Resumo de RELIGIOES COMPARADAS
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Resumo da matéria Religiões comparadas
Religião comparada é o ramo do estudo das religiões dedicado à comparação sistemática entre as doutrinas e práticas religiosas. Em geral, o estudo comparativo da religião aborda uma compreensão mais profunda a respeito das preocupações filosóficas fundamentais, tal como a ética, a metafísica e a natureza e forma da salvação. Esse tipo de estudo propõe uma compreensão mais rica e sofisticada das crenças e práticas humanas em relação ao sagrado, espiritual e divino.
A matéria nos faz ver as diferenças dentro das diversas religiões.
A origem das religiões comparadas. A fenomenologia e o “homem religioso” universal. Religião como conceito e como prática. Limites e possibilidades da comparação A comparação entre religiões surgiu no século 19, situação em que, devido a uma evolução vertiginosa da ciência, o homem passou a ter mais interesse pelo universal. Foi uma época em que ocorreu uma expansão europeia na África e no Oriente, trazendo desses lugares pessoas e objetos destinados à exaltação do espírito europeu daquela época: a Vênus Hotentote, exposta ao público como inferior à Vênus da Europa ou os boleros de Ravel – que se tornaram mais conhecidos do que a música de Bali na qual foram inspirados. Foi nessa época também que ocorreu uma aproximação no campo da linguagem, como a tradução da Bhagavad Gita. O século 19 escapou do domínio religioso absoluto. Estudos antropológicos e a paixão pela erudição fizeram com que o outro deixasse de ser uma maravilha e se tornasse objeto de estudo, caso em que até mesmo Dom Pedro 2º contratasse professores de árabe e hebraico. No entanto, a crítica surge no momento em que a taxonomia e as classificações são o primeiro gesto de domínio. Max Müller, por exemplo, tinha uma simpatia romântica pelos povos primitivos e, ao colocar a Bhagavad Gita e a Bíblia lado a lado, perdeu a cátedra na universidade por pressão dos religiosos. Os problemas, a princípio, rondaram o europocentrismo daquele século, mas ainda hoje dialogam com o racismo e o evolucionismo – que têm por pressuposto uma raça pura e originária -, o liberalismo – que populariza o ateísmo nos fazendo crer que o futuro está na ciência e que o progresso acabará com a religião – e a laicização, fazendo com que jovens abandonem a Igreja e que o mundo pense a partir da superioridade de algum povo. O maior problema da comparação entre religiões é cairmos na fenomenologia. Mircea Eliade, intelectual romeno, afirmou que o fato de as religiões serem universais e imemoriais, ou seja, pelo fato de não existirem povos naturalmente ateus e a religião ser anterior a todas as instituições, podemos considerar a espécie do Homo religiosus, uma universal significante que nos permite comparar todas as crenças. Novamente encontramos o problema de que não existe uma religião original, pura. A concepção de sagrado é diferente para diferentes religiões, apesar de existirem hábitos e localizações aparentemente semelhantes e com finalidades iguais. Stonehenge e o Muro das Lamentações são ambos locais sagrados dos antigos druidas celtas e dos judeus, respectivamente; Meca e Vaticano são destinos de peregrinações de muçulmanos e cristãos; Padres e pais de santo encarnam autoridades religiosas em seus respectivos cultos; porém, a ideia que cada pessoa tem de seu objeto de crença é diferente, além das relações entre as partes também o serem, o que exclui a possibilidade de um homem religioso universal, como propôs Eliade. A comparação deve ser cuidadosa e é imprescindível que os objetos dessa comparação tenham histórias comuns, como no caso do judaísmo e do islamismo, ambas as religiões advindas de Abraão. A comparação não pode ser universal e é a isso que a ciência tende. A comparação sempre fala mais do comparador do que do comparado, pressupondo que exista uma só verdade. Ela responde a um anseio nosso de didatismo, não de compreensão. Só entendemos quando adaptamos o outro ao nosso universo, entendendo o eu, não o outro. Os monoteísmos e a comparação: Deus, alma, textos sagrados, salvação e conversão no Judaísmo, Islamismo e Cristianismo Nos monoteísmos, Deus é único, onipotente, onipresente e onisciente; imaterial eterno e impessoal. O Judaísmo e o Islamismo diferem do Cristianismo no que diz respeito a Seus atos. Nas duas primeiras, o conceito básico é o de justiça, enquanto o Deus cristão é misericordioso – há controvérsias quanto ao termo; Deus dá misericórdia, portanto deveria se chamar “misericordiador” – e amoroso. O nome de Deus é impronunciável para os judeus, que o chamam de “Senhor” ou “O Todo Poderoso”, enquanto os islâmicos e cristãos o dizem sem tantas restrições. A questão do monoteísmo também é discutida, pois há quem diga que o monoteísmo cristão é imperfeito por ser constituído de três partes: Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto o islâmico e o judeu são perfeitos. A mesma crítica em relação aos locais sagrados: Meca e Muro das Lamentações para islâmicos e judeus, respectivamente, e, no Cristianismo, todas as Igrejas são locais sagrados. A conversão para o islamismo ocorre de maneira simples, aceitando Alá como o único Deus. No Cristianismo, ainda que exista certa facilidade, a pessoa tem de passar por uma série de ritos – os sacramentos. Já o judaísmo - assim como o Calvinismo, sendo essa a única exceção do Cristianismo – tem a noção de “povo eleito”. Na conversão ao judaísmo, o rabino recusa o interessado pelo menos sete vezes. No entanto as três religiões se unem no que diz respeito aos livros sagrados. Todas são povos de livros. O Corão é ensinado e muitas vezes decorado pelos islâmicos, que possuem o chamado Madraçal, escolas de ensinamento do Corão. A Torá, livro sagrado do Judaísmo, é geralmente protegida por uma cobertura e lida sem que se toque no livro – a leitura é acompanhada através da yad, um apontador segurado pelo leitor -, além de ser o principal instrumento do Bar Mitzvah, o ritual de maioridade dos judeus. Para os católicos, no entanto, a Bíblia é comumente usada como adorno e objeto litúrgico, nem tanto para leitura, como fazem os protestantes. No Cristianismo divergem três tipos de inspiração da escrita da Bíblia: os fundamentalistas crêem que o texto veio diretamente de Deus, os tradicionalistas acreditam que o texto foi inspirado por Deus e escrito através de alguém, enquanto os liberais dizem que o texto é uma composição variada com condicionamentos históricos. O conceito de alma é comum às três religiões, porém algumas questões como o aborto, por exemplo, é mais tolerado por islâmicos e judeus que acreditam que o feto ainda não possui alma, o que não acontece no Cristianismo. Em suma, as três religiões monoteístas são extremamente próximas, salvo algumas condições morais e teológicas. Analisá-las cientificamente através de métodos genealógicos – como a raiz ser Abraão -,através de relíquias e símbolos de adoração – faz com que se elimine seu conceito mais importante, a fé, contribuindo apenas para a didática e não para a compreensão. As religiões com matrizes diferentes e as comparações: Budismo e Cristianismo O budismo não acredita na existência de uma alma ou na origem do mundo a partir de um ser superior – Buda é um avatar de Vixnu, assim como foram Confúcio, Maomé, Moisés e Jesus. Dalai Lama afirmou que as religiões são iguais na medida em que pregam a fidelidade e a bondade, porém a ideia de Deus é o principal conflito; não creem que haja um início cognoscível ou um fim previsível. Os budistas não possuem um parâmetro que classifica o que é ou não pecado: tudo faz parte do caminho para nossa iluminação e onde não há pecado é o caminho mais curto. Parte dessa iluminação é a meditação, praticada pela maioria dos religiosos, porém com uma diferença essencial: monges cristãos ou judeus hassídicos unem-se com o divino e se tornam parte dele na meditação. Já o budista contempla o vazio e se desprende da ilusão das coisas, convencendo-se de que nada é permanente ou imanente. A reencarnação, por sua vez, é rejeitada principalmente pelo Cristianismo, porém fundamental no Budismo, tornando mais consoladora a ideia de que nosso julgamento não é último ou único. O incômodo na comparação surge com o vazio. Nosso vazio é sempre crítico, criando um problema de palavras em nossa cultura, que as preenche de significado e lhes cria um universo. Nós somos seres voltados à individualidade e isso é menos forte no Oriente – o que não significa que não haja egoísmo lá. Isso responde apenas em segundo plano à religião, estando em primeiro plano nossa carência e necessidade de termos um Deus que nos ame individualmente. As principais diferenças entre essas duas religiões são estruturais, mas os conceitos de Deus e alma são obstáculos para a comparação. Ainda que as respostas sejam diferentes, as perguntas sobre a diminuição do sofrimento e o caminho para a prosperidade são semelhantes. Os budistas dizem que devemos nos convencer de que tudo é uma ilusão, enquanto cristãos se dirigem a Deus. Em ambos os casos existem conceitos não materiais, racionais ou lógicos, como nirvana, céu, reencarnação, carma, alma etc. Um bom exemplo dessa filosofia budista é a mandala, representações do universo feitas geralmente com areia em diversas cores e que, quando terminada, é completamente desfeita. O objetivo é a confecção, não a conclusão, para nos ensinar a impermanência das coisas através da paciência. Mas ainda assim existem similaridades entre as duas religiões, ainda sobre um tema polêmico: a adoração de relíquias e locais sagrados. Existe no Budismo um templo feito no Sri Lanka que guarda um dente de Buda, local alvo de peregrinações. Ram Bahadur Bamjan, um jovem budista nepalense, é creditado pelo povo como a reencarnação de Buda. Para estabelecer diferenças ou aproximações entre religiões, é essencial que se seja religioso. Para o ateu, todas as crenças são iguais e irracionais, agindo pelo princípio da Navalha de Occam: “Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor”.Todo religioso reza para que seja feita algum tipo de elevação espiritual. Porém, há distinções retóricas entre rezar – o ato mântrico de recitar a oração – e orar – a verdadeira comunicação com o divino. Em suas várias funções ela exerce essa atividade, tendo inclusive influência da posição do corpo entre as religiões: cristãos ajoelham como sinal de humildade perante Deus; islâmicos se abaixam em sinal de submissão – inclusive significado da palavra islam; Judeus rezam em pé, para irem por inteiro de encontro a Deus. Pai Nosso, Shemá de Israel ou o Salat são compostos por partes praticamente iguais. Os sinais de exaltação da deidade e de submissão ante a ela – “santificado seja o Vosso nome”, “bendito sejam o nome e a glória do seu Reino por todo o sempre”, “louvado seja Deus, Senhor do universo, O Clemente, O Misericordioso” -, os pedidos de prosperidade e iluminação, além da proteção contra a tentação – “o pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação”, “guia-nos à senda reta, à senda dos que agraciastes, não à dos abominados e nem à dos extraviados”. Apesar de todas as diferenças, essencialmente todas as religiões exercem um papel social, psicológico, físico e afetivo graças à sua essência, aquilo a que a ciência sempre falha em retratar ao tentar explicar as religiões: a fé, conceito que não possui explicação e é o componente mais poderoso de todo o processo religioso.