escrituras.
1. As Cartas de Amarna. São 380 cartas em acadiano entre cananeus e egípcios. Falam sobre a Palestina do século XIV a.C.
2. Os Manuscritos do Mar Morto. São as cópias mais antigas do Antigo Testamento, mil anos mais antigas do que os disponíveis até então. São centenas de folhas de manuscritos, mas em todos eles estão bem preservados em relação ao Texto Massorético. São datados entre 200 a.C. a 100 d.C. e foram encontrados em 1947-48 em onze cavernas da região de Cunrã, no deserto da Judéia. Os manuscritos continham: 1) Cópias integrais ou parciais de todos os livros canônicos do Antigo Testamento (exceto Ester); 2) Comentários das Escrituras; 3) Material dos livros apócrifos e pseudepígrafes do período intertebíblico; 4) Manuscritos das regras e doutrinas da seita (a espera de dois messias, um secular e um religioso, e a esperança do juízo divino iminente sobre os ímpios; 5) Textos sobre outros assuntos, como o Rolo do Templo e o tesouro oculto descrito no Rolo de Cobre.
3. Outros Manuscritos do Antigo Testamento. Destacam-se o Códice Cairense (Geneza), descoberto em 1890, contendo muitos manuscritos de grande parte da Bíblia Hebraica, e o Papiro Nash, descoberto em 1902, contendo poucos versos de Êxodo e de Deuteronômio.
4. As Tábuas de Ebla. São 17000 tábuas em eblita que trazem luz sobre a vida patriarcal. São datadas de 2600-2300 a.C., e foram encontradas na Síria por arqueólogos italianos em 1976.
5. As cartas de Mári. São 20000 tábuas em acadiano, do séc. XVIII a.C. Descrevem costumes, informações detalhadas e nomes da época patriarcal. Foram encontradas em 1933 por Parrot.
6. O código de Hamurábi. Código de leis babilônicas que apresenta paralelos com a lei mosaica. É do séc. XVIII a.C.
7. A Pedra da Roseta. Encontrada por Champolion no Egito, foi a chave para decifrar o egípcio antigo.
8. Cultura e língua de Ugarite e as tábuas de Ras Shamra. São cerca de 1400 tábuas em ugarítico (língua próxima ao hebraico bíblico). Traz muita luz sobre a religião e a literatura cananita e a poesia hebraica.
9. O Rochedo de Behistun. Achado fundamental para decifrar a língua babilônica.
10. Cidades, cultura e língua acadianas. De grande valor histórico e lingüístico. Revela a antiga cultura semita ocidental da Mesopotâmia. O acadiano é parente do hebraico.
11. O calendário de Gezer. Calendário agrícola que traz o mais antigo registro do hebraico bíblico; as poucas linhas aparecem na escrita paleo-hebraica.
12. A Epopéia de Gilgamés. Texto acadiano que descreve um paralelo muito próximo do dilúvio bíblico.
13. Enuma Elish. Sete tábuas em acadiano que falam da Ascenção do deus Marduque. Texto paralelo aos relatos da criação de Gênesis.
14. O Prisma de Senaqueribe. Descreve o cerco assírio de Senaqueribe a Jerusalém em 701 a.C. É datado de 686 a.C. e confirma a história da resistência do rei Ezequias narrada na Bíblia.
A vasta gama de achados arqueológicos pertinentes ao mundo bíblico sem dúvida trouxe muita informação importante a respeito das narrativas sagradas do mundo judaico-cristão. Algumas conclusões são inequívocas e merecem destaque:
1. A arqueologia revelou que o Israel bíblico pertenceu ao mundo semítico, com o qual tinha muitas semelhanças lingüísticas e culturais. A compreensão desse universo permite um entendimento mais correto do Antigo Testamento.
2. A arqueologia comprovou em muito a historicidade bíblica. Dezenas de lugares e fatos anteriormente contestados por críticos céticos foram mais do que comprovados pela pesquisa arqueológica. Nas palavras do naturalista Werner Keller “A Bíblia tinha Razão”.
3. O estudo da arqueologia não resolve todas dificuldades bíblicas. Todo achado arqueológico exige interpretação. Além disso, há dificuldades ainda não resolvidas plena e satisfatoriamente como os casos de Jericó e da cidade de Ai.
4. Os achados arqueológicos desmontaram o historicismo, o liberalismo clássico e o anti-semitismo que influenciaram muito da literatura crítica do século XIX. Os paralelos entre a literatura babilônica e hitita dos séculos XVIII e XVII a.C. e o Pentateuco estão confirmados.
5. A arqueologia trouxe muita luz sobre a preservação da Bíblia. Centenas de manuscritos confirmaram que o texto bíblico foi mais preservado que qualquer outro documento antigo da humanidade. Os Manuscritos do Mar Morto são a maior prova disso.
A arqueologia de Hollywood é uma aventura sem fim. Os arqueólogos do cinema são em parte eruditos e em parte super-homens, capazes de saltar abismos flamejantes para resgatar fantásticos tesouros. Mas a arqueologia, em sua busca pelo passado, segue um caminho diverso.
Ela é metodológica e freqüentemente secular. Mesmo assim, ainda é uma aventura — quando nos transporta ao passado e nos desafia a mudarmos nossa perspectiva do presente. Nessa aventura, às vezes somos forçados a substituir opiniões particulares por fatos concretos da história e a encarar, quem sabe pela primeira vez, a realidade da Palavra. E, à luz dos incessantes reclamos dos críticos, a arqueologia nos contempla com respostas adequadas a esta era tecnologicamente abençoada mas teologicamente falida. É com um senso de aventura, então, que o convido a unir-se a mim numa viagem através do tempo — para escavar o solo, sondar as Escrituras e descobrir que coisas maravilhosas nos falam as pedras!
Extraído do livro: ARQUEOLOGIA Bíblica