Resumo de PROFETAS MENORES
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Curso de Graduação Livre – Bacharelado em Filosofía
Disciplina: ECLESIOLOGÍA
Aluno: 2019033796
Clément R.S.Danilo
RESUMO
CONCEITO GERAL
Do grego vem o termo igreja que se usa em vários contextos e com vários sentidos. Usaremos aqui como definição prática de igreja, “um agrupamento de crentes que vivenciam um relacionamento de dependência (fé) em Jesus Cristo, unindo-se para cumprirem a missão entregue por Deus”.
O texto bíblico no português usa o termo igreja, mas as conotações originais do termo muitas vezes estão perdidas na tradução. O conceito básico do termo hebraico qahal e também do grego ekklesia é de uma assembléia, tratados por muitos no sentido de “comunidade”.
Não existe no Antigo Testamento o que propriamente se chamaria de igreja, já que o conceito é do povo como um todo pertencendo a Deus como nação. Nesse contexto, emprega-se o termo hebraico edhah que designa o povo de Deus, seja reunido ou não. Na época do exílio, o termo qahal vem a ser empregado com esse mesmo uso também, mas nunca como uma instituição.
No caso do Novo Testamento, quando se trata da igreja em sentido universal ou mesmo local o termo usado é normalmente algo como “santos” ou “eleitos”, em lugar de “igreja” (ekklesía), aproveitando também expressões como “noiva” ou “povo de Deus” especialmente ao tratar da igreja em sentido universal.
Assim também o ensino bíblico referente à eclesiologia é expresso na Bíbila utilizando várias figuras que ajudam a transmitir o ensino, mas que não devem ser forçadas a obedecer uma interpretação de caráter rígido, por questão dos limites da linguagem figurada.
Em certos casos do estudo da disciplina, encontrar-se-á certas formas de organização ou estrutura na Bíblia que divergem da prática comum atual. Deve-se fazer em tais casos uma avaliação do propósito da forma, estrutura, cargo ou atividade descrita.
Em alguns casos, pode ser que os cargos e formas organizacionais usem de estratégias bem parecidas à forma original. Deve-se novamente olhar para a questão do propósito a cumprir. Uma forma ou estrutura pode capturar a essência de seu propósito como também pode ser um desvio do mesmo. Deve-se procurar definir a razão da prática para averiguar se a continuidade é o mais devido, pois é sempre possível que até uma estrutura aparentemente igual à do Novo Testamento perca sua eficácia se apenas for reassentada no contexto atual.
Em outros casos uma estrutura pode não ser prejudicial em si, mas pode tampouco estar contribuindo para o crescimento do reino de Deus.
CONCEITOS ESPECIAIS NA ECLESIOLOGIA:
Talvez o conceito mais importante a ser estudado é o conceito do “Reino de Deus”.
“O Reinar de Deus”:
A igreja autêntica existe como a concretização do reinar de Deus e não pode existir desvinculada deste reino. No Novo Testamento, o reino de Deus é principalmente o seu reinar nas vidas daqueles que se submetem à sua autoridade. Logo o termo “reino de Deus” pode ser definido como o Seu “governo em ação”, ou o “reinar de Deus”.
Segundo as declarações de Jesus, o Seu reinar já é “uma realidade na história humana”. Quando as multidões queriam fazer de Jesus o seu rei, Ele não aceitou tal proposta por ser um desvio completo do propósito maior do seu ministério. Perante Pilatos, negou de novo que seu reino fosse como os reinos deste mundo. O seu reinar era uma questão do interior.
De modo igual, a igreja deve espelhar o compromisso interno de cada indivíduo para aceitar a sua participação e integração no povo de Deus. Este compromisso é uma questão da aplicação do reino na vida do indivíduo. A igreja é por conseqüência o agrupamento ou reunião dos membros ou cidadãos do reino.
O reinar de Deus na vida humana cria a comunidade pertencente ao reino, o qual chamamos de igreja.
O Reinar não é apenas uma realidade que se aproxima no contexto do ministério terreno de Jesus, mas é também algo que é concretizado. É de interesse notar que Lucas nunca aplica o termo ekklesia no seu evangelho, mas emprega o termo em Atos. É na descrição do evento de pentecostes que Lucas aparentemente vê inaugurado o reino, agora empregando o vocábulo ekklesia em relação àqueles que aceitam o reinar de Deus em suas vidas através de Cristo.
Jesus pregava muito referente ao reinar de Deus. Em conseqüência, esse reinar é uma temática especial dos evangelhos sinópticos, porém principalmente do livro de Mateus, onde encontra-se a terceira parte das referências neotestamentárias ao Reinar de Deus/dos céus.
Deve-se ter sempre presente que o ensino de Jesus referente ao reinar de Deus vinha responder as preocupações messiânicas judaicas referente a um reino político terrestre.
O reinar de Deus já foi inaugurado. Já é hora de optar pela cidadania celestial. É uma cidadania a ser prestigiada e vivida já e para todo sempre.
“Missão”:
O reinar de Deus implica em deixar que Deus cumpra a Sua missão entre aqueles que pertencem ao reino. É a aceitação das responsabilidades da missão que introduzem o indivíduo ao reinar de Deus. Existe um duplo enfoque da missão em seu relacionamento com o reinar de Deus: a missão tem aspecto interior - a aplicação pessoal do ensino e da vida do reinar de Deus; e o seu aspecto exterior - o levar a mensagem do reinar de Deus aos demais.
O aspecto interior da missão da igreja visa a preparar os integrantes para a sua missão externa. Esta preparação é ativa, como se pode ver no modelo de Jesus, enviando os seus discípulos em mais de uma instância para cumprir com exigências da missão exterior.
A missão pode ser resumida em três aspectos especiais: “como martyria (testemunho), diakonia (serviço) e koinonia (comunhão)”. São estas as tarefas que servem de base para compreender e cumprir a missão da igreja.
Por “missão”, trata-se da raison d’etre da igreja, seu propósito no mundo. Missão é um termo de importância suprema para a eclesiologia. Como fora observado, “não é a igreja que tem uma missão, mas é o inverso: a missão de Cristo criou a igreja. Não é a missão da igreja que se deve entender, mas o inverso”. Mais do que deixar uma igreja, Jesus deixou uma tarefa a ser cumprida por seus discípulos. Esta missão gera estruturas para que ela possa ser levada adiante. Sem missão, a igreja não existe.
A missão da igreja inclui também aspectos do amadurecimento e discipulado do individuo e da igreja local como um corpo.
A missão da igreja deve ser estudada a sério, pois é o direcionador para cada aspecto da vida eclesiástica. As palavras de Jesus registradas em Mateus 28 e Atos 1 requerem que a igreja cumpra com a tarefa de discipular. Esta é a missão: ser testemunha de Cristo, discipulando todas as nações.
O testemunho e discipulado especificados abrangem todo o ensino de Jesus em toda expansão étnica e geográfica. A missão da igreja deve reger todo o esforço, direcionando toda a atividade e estrutura para que ajude a cumprir com o propósito da igreja.
NATUREZA DA IGREJA:
Há uma certa tensão a ser mantida aqui entre a igreja em sentido local e universal, pois a igreja local é a expressão corpórea da igreja única em uma localidade específica. É a expressão da igreja única onde quer que ela seja encontrada. A igreja local é expressão do todo - a igreja universal - e ao mesmo tempo uma expressão parcial.
A igreja é muito mais do que uma congregação local e é muito mais do que uma estrutura e instituição. Usa-se o retrato da igreja local como auxílio na visualização concreta do conceito, porém lembra-se a necessidade de olhar além dos aspectos institucionais, formais e estruturais. Toda a estrutura e organização elaborada pode ser benéfica, mas deve sempre ser associada ao propósito da igreja, missão que parte de sua verdadeira natureza. A Bíblia não estabelece um sistema organizacional para a igreja, nem contraria a sua elaboração. O que ela oferece é uma missão a ser cumprida.
O ideal de união para a igreja nunca chegará a completa satisfação na terra, em função de posições teológicas diferenciadas entre grupos componentes da Igreja. Estas diferenças surgem de início em decorrência da incapacidade humana de plena compreensão da Bíblia em sua íntegra e da debilidade humana em compreender plenamente a vontade do Deus infinito, revelado em Cristo Jesus.
Apressando para atingir o alvo de união, cabe à igreja local e aos indivíduos que a compõem definir até que ponto pode haver sua cooperação e envolvimento com outros de perspectivas divergentes. Dentro da igreja local, há algo da mesma necessidade, porém espera-se que os indivíduos de uma congregação poderiam mais facilmente cooperar entre si. A união esperada não é que todos sejam igualmente amigos íntimos, mas que todos tenham respeito cada um pelo outro e procurem atuar entre si em amor.
A união da igreja deve também ser vista no contexto do sacerdócio de todos os crentes. Como Lutero afirmava, não cabe distinção entre clero e leigo. Todo membro da igreja deve ser ensinado que tem uma responsabilidade sacerdotal em relação aos demais. Tal responsabilidade compreende o seu ministrar mesmo enquanto recebe a ministração de outros. Cada um deve interceder pelo outro e ensinar ao outro, até corrigindo quando for necessário. Não há razão convincente para limitar certas funções eclesiásticas a um clero oficial. A missão da igreja é de todos. A igreja pode convocar indivíduos para funções especiais, mas tal convocação não elimina a responsabilidade dos demais membros.
A mensagem missionária referida por Jesus já havia sido expressa na aliança sinaítica. Na aliança sinaítica, a proposta missionária era integral à identificação do povo como povo de Deus. Esta condição foi quebrada por Israel inúmeras vezes. A única ressalva para o povo continuar sob a aliança era a misericórdia de Deus, pois eles já haviam rompido a aliança desde o deserto, mesmo antes de entrar na terra prometida.
A aliança entre o povo e Deus é de certa forma frágil, pois dependia sempre da fidelidade do povo em obedecer ao pacto. “O termo aliança... significou sempre uma aliança de graça, um acordo em que Deus tomava a iniciativa e determinava as condições”. Era sempre pela graça divina que Deus iniciava a restauração da aliança rota pelo povo.
Grande parte da expectativa judaica referente ao Messias girava em torno de um reino político e geográfico. Jesus, no entanto, declarava claramente que o reino dele não era político. Ele pregava o reinar de Deus no interior do ser humano, enfatizando que mesmo o jugo romano sobre Israel do seu dia não era tema de interesse.
É comum tratar a adoração como parte do propósito ou missão da igreja. Existe um problema nessa designação, resultando de uma compreensão falha do termo adoração.
O termo grego latreia, quer dizer serviço, cujo conceito seria melhor traduzido por servir a Deus, do que por “adorar a Deus”.
Adoração, portanto, nos termos de servir a Deus é parte da missão da igreja. Adoração em sentido de prestar um culto a Deus não chega a ser parte integral da missão da igreja. Este tipo de adoração realmente tem mais vínculo com a necessidade humana de reverenciar a Deus e lembrar-se de Sua grandeza, do que por qualquer necessidade divina de receber o culto prestado.
ÊXODO 19 E 1a PEDRO 2:
Em Êxodo 19, encontra-se as orientações gerais de Deus antes de estabelecer a aliança com o povo no Monte Sinai.
No versículo 4, Deus começa a relatar como havia resgatado o povo da sua escravidão no Egito, mas segue com uma descrição do propósito dessa salvação. O povo foi resgatado não apenas de sua escravidão e das dificuldades que sofria, mas foi salvo para uma nova vida. O povo foi salvo para ser uma possessão especial de Deus dentre as nações ao seu redor, para cumprir com o propósito de espalhar a grandeza de Deus perante todas as nações.
Em 1a Pedro 2.9-10, o assunto da formação do povo é retomado, agora em termos de que Deus está formando um novo povo para si dentre todas as nações do mundo. Como aquele bando de escravos no Egito não era ainda um povo, também os cristãos no primeiro século ainda não o eram, mas haviam sido chamados a ser. Em conjunto com a nova identificação de povo de Deus, aos cristãos estava sendo dada a mesma comissão, ou seja, missão e propósito que fora dada no Monte Sinai: mediar a presença de Deus perante todos os povos da terra.
MATEUS 28:
Mateus 28.19 utiliza o verbo discipular no imperativo plural, o que equivale a um imperativo para o grupo inteiro de discípulos reunidos. O imperativo aqui não é de evangelizar, no sentido costumeiro, mas discipular a todas as nações.
Discipular as nações envolve uma transformação de vida para que nos voltemos àqueles que andam necessitados de um relacionamento de discípulo com Cristo. Teremos que entregar toda estrutura para que sua conformidade com a missão a cumprir seja analisada - a ordem de discipular as nações.
ESTRUTURA E GOVERNO DA IGREJA:
A igreja deve refletir o mais estritamente possível a perspectiva bíblica de sua natureza e propósito. Toda sua atividade, estrutura e organização deve partir de uma base bíblica sólida.
A igreja existe para dar continuidade ao ministério de Jesus. A estrutura da igreja, portanto, tem função e razão de ser apenas no espelhar essa realidade.
Vale ressaltar que a Bíblia não mantém a distinção atual entre o evangelizar e o discipular. A prática atual é de reservar a mensagem mais polêmica ou difícil para os adeptos, procurando suavizar a apresentação pública do evangelho. No ministério de Jesus, não se encontra nada dessa tal suavidade da mensagem.
A edificação dos crentes é a segunda etapa, por assim dizer, do processo de evangelizar ou discipular. Vale lembrar que Jesus investiu os três anos do seu ministério em doze discípulos.
A Bíblia não fornece norma para o governo e sistema de liderança da igreja. O que ela apresenta são várias formas organizacionais em uso no decorrer do desenvolvimento da igreja durante o primeiro século. A igreja passou por liderança direta dos apóstolos. Com a necessidade, acrescentou servos à liderança administrativa (diáconos) e encontrou necessidades em certos contextos da elaboração de concílios de anciãos e bispos na supervisão do andamento da igreja local.
Existem na atualidade, várias formas de governo eclesiástico, desde os grupos que negam uma estrutura visível, incluindo o sistema congregacional, episcopal e presbiteriano. As formas de organizar e estruturar a igreja não são tão importantes como a questão de suas utilidades para se cumprir a missão.
LIDERANÇA:
Paulo tinha a tática de começar seu trabalho com judeus, aparentemente para ter líderes já versados nas Escrituras e cumprindo com um estilo de vida já próximo ao ensino de Jesus, (já tinham um conceito arraigado de monoteísmo, moralidade, etc.);
Paulo reúne um corpo de líderes para atuar em conjunto consigo e para dar seguimento ao trabalho que ele começa. Daí ele coloca em prática um sistema de ministério compartilhado com a inclusão de vários pregadores e professores.
Paulo quebra com normas de liderança judaica, mas demonstra certo respeito às mesmas;
Quando Paulo abre espaço para que a mulher aprenda ele se distancia em muito das normas aceitáveis na sociedade, colocando-a no mesmo nível do homem em termos de responsabilidade;
Paulo aceita e recomenda mulheres para cargos visíveis na igreja
Jesus e Paulo elevaram em muito o status conferido à mulher em relação ao contexto social;
Em geral, as igrejas no Novo Testamento têm mais do que uma só pessoa exercendo funções de liderança formal;
Paulo escreve cartas a igrejas onde já não atua, tentando resolver problemas na igreja sem medir a força de suas colocações, mesmo havendo outros líderes no local aos quais ele pode chamar de “verdadeiros companheiros”;
Na Bíblia o termo “pastor” geralmente designa a função educadora na igreja, o termo “bispo” refere-se mais a funções supervisionais, o termo “diácono” refere-se a funções administrativas e o termo “profeta” refere-se mais ao ministério da pregação da Palavra de Deus no sentido da aplicabilidade da vontade divina ao contexto vivido;
Muito se pode extrair para tratar questões de capacitação e qualificação de líderes da igreja, mas um elemento essencial a ser lembrado é o da existência de múltiplos ministros exercendo funções ministeriais na igreja local, não um individuo atuando sozinho.
A prática de muitas igrejas, no entanto, é de forçar o seu pastor a cumprir primeiramente as tarefas administrativas e públicas, podendo estudar e preparar-se para o ensino somente no tempo que lhe sobrar. Esse modelo comumente aplicado na prática não é bíblico.
O testemunho bíblico também dá espaço para o exercício do ministério feminino. Mesmo que algumas passagens tenham aparência inicial de eliminar a opção de ministério de mulheres, muitas passagens não somente abrem oportunidade, mas refletem de maneira positiva a atuação de mulheres em posições ou cargos de liderança nas igrejas do Novo Testamento.
EFÉSIOS 4.11-16:
Nesta passagem de Efésios, encontra-se uma descrição breve da provisão de Deus para que a igreja cumpra com o seu mandato e a sua missão. Foram dados à igreja vários cargos para ajudá-la em seu crescimento, possibilitando-a a cumprir com a sua tarefa.
Também conforme Romanos 12 e 1a Coríntios 12, tanto os cargos em sentido de dons para a igreja como os dons espirituais têm função interna na igreja. Os encargos e os dons especificados são para a preparação da igreja para que ela cumpra a sua missão. Os apóstolos, evangelistas, profetas e pastores-mestres têm um papel específico de preparar o corpo inteiro para desempenhar a sua tarefa missionária.
Por tarefa missionária, não se pretende limitar a idéia de missões como sendo transcultural, mas enfatizar a questão de levar o evangelho para fora da igreja. É a igreja no mundo que cumpre com o seu papel de discipular as nações ao sair do seu local de reunião.
Em Atos 4.29-33, os discípulos se reuniram para se prontificarem a dar o seu testemunho perante todo o povo. Esta é a mesma idéia que se encontra em Efésios. A igreja se reúne para se prontificar a levar a mensagem de Cristo para o mundo ao seu redor.
INSTITUCIONALISMO ECLESIÁSTICO:
No livro de Gênesis, os patriarcas em geral parecem adorar a Deus de uma forma isenta de institucionalismo. Onde quer que estejam, eles constroem altares rústicos para oferecerem sacrifícios de forma aparentemente espontânea. De modo geral, não existe qualquer clero ou sacerdote oficiante para dirigir ou pronunciar a aceitabilidade de suas ofertas, orações ou posicionamentos.
O único caso que foge desse paradigma é o dízimo de Abraão a Melquisedeque. Tal evento é o mais próximo que temos a um padrão de culto institucional entre os patriarcas. Esse meio de adoração tem os seus momentos altos bem como os baixos nos exemplos de Isaque, Esaú e Jacó, porém Abraão é tido como o pai da fé pelos judeus em geral e por Jesus em específico.
No livro de Levítico todas as regras mínimas para a oficialização das ofertas e sacrifícios são colocadas de forma aberta perante a massa do povo. Não há qualquer informação oculta do povo e qualquer um poderia cumprir com os rituais e oficiar o seu próprio culto a Deus.
Até a construção do Templo de Salomão, qualquer lugar servia como lugar próprio para adorar a Deus e para a construção de altares de sacrifício.
Começa em 1a Reis 3, no início do reinado de Salomão, uma certa união da estrutura política com a religiosa a partir da centralização do culto no templo que Salomão pretendia construir. Neste período, o Templo toma o lugar dos altares particulares e centraliza o culto em padrões oficiais da instituição religiosa. No decorrer dos reinados, haverá uma crescente distância entre a forma oficial religiosa e o culto real a Deus. Os reis começam pouco a pouco a se desviarem de Deus, seguindo e estimulando culto aos ídolos de sua volta. O auge do desvio se vê na época do profeta Elias e do rei Acabe.
Nos dias de Elias, a estrutura religiosa e política oficial está longe de prestar atenção a Deus, enquanto restam pelo menos 7.000 homens fiéis a Deus. Elias encontra-se deprimido pela ausência de pureza e fidelidade a Deus nas estruturas oficiais, mas é alertado que Deus não se preocupa com as instituições humanas.
Eliseu, Jeremias e os profetas menores seguem a mesma temática, chamando o povo de volta a uma adoração real e sincera, muitas vezes despreocupados com as formas institucionalizadas do culto - a religião oficial do povo. No período de Eliseu, parece que nem existe uma forma organizada de culto a Deus. O rei está cercado de sacerdotes e profetas, mas todos parecem falsos, a não ser Eliseu.
Nos primeiros séculos depois de Cristo, o evangelho cresceu espantosamente no mundo greco-romano. Não havia rigidez de formas e estruturas específicas, mas havia vários tipos de formas organizacionais. Cada grupo de cristãos procurava o método mais apropriado para suas reuniões e a realização da missão que Deus havia entregue aos servos - “Discipulai as nações”.
Quando Constantino institucionalizou a igreja, oficializando o cristianismo como religião do Império Romano, houve uma mudança na preocupação com a expansão da igreja. Na verdade, as mudanças haviam principiado antes da oficialização do cristianismo, num movimento institucionalizante que estava já começando a reinar no mundo cristão. Com a oficialização, houve uma politização religiosa.
O grande perigo das instituições, organizações e estruturas do evangelho é de perder de foco a missão e prestigiar a própria estrutura mais do que a dependência de Deus.
Estruturas e programas não são o evangelho. Instituições e organizações não são o reinar de Deus. O problema é de confundir a expressão externa com a realidade interna. Quando tal acontece, a vida sob o reinar de Deus é transformada em ativismo e manutenção de estruturas religiosas da criação do ser humano. Começamos a transformar a imagem de Deus, servindo ao trabalho de nossas próprias mãos.
ORDENANÇAS DA IGREJA:
Ao tratar temas de ordenanças e sacramentos da igreja, é necessário primeiramente fazer distinção entre os dois termos:
Por sacramento, entende-se um ritual que transmite a graça salvífica de Deus, não apenas como ritual simbólico.
A ordenança, no entanto, não é salvífica.
Ainda tratando algo da distinção entre sacramento e ordenança, o sacramento depende mais do caráter e da autoridade do oficiante. Somente o sacerdote legítimo teria como oferecer o sacrifício aceitável, e apenas o sumo sacerdote poderia entrar no lugar santíssimo. Na questão da ordenança, no entanto, a especificação do oficiante se perde.
ROMANOS 6.1-11:
A passagem central da Bíblia para tratar da essência do batismo é Romanos 6.1-11. Por norma, lida se com a definição do termo grego (baptivzw) como sendo “imergir”, “submergir”, “mergulhar” ou mesmo “colocar de molho”. Vale lembrar que o termo pode também denotar aspectos de “lavar”, não sendo completamente necessário designar o termo no sentido estrito de um mergulho completo num fluido.
Na passagem de Romanos, o texto pode ser melhor traduzido e compreendido no sentido de “participar de” ou “ser unido a”, assim espelhando algo do caráter simbólico do ser envolto num fluido.
Paulo emprega aqui duas formas do termo batismo (baptivzw), não acrescentando um significado de união, mas traçando um elo com um significado já existente ao emprego do termo e da prática. O tratamento do significado como “mergulhar para dentro de” já está ligado com o conceito de união, mas a prática originária do batismo também.
O prosélito ao judaismo que se batizava estava por um lado rejeitando o seu passado, mas pelo outro lado unindo-se à sua nova vida de participação na aliança com Deus.
João, o Batista, pregava ao judeu sobre a necessidade de arrepender-se e vir a participar da aliança como se fosse um prosélito. Tal arrependimento incluía tanto a questão de lavar-se de sua dependência na sua genealogia, nos seus costumes e nas suas tradições, como também incluía a questão de inserir-se dentro da aliança de forma comprometida.
Por outro ângulo, deve-se fazer certa distinção entre o batismo como um ato religioso e a prática de sua utilização no contexto institucional de membresia na pessoa jurídica da igreja local. Parte da problemática enfrentada na questão do batismo visa a preocupação com o aspecto da igreja como pessoa jurídica.
É comum aproveitar o batismo como via de ingresso à membresia de uma igreja local, mesmo com vínculo à decisão de inclusão ou aceitação feita numa assembléia da igreja. Aproveitar o evento demonstrativo desta união com Cristo para designar ao mesmo tempo o ingresso na membresia da igreja local gera as suas dificuldades, mesmo que haja boa e sincera motivação nessa prática.
Ao tratar a questão, deve-se salientar que Paulo usa verbos no passado e também no tempo futuro ao retratar o batismo. A questão do espelho e união na morte de Jesus é tratada no tempo passado, enquanto a questão da ressurreição de Cristo é ainda futura. Poderia-se tratar o símbolo do batismo com o sentido de que ainda estamos sepultados com Cristo na expectativa de nossa ressurreição.
ÊXODO 12:
Esta passagem é a passagem básica para ajudar a entender o Pêssach hebraico, que é a celebração contendo o Seder, sobre o qual a ceia do Senhor foi estabelecida.
A celebração do Pêssach era uma festa essencial do povo judeu, pois retratava a salvação de Deus para o povo na saída do Egito. A festa devia ser celebrada para que o povo não esquecesse daquilo que Deus havia feito por eles.
O evento do Êxodo era o evento central da história de Deus com o povo. Desenvolvia o mesmo papel que a paixão, morte e ressurreição de Jesus tem para o cristão. O evento original da Páscoa, ou Pêssach , foi inaugurado em antecipação da libertação que Deus estava para lograr. Assim também, Jesus celebrou a festa com os seus discípulos em antecipação de sua morte e a libertação que estava por lograr em benefício deles.
Pêssach:
A celebração do Pêssach é demarcada como tendo o propósito principal de ensinar aos filhos a importância e o sentido do Êxodo. Para tanto, toda a estrutura da celebração do Pêssach foi elaborada para ajudar nesse ensino.
Na celebração de recordar o Êxodo, o povo se vê sendo pessoalmente remido do Egito. A ação de Deus em prol do bando de escravos era algo único na época. Para o povo era o início de sua existência como um povo.
Vale lembrar que o povo que saiu do Egito era ainda idólatra e politeísta. Ainda foi-lhes necessário caminhar no deserto para aprender que não havia outro deus no mesmo patamar que Deus.
Na noite da fuga do povo da terra do Egito, o povo comeu o primeiro Seder em expectativa do Pêssach. Jesus tomou dois dos elementos especiais da noite, transformando-os em novos memoriais.
Jesus entrega a matsá como representando o seu próprio corpo que seria partido como sacrifício da aliança. Ele toma também um cálice transformando o seu sentido para representar a sua própria vida derramada para selar a nova aliança com Deus.
Os discípulos, portanto, tomaram dos símbolos da antiga aliança alicerçada no Exodo do Egito e os revestiram do novo significado dado por Cristo. Os elementos que lembravam a aflição e a alegria resultante do Êxodo, passaram a lembrar o sofrimento de Cristo para nos trazer nova vida e alegria através de sua auto-entrega, selando para nós o novo pacto de Deus. Não mais lembravam apenas o Êxodo do Egito, mas o ingresso ao novo reino de Jesus, alcançado na cruz. Jesus é o nosso cordeiro, a nossa páscoa.
1ª CORÍNTIOS 11.17-34:
Em toda a carta, Paulo está respondendo a certas colocações e práticas da igreja em Corinto, dando um aval e orientando a igreja referente aos seus posicionamentos. O interesse de Paulo é de tratar a questão da unidade da igreja, ou seja, a falta de união existente, um segundo abuso no culto cristão em Corinto.
Nos versículos 18 e 19, Paulo levanta a questão de facções, ou partidos dentro da igreja. No versículo 20, o assunto das dissensões, rivalidades, ou facções é dirigido à prática de celebrar a ceia. Paulo explicitamente diz que o problema é de que estão se reunindo, mas com um propósito esquivado do devido. Enquanto deveriam estar se reunindo para celebrar a ceia de Cristo, o propósito de sua celebração havia sido abandonado.
É interessante notar que Paulo especificamente menciona como problemática a questão de que os coríntios não estavam esperando uns aos outros para que juntos participassem da celebração. Uns tinham pouco para comer, enquanto outros se enchiam de volumes glutônicos de comida, ignorando a necessidade dos seus irmãos e até humilhando-os.
Foi retratado em termos de “pobres, famintos encontrando ricos intoxicados, naquilo que deveria ser a ceia do Senhor”. Em tal contexto, Paulo responde, dizendo que seu reunir não tem nada a ver com celebrar a ceia de Cristo.
A ceia é um anúncio da morte de Cristo. É também muito mais do que isto quando se considera todo o seu contexto nos moldes do Pêssach que Jesus teria celebrado com os seus discípulos, sendo uma refeição completa da qual o uso do pão e do vinho são apenas ingredientes de uma ampla celebração. As colocações de Paulo aqui se limitam a responder a situação problemática dos crentes em Corinto.
No contexto das suas práticas, eles estavam condenando-se a si mesmos ao participar indignamente daquilo que denominavam ser a “ceia do Senhor”. Em lugar de estarem celebrando e afirmando a união em Cristo, a prática dos coríntios estava rompendo a comunhão ao esquecerem-se de mostrar amor cada um ao próximo.
Paulo incentiva o indivíduo a examinar o seu motivo de estar presente para assim participar da ceia de uma forma digna. “Examine-se pois e coma”.
Olhando para todo este contexto, pode-se facilmente ver que o propósito de Paulo não era para excluir qualquer pessoa da celebração da ceia. O seu propósito era de lembrar aos crentes a razão de sua celebração. A intenção maior de Paulo é de tratar a necessidade de união na igreja. A ceia era apenas mais um exemplo citado para tratar da questão das facções ou divisões que haviam surgido.
DISCIPLINA DA IGREJA:
É comum demais fazer muita ênfase em punir membros da igreja local em seguimento a tradições católicas de penitência e excomunhão. Essas práticas não tem muito apoio bíblico, pois o peso do ensino bíblico recai sobre a graça de reconciliação e o perdão incompreensível de Deus.
Paulo oferece críticas severas às igrejas, sendo as suas palavras a extensão completa da disciplina. Esta é a sua tática geral - adverter o indivíduo ou grupo que está em erro - nada mais.
MATEUS 18:
Nesta passagem, encontra-se o ensino bíblico mais claro e específico em termos gerais com respeito à disciplina na igreja.
No início do capítulo, Jesus trata da necessidade de fazer pouco da importância própria, colocando a vida em dependência para com Deus.
Neste contexto, Jesus começa ensinando sobre a seriedade do pecado, já que teve que responder às preocupações dos discípulos em defender as suas posições de importância no reino. Jesus coloca, portanto, que os judeus, como também os seus discípulos, estavam enfatizando detalhes insignificantes, servindo assim de tropeço para os demais.
Neste contexto, Jesus salienta a seriedade do tropeço e de levar o outro a tropeçar.
Jesus segue o ensino, definindo a necessidade do indivíduo tratar de restaurar a comunhão com o próximo. Se o irmão errar contra o discípulo, o discípulo deve procurá-lo para restaurar o relacionamento quebrado.
Um pouco inconformado com a necessidade de procurar tanto a reconciliação, mas indo além do ensino vigente na temática, Pedro levanta a questão de saber o número de vezes que deveria perdoar o irmão pela mesma ofensa. Quando cita o número sete, ele excede o ensino dos fariseus de seu dia, que diziam que perdoar a mesma ofensa três vezes era o suficiente. A resposta de Jesus é, no entanto, ainda mais significativa, já que contraria não apenas a definição da norma farisaica, mas a própria questão de haver um limite.
Alguns ainda questionam, “deve-se perdoar quando o ofensor não se houver arrependido?”. De forma alguma mede Jesus aqui o arrependimento do ofensor, mas sim a responsabilidade do discípulo em reconciliar o irmão.
É dentro desse contexto que Jesus enquadra o ensino referente à “disciplina” e ao perdão.
Pelo texto de Mateus 18, deve-se perdoar sem motivo qualquer. Perdoa-se por questão de graça - a graça de Deus.
Quando Jesus expressa suas colocações referentes à reconciliação, deve-se lembrar que esta questão tem a ver com desavenças entre irmãos, não em termos de afrontas a Deus. Nesses casos, em termos de disciplina eclesiástica deve-se ler em conjunto com este texto a passagem de 1a Coríntios 5.1-5, tendo sempre em mente o imperativo de buscar a reconciliação e a qualidade do perdão que Deus estende.
A regra desta passagem é de buscar a reconciliação entre irmãos, não de punir pecados. Ao faltar arrependimento, deve-se investigar o motivo disciplinar, tanto como os meios aplicados para ajudar o errante a desejar a reconciliação.